No Instagram da grife, um post comemorava o feito de aparecer para mais de três bilhões de espectadores em todo o mundo. A jogada se mostrou um verdadeiro drible da vaca nas regras da Fifa em relação a marcas que não são patrocinadoras oficiais da Copa do Mundo. “A Fifa não pode fazer nada nesse caso, já que a marca não estava aparente. São apenas as cores do Brasil”, afirma Clarisse Setyon, coordenadora de marketing esportivo da ESPM. “Há muita criatividade quando se trata de furar o esquema da dona da Copa.”
A proibição da exposição de marcas que não tenham adquirido cotas de patrocínio do Mundial é um dos itens da Lei Geral da Copa, aprovada pelo governo brasileiro a pedido da Fifa. O chamado marketing de emboscada é penalizado com uma detenção de três meses a um ano ou multa, a critério da Fifa, que pode ser cobrada da proprietária da marca, do jogador ou até da confederação de futebol do país. Nesse caso, também está incluída a roupa íntima dos jogadores.
A Fifa está atenta a essa prática desde uma partida do time catalão de futebol Barcelona, pela Liga dos Campeões, em que o craque Neymar fez inúmeras exposições de uma cueca com a marca de sua patrocinadora pessoal, a brasileira Lupo. Mas no caso da Blue Man, como o nome da empresa não apareceu na foto, não há razões para a Fifa fazer qualquer tipo de punição, de acordo com especialistas em marketing esportivo. “A Blue Man deu um chapéu na Fifa”, afirma Davi Bertoncello, presidente da consultoria Hello Sports. Para a Blue Man, o feito teve resultados positivos não só em termos de imagem da marca, mas nas vendas.
A procura pela sunga usada por Neymar apresentou, segundo a empresa, um aumento de 25% em pleno inverno. Neymar, no entanto, não tem qualquer vínculo com a grife. A sunga chegou às suas mãos como um presente da diretora criativa da marca, Sharon Azulay, que também enviou exemplares para os demais 22 jogadores da Seleção. “A aparição de Neymar com a sunga foi 100% inesperada”, afirmou, em nota, a confecção carioca. Essa é uma tática já adotada antes pela Blue Man, que conseguiu ter celebridades como a cantora Lady Gaga, a apresentadora Sabrina Sato e a modelo sul-africana Candice Swanepoel vestindo suas peças ao oferecer-lhes alguns mimos.
Por seu turno, a Lupo, patrocinadora oficial do craque, afirma que não desaprovou a atitude e ainda tenta tirar proveito da situação. “Neymar Jr. foi contratado para divulgar as meias e cuecas da Lupo em nossas campanhas”, afirma a empresa, em nota. “E deu certo. Tanto que seja o que for que Neymar use debaixo do calção, o público sempre lembra da Lupo.” Mas não foram apenas Neymar e a Blue Man que deram uma finta desconcertante no cartola Joseph Blatter e companhia. No mesmo dia, no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, ao lado do príncipe Harry, um dos herdeiros da família real britânica, apareceu um representante do governo que também deu um jeitinho de burlar as regras.
Ninguém menos que o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, compareceu ao estádio, ao lado do príncipe, com uma jaqueta com o logotipo do Banco do Brasil, para evidente desgosto do Itaú, o banco oficial do evento. “É um contrassenso, pois ele é o ministro da pasta”, diz o presidente da Hello Sports. “Porém, mais uma vez não fere a Lei Geral.” Outras marcas livres-atiradoras também estão conseguindo se destacar, eclipsando em muitos momentos a patrocinadora oficial, como acontece com a Adidas.
A Nike calça pouco mais da metade dos jogadores em campo, com destaque para a chuteira dourada de Neymar. Já a Puma tem recebido atenção pelas camisas de corte diferente e alta tecnologia. “Os atletas conseguem gerar mais visibilidade do que as marcas patrocinadoras do evento”, afirma Clarisse Setyon, da ESPM. Um exemplo é a marca mais lembrada dos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, na Rússia, que ocorreu em fevereiro deste ano. No fim das contas, quem ficou na cabeça dos consumidores foi a Red Bull, que não patrocinou a Olimpíada, mas uma boa parte dos atletas que disputaram a competição.
IstoÉDinheiro