Já começou a briga para formar os grupos que disputarão as eleições de 2026. Vendo os velhos e manjados nomes — ou seus herdeiros — disputando vagas no grid, lembrei-me de uma crônica que fiz quando o senador Aécio Neves, que na época morava do Rio, foi pego embolsando uma grana da viúva. Reproduzo o texto:
Em um terreiro no bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro, baixa o espírito do Dr. Tancredo, avô do senador Aécio Neves: “On cô tô”? Pergunta o recém-chegado.
Um mineirinho que escutava a conversa, vendo que ninguém entendia o que o espírito dizia, cochicha no ouvido do Pai de Santo: “On-cô-tô é “onde que estou?”
Informado de que estava no Rio de Janeiro, pediu meia dúzia de pão de queijo. “Enquanto eu como”, disse ele, “um de vocês poderia, por gentileza, buscar meu neto que deve estar festando por aí, preciso dar um corretivo nele”.
“Tô muito desapontado com você, Aecin…”. Vai dizendo, sem rodeios, assim que o Senador chega.
“Eu sei, vovô, peço desculpas por não honrar seu nome.”
“Nem consigo acreditar que você foi gravado pedindo dinheiro praquele açougueiro lá de Goiás…”.
“Eu estava precisando muito, minhas despesas aqui no Rio são muito altas.”
“Altíssimas: champanhe, uísque 18 anos, vinho Romanée Conti, além daquele famoso pozinho. Também estou estarrecido com as filmagens do seu primo recebendo aquelas malas de dinheiro vivo em seu nome?”
“Eles armaram aquela arapuca…”
“E vocês caíram feito tontos. Demorei a acreditar, diz o Dr. Tancredo, na gravação da venda do apartamento da sua mãe, é muita infantilidade. E os comprovantes de transferência do mensalinho de 50 mil?”.
O senador já estava saindo, quando resolveu tirar uma dúvida: “Só me conta uma coisa, vovô”, disse, “no seu tempo, como o senhor e seus companheiros lidavam com esse trem?”
“Do mesmo jeito que vocês fazem hoje: recebendo ajuda das empreiteiras, socorros dos bancos, repasses das grandes empresas, usando caixa dois, comprando votos dos pobres e, principalmente, dando cargos para os mais ricos em troca de apoio”
“Então, se sempre foi assim, por que está decepcionado comigo?”
“Aécin meu neto, acho que aquele pozinho tá acabando com seus neurônios. Minha frustração é com sua ingenuidade: foi fotografado, gravaram conversas suas, falou na frente de testemunhas. Isso nunca aconteceu comigo, com o ACM, o Mario Covas, o Ulysses… Veja o Sarney, até hoje tá manda no MDB.”
Voltando ao presente: há mais de 50 anos acompanho as eleições brasileiras e mantenho a opinião de que os políticos, durante este tempo, não pioraram como o povo afirma. Hoje fazem as mesmas coisas que faziam no passado. Esta é uma boa notícia. A ruim é que também não melhoraram.
Nem podia: eles, que antes de serem políticos, são cidadãos como nós, carregam, por genética ou cultura, a média dos nossos vícios e virtudes. No Congresso — mantendo a proporção da sociedade — abundam mais aqueles do que estas.
Renato de Paiva Pereira.