Nesta segunda-feira, a Sucocítrico Cutrale e o grupo Safra, também brasileiro, fizeram uma proposta de US$ 625 milhões (aproximadamente R$ 1,4 bilhão) para adquirir a americana Chiquita, líder global em produção de bananas.O negócio, apelidado de "guerra das bananas" pois abre uma disputa com outra empresa que já estava em processo de fusão com a Chiquita, foi destaque em publicações estrangeiras como o Financial Times e o Wall Street Journal.
A Cutrale é responsável pela venda de um em cada três copos de suco de laranja no mundo. Mas, nos últimos anos, o consumo do suco declinou, o que explica a tentativa da empresa de diversificar seus negócios, primeiro com a soja e, agora, com a banana.
Reservado
Figura reservada, Luís Cutrale não costuma dar entrevistas ou tirar fotos. A empresa, com sede em Araraquara, no interior de São Paulo, segue a mesma linha: é conhecida por ser pouco transparente e avessa a entrevistas.A Cutrale não informou dados sobre o faturamento ou sobre a história da empresa para esta reportagem. Também não quis enviar fotos. Nem mesmo o perfil de José Luís na revista Forbes, que lista milionários de todo o mundo, traz foto do empresário. De dados pessoais, apenas a formação em Administração e a idade, 68 anos.
A gigante da laranja tem uma gestão familiar e, exatamente por ser muito fechada, é cercada de mitos. Diversos jornais já disseram que, em Araraquara, a Cutrale construiu um condomínio cercado por um muro em formato de coração e com seguranças armados para os maiores executivos da empresa informação que a Cutrale não comentou.Uma pessoa próxima ao grupo disse que, apesar desta imagem de união extrema condizente com uma empresa familiar, os empresários passam a maior parte do tempo viajando a negócios. A Cutrale é gerida por José Luís e por seus dois filhos, descritos como pessoas simples e que valorizam sua privacidade.
"São pessoas normais, que querem andar na rua tranquilos. São muito workaholics e, apesar de ser uma empresa familiar, o nível de governança é muito sofisticado. Eles têm controle de tudo", disse a fonte à BBC Brasil.O império do suco de laranja começou a ser erguido pelo avô de José Luís Cutrale, um imigrante italiano que tinha uma banca de laranjas no Mercado Municipal de São Paulo.
O pai de José Luís, José Cutrale Júnior, é exemplo típico de empresário que, apesar da falta de estudos, conseguiu conquistar o mundo. Largou a escola e começou a trabalhar com o pai ainda adolescente. Nos anos 50, comprou a primeira fazenda do grupo e, em 1967, fundou a Cutrale.No livro Citrus, o professor e químico Pierre Laszlo afirma que Cutrale Júnior tirou vantagem de uma geada que destruiu laranjais na Flórida para crescer mundialmente. Ele se associou à Coca-Cola para a produção do suco Minute Maid e, quando os EUA adotaram medidas antidumping contra a Cutrale, transferiu parte da produção para lá.Cutrale Júnior morreu em 2004, deixando a empresa, já uma gigante, nas mãos do filho, José Luís.
Expansão
A expansão da empresa no Brasil e no exterior não ocorreu sem controvérsias. Nos Estados Unidos, a Cutrale foi alvo de queixas trabalhistas sobre salários e demissões. No Brasil, já sofreu condenações por supostos atos de discriminação e foi flagrada em condições irregulares de trabalho. À época, a empresa negou as suspeitas.No Brasil, a empresa manteve boas relações com diferentes governo. O nome da Cutrale costuma figurar entre os de doadores de verbas para campanhas eleitorais – em 2010, a empresa doou para os comitês de Dilma Rousseff, do PT, e de José Serra, do PSDB.
José Luís foi nomeado para integrar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), órgão consultivo que reunia governo e sociedade civil, no governo Luiz Inácio Lula da Silva.Em 2009, a Cutrale virou notícia quando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) destruiu plantações de laranja de uma de suas fazendas. O então presidente Lula chamou a ação de "vandalismo".
G1