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Dólar encerra abaixo R$ 5,40 pela 1ª vez em mais de 1 ano após CPI dos EUA

O dólar aprofundou o ritmo de queda no mercado local ao longo da tarde, em sintonia com o ambiente externo, e encerrou a sessão desta terça-feira, 12, abaixo da linha de R$ 5,40 pela primeira vez em mais de um ano.

O real apresentou o segundo melhor desempenho entre as divisas emergentes mais relevantes, atrás apenas do peso colombiano. O dia foi marcado por enfraquecimento global da moeda americana, após leitura comportada de inflação ao consumidor nos EUA em julho reforçar as apostas em início de um ciclo de corte de juros pelo Federal Reserve já em setembro.

No quadro doméstico, a alta de 0,26% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em julho, inferior ao piso de 0,28% de Projeções Broadcast, mostra que o aperto monetário surte efeito, o que reduz a percepção de risco sobre a economia brasileira.

A avaliação é que, mesmo com início de um processo de corte da taxa Selic pelo Banco Central em janeiro de 2026 – tese que ganha cada vez mais força no mercado -, o diferencial entre juros internos e externos seguirá elevado, dando sustentação ao real.

Com mínima de R$ 5,3862, o dólar à vista encerrou o dia em baixa de 1,01%, a R$ 5,3870 – menor valor de fechamento desde 14 de junho de 2024 (R$ 5,3821). Após subir 3,07% em julho, a moeda norte-americana já recua 3,82% em agosto. No ano, a desvalorização acumulada é de 12,83%.

“O dólar está indo para os R$ 5,33 que esperávamos no início de agosto, antes das tarifas dos EUA ao Brasil. O real é a única moeda não europeia entre as oito melhores do ano”, observa o diretor de pesquisa econômica do Banco Pine, Cristiano Oliveira, que prevê o câmbio entre R$ 5,30 e R$ 5,40 no fim do ano.

Oliveira vê a atratividade do carry trade como principal motor da continuidade da valorização da moeda brasileira, já que o País oferece taxa de juros real elevada em comparação a outros emergentes. “A queda do dólar tende a se acentuar nos próximos meses, embora numa intensidade menor”, afirma.

Termômetro do comportamento do dólar ante uma cesta de seis divisas fortes, o Dollar Index (DXY) rondava o limiar dos 98,000 pontos no fim da tarde, em queda de pouco mais de 0,40%, após mínima de 97,897 pontos. Em agosto, o DXY recua mais de 1,90%, o que leva a baixa em 2024 a mais de 9,50%.

“A curva de juros americana está apontando uma grande chance de corte de juros já na próxima reunião do Fed, o que faz o real se apreciar junto com outras moedas”, afirma o chefe da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt. “O prazo de mais 90 dias para negociação de tarifas entre EUA e China também ajuda os ativos de risco.”

Ferramenta de monitoramento do CME Group indica mais de 90% de chance de o Fed reduzir os juros em setembro e mais de 50% de probabilidade de um corte acumulado de 75 pontos-base na taxa básica americana até o fim do ano.

O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,2% em julho, em linha com o esperado. Na comparação anual, houve avanço de 2,7%, ligeiramente abaixo das expectativas (2,8%).

O núcleo do CPI – que exclui itens mais voláteis, como alimentos e energia – subiu 0,3%, também conforme o previsto. Na base anual, a alta foi de 3,1%, um pouco acima das estimativas (3,1%).

O Bradesco avalia que o CPI, além de ter vindo dentro do esperado, mostrou composição mais benigna, com métricas subjacentes positivas. “Para o Fed, o número mantém o status quo atual, com os membros mais ‘doves’ reforçando o coro para a retomada de cortes”, afirma o banco.

Ibovespa

Beneficiado pelo recuo da curva do DI na sessão, o Ibovespa buscou retomar a linha dos 138 mil pontos, sem conseguir sustentá-la no fechamento – ainda assim, no maior nível de encerramento desde 8 de julho, véspera do anúncio do tarifaço americano, então na casa de 139 mil. Em porcentual, o ganho de 1,69%, aos 137.913,68 pontos, foi o maior para o índice desde 13 de maio, há quase três meses, quando tinha avançado 1,76%.

Entre a mínima e a máxima, o índice oscilou nesta segunda-feira de 135.629,09 a 138.414,25 pontos, com o piso do dia correspondendo à abertura. O giro financeiro subiu para R$ 24,0 bilhões nesta terça-feira. Na semana, o Ibovespa avança 1,47% e, no mês, ganha 3,64%. No ano, sobe 14,66%.

Na agenda do dia, destaque para novas leituras sobre a inflação ao consumidor, referente a julho, nos Estados Unidos e no Brasil – e ambas as leituras vieram ao gosto dos investidores, confirmando a tendência de acomodação dos preços.

“Dados de inflação trouxeram hoje um pouco de alívio, tanto aqui como lá fora, o que resultou em queda acentuada nos contratos futuros de juros, beneficiando também a Bolsa e a perspectiva para os resultados das empresas listadas. Leituras de hoje foram muito importantes com relação à perspectiva para a taxa de juros, no Brasil e nos Estados Unidos”, diz João Soares, sócio-fundador da Rio Negro Investimentos.

Perspectiva favorável a um nível de juros menor, no Brasil, foi relativamente corroborada pelo IPCA de julho, divulgado nesta manhã. “A leitura do IPCA veio um pouco melhor do que as medianas de mercado. E a inflação se mostrou, também, menos espalhada no mês”, diz Patrícia Krause, economista-chefe da Coface para América Latina. “Mais uma vez, se tem leitura relativamente mais benigna sobre a inflação no Brasil, mostrando descompressão de preços. Mas não muda o cenário, apesar da melhora, na margem, nas expectativas de inflação – que ainda seguem elevadas”, acrescenta. “Selic deve ficar em 15% ao ano por algum tempo, com ciclo de cortes aguardado apenas para o primeiro trimestre de 2026.”

Já a leitura sobre o CPI americano mostra que o índice está convergindo para a meta do Federal Reserve, o que reforça a tendência de queda dos juros na maior economia do planeta, segundo Dan Siluk, gerente de portfólio na Janus Henderson.

“O relatório de julho veio amplamente em linha com as expectativas, reforçando a percepção de que a inflação está sob controle, mesmo que ainda não esteja exatamente na meta”, enfatiza o gestor, em nota. Segundo ele, conhecido o CPI de julho, a atenção se volta nesta semana para o relatório do PPI, a inflação ao produtor, na quinta-feira, e em seguida para Jackson Hole, na próxima semana. Do evento anual do BC americano, no Wyoming, Siluk diz que se espera “mais clareza sobre a evolução da função de reação do Fed”.

“A inflação em linha com o esperado nos Estados Unidos despertou a propensão a risco na sessão, em nível global, com a ideia de que os cortes de juros possam começar por lá entre setembro e outubro – reforçando, na verdade, a perspectiva para setembro”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus, destacando que o choque derivado do tarifaço dos EUA em relação a diversos parceiros comerciais não se materializou, até o momento, nos preços pagos pelos consumidores americanos.

“O relatório oficial sobre a inflação americana ainda não estabeleceu uma ligação direta entre as variações de preços e mudanças nas tarifas de importação ou exportação. Ainda assim, é plausível que alguns itens de bens – como vestuário, energia e combustíveis – apresentem maior sensibilidade a custos externos, enquanto pressões em serviços, como moradia e saúde, derivam mais de fatores domésticos, como demanda interna e custos de mão de obra”, observa Luis Ferreira, CIO da EFG Asset Management (Américas).

Entre os setores da B3, os ganhos do Ibovespa foram impulsionados pelas ações de empresas de primeira linha, que avançaram em bloco, em especial as do setor financeiro, tendo BTG Pactual à frente do segmento e do índice da B3 no fechamento, em alta de 13,12%. Sabesp também se destacou com ganho de dois dígitos na sessão: 10,61%. Os ganhos de dois dígitos, em um como em outro caso, decorreram de balanços trimestrais bem recebidos pelo mercado.

Vale ON subiu 1,05% e os ganhos em Petrobras foram moderados no fechamento, em mais um dia negativo para os preços do Brent e do WTI, o que colocou a ON a +0,52% e a PN a +0,26%, reduzindo o ímpeto do Ibovespa na reta de chegada. Entre os bancos, além de BTG, destaque também para Itaú PN, o principal papel do setor, em alta de 2,07%, assim como para Bradesco (ON +2,12%, PN +2,33%). Na ponta perdedora do Ibovespa na sessão, Natura (-7,98%), TIM (-2,43%) e Brava (-1,89%).

Juros

A segunda etapa do pregão desta terça-feira, 12, consolidou a tendência de alívio da curva a termo, em reação a dados de inflação interna abaixo do esperado, que aumentaram apostas de cortes de juros mais cedo. O principal indicador de preços dos Estados Unidos, também conhecido hoje, veio em linha com o previsto – mas, sem mostrar sinais mais fortes de impacto inflacionário das tarifas, não impede que o Federal Reserve (Fed) reduza os Fed Funds em setembro, na leitura do mercado. Assim, cenário doméstico e externo contribuíram com a queda das taxas futuras.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) de janeiro de 2027 ficou em 13,970%, de 14,077% no ajuste anterior. Desde o fim de maio, este vértice não operava abaixo de 14%. O DI para janeiro de 2028 cedeu de 13,311% no ajuste de ontem a 13,22% – menor nível deste ano, considerando fechamentos. O DI de janeiro de 2029 recuou de 13,191% no ajuste para 13,13%. O DI de janeiro de 2031 oscilou de 13,401% no ajuste antecedente a 13,4%.

Divulgado hoje pelo IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou ligeiramente entre junho e julho, de 0,24% para 0,26%. O indicador ficou abaixo do piso das estimativas de analistas consultados pelo Projeções Broadcast, de 0,28%. A mediana era de 0,35%. Segundo economistas, a surpresa com o número deve consolidar revisões para baixo nas projeções para a alta da inflação em 2025, rumo a patamar abaixo de 5%.

Por ora, aponta Cristiano Oliveira, diretor de pesquisa econômica do banco Pine, a instituição mantém a perspectiva de aumento de 4,8% do IPCA no ano. “Contudo, o resultado abaixo do esperado do IPCA e a desaceleração da média das medidas de núcleo em julho apontam para viés desinflacionário que devemos incorporar em nossa análise”, afirma Oliveira.

Segundo o economista, a inflação aquém do previsto em julho reforça o cenário do banco de que o Banco Central poderá cortar a taxa de juros mais cedo que a precificado pela curva de juros doméstica. Para o Pine, o ciclo de afrouxamento monetário começa já em dezembro deste ano, enquanto a curva tem apostas majoritárias para março.

“O Copom deve se manter cauteloso, indicando restrição por tempo prolongado, mas os cenários prospectivos que contemplam cortes de juros mais cedo devem seguir ganhando peso”, afirma a equipe de economistas da Kinitro Capital. “Mantemos uma leitura construtiva para a inflação no curto prazo, com o dado de hoje colocando um viés para baixo no nosso número de 5,0% para 2025”, diz a gestora em relatório.

Tendo em vista o tom mais duro da comunicação do Copom em sua última ata, João Ferreira, sócio da One Investimentos, nota que dados de inflação corrente melhores podem ter efeito positivo sobre as expectativas de inflação, o que explica o fechamento da curva nos vértices intermediários. A queda do DI de janeiro de 2027 para porcentual abaixo de 14% indica, em sua visão, que o orçamento do total dos cortes pode ser maior do que o previsto anteriormente. “As gestoras que acompanhamos veem um volume de prêmio elevado embutido na parte intermediária da curva. O alívio de hoje ode representar a realização destes prêmios”.

Nos EUA, o Departamento do Trabalho publicou nesta terça o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) do país. O CPI subiu 0,2% em julho ante junho, com ajuste sazonal, em linha com as expectativas de analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast. Na comparação anual, o indicador aumentou 2,7%.

Embora o dado anual de inflação básica tenha voltado ao seu nível mais elevado desde fevereiro, os números do CPI não são suficientemente altos para impedir que o Fed reduza os juros em setembro, avalia Seema Shah, estrategista-chefe global da Principal Asset Management. “O mercado gostou do CPI, pois isso significa que o Fed poderá reduzir os juros sem obstáculos no próximo mês – já as decisões de corte em outubro, dezembro e adiante podem ser bem mais complexas”, pondera.

Estadão Conteudo

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