Rogério é um homem comum. Casado, com um bom emprego e uma amante de tirar o fôlego. Ao inventar para a mulher uma viagem a trabalho para São Paulo, ele, na verdade, vai passar a noite num motel no Rio mesmo. O rapaz só não contava com uma tremenda falta de sorte: o ônibus em que ele supostamente estaria viajando é sequestrado e se torna notícia no mundo. Este é o ponto de partida de “Refém”, nova websérie produzida pelo grupo Porta dos Fundos, que estreia no dia 8 de novembro no canal de humor na internet.
— Todo mundo já passou por uma situação de mentira na vida. Adorei filmar cenas de ação com humor, experimentando movimentações de câmera. Teve tomada área, fumaça no ônibus, corri da polícia. Tive meu dia de Tom Cruise — brinca Rafael Infante, intérprete de Rogério.
Depois de dois anos de sucesso com a produção de quase 300 vídeos no YouTube, o Porta dos Fundos vem investindo em novos formatos. Além da segunda websérie com cinco episódios (a primeira foi “Viral”), a produtora tem projetos de um longa para o ano que vem e uma série de animação para 2016. Sem contar a produção de vídeos inéditos para seu programa na Fox, que estreou há duas semanas com 26 episódios já consagrados na internet intercalados com esquetes de Gabriel Totoro.
— Nosso intuito é sempre experimentar. Muitas vezes nem sabemos no que vai dar. A websérie, por exemplo, pode acabar indo parar na TV — explica o diretor Ian SBF.
Acostumado com uma equipe de produção de apenas quatro pessoas no início do Porta, ele dirigiu 37 atores e 450 figurantes durante 12 dias de filmagens num set montado na Gamboa, Zona Portuária do Rio.
— Hoje em dia cresceu tanto, é tudo tão grande, tão profissional, que dá saudade de antes. Sou um cara que gosto das coisas mais caseiras, mais pequenininhas, mas não tem jeito, quando vai crescendo, você tem acompanhar. Não tínhamos como manter aquela estrutura do começo — avalia o diretor.
Na pele da amante Mirela, Letícia Lima, de 30 anos, conta que apesar da sua personagem ajudar Rogério durante a grande confusão desencadeada pela mentira, ela quer mesmo que “o circo pegue fogo”.
— Ela gosta do cara, se envolveu na situação. Mas não é boba, nem idiota, pelo contrário, é bem pé no chão. Tem um casinho com o policial vivido pelo João Vicente (de Castro) e o usa, eventualmente, em benefício próprio. Tem um quê de periguete, mas não é a clássica periguete — define a atriz, conhecida do público na internet por esquetes como “Pirataria” e “Cantada”.
Já Antonio Pedro Tabet, o Kibe, volta a dar vida ao policial Peçanha, sucesso em outros vídeos do canal de humor. Profissional experiente, mas cercado de uma equipe incompetente, ele irá acompanhar o caso e comandar a invasão do ônibus.
— Ele fica entre a cruz e a espada. Porque chefia uma equipe, mas também segue ordens de político, governador, como acontece no dia a dia da corporação. O Peçanha é comprometido com a polícia. Mas eventualmente escorrega na corrupção, nos vícios que fazem o clichê do policial carioca — resume Kibe.
Um dos sócios do Porta dos Fundos, ao lado de Fábio Porchat, Gregório Duvivier, Antonio Pedro Tabet e Ian SBF, João Vicente de Castro diz que a intenção do grupo é expandir sem ficar engessado no formato de pílulas. Ao comentar as críticas pela falta de ineditismo na aguardada estreia na televisão, ele afirma que “rolou um conflito de expectativas” por parte de algumas pessoas.
— A Fox comprou os direitos de passar essas pílulas na TV. É como você ver uma novela no Canal Viva e dizer: “Ah é tudo igual”. Mas é tudo igual mesmo. A gente vai lançar uma série inédita na Fox, mas só no ano que vem — justifica.
E como o Porta dos Fundos lida com a pressão por novidades e a cobrança pela manutenção do sucesso?
— Sempre deixamos claro que é preciso olhar muito para a bola e pouco para torcida. E é difícil, às vezes, porque a torcida envaidece. Uma vez a Sandy ganhou um prêmio e foi muito vaiada. Na ocasião, ela disse receber as vaias da mesma forma que os aplausos. Somos a Sandy do humor. Quem faz coisas surpreendentes está suscetível à crítica. As pessoas falam mal, querem derrubar, e nós temos que entender que nunca seremos unanimidade — opina João, que na série dá vida ao policial atrapalhado, que também tem um caso com Mirela.
Já Fábio Porchat fará uma participação como um apresentador de programa sensacionalista, no melhor estilo João Kléber. Além disso, assina o roteiro, inspirado no comentário de um internauta no Twitter.
— Quando o avião da Malaysia Airlines caiu, li uma pessoa comentando que se alguém tivesse dado a desculpa de estar indo para lá, agora estaria ferrado. Abrasileirando o comentário do Twitter, pensei: e se um marido infiel usasse uma viagem de trabalho como desculpa, e o ônibus desse um problema? Nada mais brasileiro do que o sequestro de um ônibus — comenta Fábio.
O Globo