Economia

Queda livre de preços ameaça setor da borracha em Mato Grosso

 
As seringueiras ocupam 8 hectares da sua propriedade, mas por enquanto apenas 1,5 mil pés em 3 ha são explorados. Com uma produção de 700 kg por mês, ele vende o coágulo retirado das árvores para uma empresa paulista que busca o produto em seu seringal. Em dois anos, os outros 5 ha entrarão em produção, totalizando 2,5 mil pés a serem explorados.Neste ano, a renda do produtor com a venda do látex coagulado foi de pouco mais de mil reais por mês. Nos meses da entressafra da cultura, em julho e agosto, a comercialização de melancia, milho verde, banana e palmito de pupunha produzidos na propriedade complementam a renda.
 
Esperava ganhar de R$ 2 a R$ 2,5 mil por mês com a produção para que agora não precisasse plantar outra coisa a não ser seringueiras, mas com os preços baixos não posso mais viver somente dela, diz.Se o preço pago pelo quilo do látex fosse R$ 3, ele calcula que seria possível ter uma renda mensal de R$ 6 mil, se todos os pés de seringueira estivessem em produção.
 
Reação do setor
As dificuldades enfrentadas pelos seringueiros fizeram com que buscassem soluções, como a criação da Associação Brasileira de Produtores e Beneficiadores de Borracha Natural (Abrabor). Por meio da Abrabor, os produtores procuraram o governo para fazer solicitações para que o setor ganhe fôlego e não desanime aqueles que já investiram na cultura, pois levam sete anos para uma seringueira estar em ponto de produção.As principais sugestões são a criação uma taxa de equalização sobre o produtor importado para garantir a manutenção de um preço mínimo a R$ 2,00 e o aumento da alíquota do imposto de importação (Tec Tarifa Externa Comum) de 4% para 35%.
 
De acordo com Ricardo Camargo, membro da Associação dos Heveicultores do Estado de Mato Grosso (Ahevea-MT) e produtor de seringueiras em Barra do Bugres-MT, as propostas feitas estão sendo analisadas em Brasília por ministérios como o da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; do Desenvolvimento Agrário; do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; da Fazenda e pela Casa Civil.Camargo defende que se essas medidas forem aprovadas, pelo menos resolverá o problema da renda dos seringueiros do país, enquanto a Abrabor cobra outras questões.Mas ainda não há uma resposta para as reivindicações, informa.
 
Em Mato Grosso, os produtores reativaram a Ahevea-MT. O presidente da associação, Israel Antunes Marques, informa que o país produz apenas 1/3 das cerca de 300 mil toneladas que consome, sendo o estado responsável por 8,9%.O volume coloca o estado em terceiro lugar no ranking dos 12 estados produtores de látex do país, ficando atrás apenas de São Paulo e Bahia. Os outros 2/3 consumidos no país são importados de países do sudeste asiático, que subsidiam a produção e vendem o produto para o mercado brasileiro a cerca de US$ 0,80, conforme explica o presidente.
 
Segundo Marques, o baixo preço pago pelas empresas que compram o látex é o principal entrave do setor atualmente. Na última colheita, que ocorreu em junho, pouco antes de começar a entressafra, seringueiros do município de Denise-MT venderam o quilo do produto por menos de dois reais.O preço começou a cair neste ano. Entre março e junho passou de R$ 2,60 para R$ 1,80 o quilo do látex, diz.Os associados da Ahevea também se reuniram no dia 13 de agosto com o secretário de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar (Sedraf), Luiz Carlos Alécio, que se comprometeu a procurar a Secretaria de Fazenda de Mato Grosso (Sefaz-MT).Vamos levar uma proposta para o governo para que o preço mínimo seja de R$ 2,00 a R$ 2,10 por quilo do coágulo de látex, informa.
 
Uma questão social
O produtor Ricardo Camargo lembra ainda que o preço é apenas o problema mais urgente.O que adianta falar de preço, se por trás disso tem um fundo social? Ele destaca que a seringueira é uma cultura perene, que exige colheita manual.Isso fixa o homem no campo, se eles forem para a cidade por falta de renda no campo, o governo terá muito mais gastos, afirma.De acordo com a Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), cerca de 20 mil famílias investem na cultura da seringa em Mato Grosso.
 
Para o produtor Almir Rogério Almeida, essa é uma realidade, pois o seringal é o responsável por mantê-lo no campo, já que investiu na cultura pensando em ter um rendimento à longo prazo.Há 30 anos, seu pai foi o primeiro a plantar as árvores no município, até que Almir conseguiu seu próprio sítio para implantar um seringal. Além disso, a colheita é feita por ele, sua esposa e mais dois funcionários ou parceiros, que ganham uma comissão que pode variar de 30% a 50% do lucro com a venda do coágulo.
 
G1

Redação

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