Ataques aéreos e tiros israelenses mataram pelo menos 25 pessoas durante a madrugada de sábado, 26, segundo autoridades de saúde palestinas e o serviço local de ambulâncias, enquanto as negociações de cessar-fogo parecem ter estagnado e Gaza enfrenta fome.
A maioria das vítimas foram mortas por tiros enquanto esperavam por caminhões de ajuda perto da passagem de Zikim com Israel, disseram funcionários do hospital Shifa, onde os corpos foram levados.
O exército de Israel não respondeu a uma solicitação de comentários sobre os tiroteios.
A morte de pessoas em busca de comida não é novidade na região, e dezenas de pessoas tem sido vitimadas semanalmente nesse mesmo modelo. Segundo autoridades de Gaza, só no último dia 20 pelo menos 85 palestinos foram mortos enquanto tentavam obter ajuda.
Entre os mortos nos ataques aéros deste sábado estavam quatro pessoas em um prédio de apartamentos na Cidade de Gaza, disseram funcionários do hospital e o serviço de ambulâncias.
As negociações de cessar-fogo entre Israel e Hamas estavam paralisadas depois que os EUA e Israel retiraram as equipes negociadoras na quinta-feira.
O primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu disse na sexta-feira que seu governo estava considerando “opções alternativas” às negociações de cessar-fogo. Um oficial do Hamas, no entanto, disse que as negociações deveriam ser retomadas na próxima semana e descreveu a retirada das delegações israelense e americana como uma tática de pressão.
Egito e Catar, que mediam as conversas ao lado dos Estados Unidos, disseram que a pausa é apenas temporária e que as negociações seriam retomadas. Eles não disseram quando.
Crianças morrendo de fome
As Nações Unidas e especialistas dizem que os palestinos em Gaza estão em risco de fome, com relatos de números crescentes de pessoas morrendo por causas relacionadas à desnutrição. E agora crianças sem condições preexistentes começaram a morrer de fome.
Embora o exército de Israel diga que está permitindo a entrada de ajuda no enclave sem limite no número de caminhões que podem entrar, a ONU diz estar sendo impedida pelas restrições militares israelenses em seus movimentos e incidentes de saques criminosos. A polícia controlada pelo Hamas havia fornecido segurança para a entrega segura de ajuda, mas não conseguiu operar depois de ser alvo de ataques aéreos israelenses.
Israel disse no sábado que mais de 250 caminhões carregando ajuda da ONU e outras organizações entraram em Gaza esta semana. Cerca de 600 caminhões entravam por dia durante o último cessar-fogo que Israel encerrou em março.
Os últimos tiroteios na passagem de Zikim ocorrem dias depois que pelo menos 80 palestinos foram mortos tentando alcançar ajuda que entrava pela passagem. O exército de Israel na época disse que seus soldados atiraram em uma reunião de milhares de palestinos que “representavam uma ameaça”.
Durante os tiroteios na sexta-feira à noite, Sherif Abu Aisha disse que as pessoas começaram a correr quando viram uma luz que pensaram ser dos caminhões de ajuda, mas quando se aproximaram, perceberam que era dos tanques de Israel. Foi então que o exército começou a atirar nas pessoas, ele disse à Associated Press. Ele disse que seu tio, pai de oito filhos, estava entre os mortos.
“Fomos porque não há comida… e nada foi distribuído”, disse ele.
Homens carregaram os últimos corpos pelos escombros no sábado. Um menino pequeno chorava sobre um cadáver.
Israel enfrenta crescente pressão internacional para aliviar a crise humanitária catastrófica de Gaza. Mais de duas dúzias de países alinhados ao Ocidente e mais de 100 grupos de caridade e direitos humanos pediram o fim da guerra, criticando duramente o bloqueio de Israel e um novo modelo de entrega de ajuda que implementou.
Mais de 1.000 palestinos foram mortos pelas forças israelenses desde maio enquanto tentavam conseguir comida, principalmente perto dos novos locais de ajuda administrados por um contratante americano, diz o escritório de direitos humanos da ONU.
As organizações de caridade e grupos de direitos disseram que mesmo seus próprios funcionários estavam lutando para conseguir comida suficiente.
Ataques aéreos
Pela primeira vez em meses, Israel disse que está permitindo lançamentos aéreos, solicitados pela vizinha Jordânia. Um oficial jordaniano disse que os lançamentos aéreos serão principalmente comida e fórmula de leite.
A Grã-Bretanha planeja trabalhar com parceiros como a Jordânia para lançar ajuda do ar e evacuar crianças que precisam de assistência médica, disse o escritório do primeiro-ministro Keir Starmer no sábado. O escritório não deu detalhes.
Mas o chefe da agência das Nações Unidas para refugiados palestinos, Philippe Lazzarini, alertou nas redes sociais que os lançamentos aéreos são “caros, ineficientes e podem até matar civis famintos” e não reverterão a fome crescente ou impedirão o desvio de ajuda.