Ao contrário de muitas espécies que desapareceram sem deixar rastros, esse pássaro sobreviveu escondido por mais de um século
O mundo da ornitologia (estudo das aves) foi surpreendido em 2021 por uma notícia que parecia improvável: após 170 anos desaparecido, o tagarela-de-sobrancelha-negra (Malacocincla perspicillata), uma ave rara e considerada extinta, voltou a ser avistado em Bornéu, na Indonésia.
A redescoberta deixou pesquisadores chocados e reacendeu esperanças de que outras espécies possam viver escondidos nas florestas tropicais, desde que bem preservadas.
O tagarela-de-sobrancelha-negra foi descrito pela primeira em meados de 1850, a partir de um único espécime coletado no século XIX.
Por muito tempo, acreditava-se que ele tivesse fosse originário de Java, uma ilha entre Sumatra e Báli, mas na realidade ele vivia em Bornéu.
Esse erro inicial confundiu gerações de pesquisadores e dificultou a busca pela espécie. No entanto, mesmo após a localização ser corrigida, o pássaro ficou muito tempo sem dar as caras.
Com o passar das décadas, guias começaram a listar a ave como “possivelmente extinta”, mas tudo mudou em outubro de 2020.
Como encontraram o tagarela-de-sobrancelha-negra?
O tagarela-de-sobrancelha-negra foi encontrado por dois moradores locais, Suranto e Fauzan, que capturaram o pássaro durante uma expedições na província de Kalimantã Meridional, região indonésia de Bornéu.
Eles não sabiam que se tratava de uma ave rara, mesmo assim a fotografaram e enviaram para membros da BW Galeatus, uma associação recém-criada de observadores de pássaros.
À princípio, alguns especialistas pensaram que se tratava de outra espécie, o Malacocincla sepiaria. Só após uma análise detalhada descobriram que tratava-se do tagarela-de-sobrancelha-negra, visto pela última vez há quase dois séculos.
Registro do tagarela-de-sobrancelha-negra feito pelos moradores locais – Foto: M. Suranto/New York Times/ND
“Quando percebi o que estava diante de mim, não consegui acreditar. Andei de um lado para o outro tentando conter a emoção”, contou Panji Gusti Akbar, ornitólogo responsável por confirmar a identificação, ao New York Times.
As imagens rapidamente circularam entre especialistas da Ásia e de outras partes do mundo. Ding Li Yong, conservacionista da BirdLife International, chegou a desconfiar que fosse uma montagem.
“Foi como redescobrir o pombo-passageiro ou o periquito-da-carolina, só que em nossa própria região. É histórico”, disse.
Como é o tagarela-de-sobrancelha-negra?
Apesar de extremamente rata, a ave não chama atenção a primeira vista. Possui plumagem em tons discretos de cinza, preto e marrom, que facilmente se camufla na floresta.
Traço nos olhos é a característica mais marcante da ave – Foto: Reprodução/ND
Seu traço mais característico é o traço preto que começa nos olhos e sobe até a cabeça, que inspirou seu nome.
O que aconteceu com o tagarela-de-sobrancelha-negra capturado?
Após a confirmação científica, o exemplar capturado foi solto de volta à natureza. Para os pesquisadores, a sobrevivência do tagarela-de-sobrancelha-negra mostra que mesmo espécies consideradas perdidas podem resistir em pequenos refúgios de biodiversidade, desde que esses ambientes sejam preservados.
“Bornéu ainda guarda muitos segredos. Esse encontro reforça a necessidade de proteger as florestas tropicais”, disse Akbar.
A descoberta também trouxe novas oportunidades para a região. Grupos locais pretendem investir no turismo de observação de aves, treinando guias comunitários e atraindo visitantes de todo o mundo interessados em ver de perto a espécie “ressuscitada”.
Foto Capa: Reprodução/ND
Fonte: https://ndmais.com.br