Economia

Petróleo baixo já acende alerta para projetos como o pré-sal

Acostumadas à bonança de um tempo em que o petróleo custava mais de US$ 100, petrolíferas mundo afora — entre elas a Petrobras — estão vivendo um "choque de realidade" com a queda do preço do barril no mercado internacional.

A cotação do petróleo tipo Brent despencou para US$ 65 nas últimas semanas, depois de ter se mantido no patamar dos US$ 100 por quase três anos.

Algumas consultorias, como a Morgan Stanley e a Capital Economics, já começam a especular sobre a possibilidade de um petróleo estabilizado na casa dos US$ 40 — o que, segundo analistas, poderia mudar o mapa geopolítico da energia no mundo.

Para se ter uma ideia do potencial da mudança, US$ 45 é o valor mínimo que, nos cálculos da Petrobras, viabilizaria os investimentos no pré-sal.

"Mesmo antes do colapso dos preços, grandes petrolíferas e produtoras de gás natural já estavam preocupadas com a alta dos custos para desenvolver novas fontes de combustível", escreveu no jornal Washington Post Daniel Yergin, considerado uma das maiores autoridades no assunto.

"A queda do barril vai transformar essa preocupação em obsessão e o resultado será uma freada nos novos investimentos pelo globo."

Há dúvidas especialmente sobre a viabilidade de projetos para exploração de fontes de combustíveis fósseis não convencionais, em geral mais caras — como as reservas de petróleo arenoso (encontrado em Alberta, no Canadá) e as reservas em águas profundas (caso do pré-sal).

Para Thiago Biscuola, economista da RC Consultores, "com o barril perto disso (US$ 45), certamente já seria hora de rever a estratégia de investimento e financiamento da Petrobras".

Alívio e preocupação

No caso da petrolífera brasileira, o efeito da queda dos preços tende a ser diferente no curto e no médio prazo.

De imediato, como hoje o Brasil ainda é importador de petróleo e derivados, esse colapso dos preços pode ser considerado positivo, por reduzir o valor do combustível importado pela estatal — e, de quebra, aliviar a pressão sobre a balança comercial brasileira, como explicam Biscuola e Adriano Pires, do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura).

Além disso, no curto prazo, esse barateamento alivia o subsídio implícito bancado pela Petrobras que garantia preços no mercado doméstico inferiores que no mercado externo.

"Nos últimos quatro anos, a estatal vinha vendendo gasolina com preços defasados no mercado interno para aliviar a pressão sobre a inflação. Hoje os preços internos estão 30% mais caros que os internacionais no caso da gasolina e 25% no caso do diesel", diz Pires.

No médio e longo prazo, porém, os efeitos sobre os negócios da estatal tendem a ser negativos — levantando dúvidas inclusive sobre o principal projeto da companhia, o pré-sal. Isso complicaria a situação financeira de empresa, já bastante abalada pela operação Lava a Jato.

Na segunda-feira (15), por exemplo, as ações da Petrobras caíram para seu menor patamar em mais de dez anos, depois que a empresa adiou pela segunda vez a divulgação de seu balanço do terceiro trimestre em função do escândalo.

Em Macaé, cidade do norte do Estado do Rio que se tornou capital nacional do petróleo, há notícias do fechamento de centenas de postos de trabalho em função da paralisação provocada pelo escândalo de corrupção na empresa – e a situação pode se agravar se os preços do petróleo se estabilizarem em um patamar considerado baixo.

"A queda do petróleo pode ser a gota d'água para a crise da Petrobras", diz Pires.

"É bem possível que a estatal tenha de rever seus planos de investimentos diante dessa queda de preços e de sua nova realidade financeira."

Mauricio Canêdo Pinheiro, da FGV, explica que como o Brasil caminha para se tornar um exportador de petróleo de peso, se os preços de fato se estabilizarem na faixa dos US$ 65, a receita da Petrobras vai crescer menos do que se estava prevendo.

Há dúvidas particularmente sobre os investimentos no pré-sal, pois a exploração dessas reservas é tecnicamente mais complicada e cara.

"A Petrobras está bastante endividada e contava com os recursos que começariam a ser gerados pelo pré-sal para garantir investimentos nos novos projetos", diz Biscuola.

"Com a queda do barril será muito mais difícil conseguir novas fontes de financiamento ou atrair parceiros internacionais para suprir essa deficiência de recursos".

Reacomodação

Entre as razões para a queda dos preços do petróleo estão o aumento da produção de gás e petróleo de xisto nos EUA, no que ficou conhecido como "revolução do xisto".

Também contribui para achatar os preços a decisão tomada no mês passado pela Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) de não reduzir sua produção.

A decisão evidenciaria uma dupla estratégia, segundo analistas ouvidos pela BBC. Por um lado, seus membros visam a garantir sua fatia do mercado. Por outro, querem testar até onde vai a competitividade dos produtores de combustível não convencional — ou seja, até que faixa de preço eles conseguem continuar aumentando sua produção tendo em vista que seus custos são maiores.

O novo nível de preços do petróleo no mercado internacional já impulsiona mudanças no setor.

A gigante British Petroleum, por exemplo, recentemente anunciou que deve acelerar seu programa de demissão voluntária e centenas de prestadoras de serviço já estão repensando seus planos de negócios.

Analistas também preveem uma onda de fusões e aquisições entre empresas desta atividade.

Recentemente, as provedoras de serviços para campos de petróleo Halliburton e a Baker Hughes, por exemplo, confirmaram estar negociando uma fusão. E a petrolífera canadense Talisman Energy anunciou ter sido comprada pela espanhola Repsol por US$ 13 bilhões na última terça-feira.

"Há empresas que têm orçamentos menores e estão mais expostas (a uma queda dos preços)," diz Graham Sadler, diretor do Grupo de Serviços de Petróleo na consultoria Deloitte.

Espera-se que as petrolíferas tentem reduzir seus custos, dividindo plataformas de exploração e outras instalações. "Mas muitos projetos de fato terão de esperar", opina Sadler.

Uma estabilização dos preços em um patamar mais baixo também teria impacto sobre economias exportadoras do produto, como Rússia, Venezuela e México.

"A relação comercial do Brasil com alguns desses países também pode ser prejudicada", diz Biscuola.

"É de se esperar, por exemplo, que as exportações brasileiras de carne para a Rússia sejam prejudicadas pelo impacto que a baixa do petróleo vai provocar nesse país."

Fonte: R7

Redação

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