Desde o início do processo de renovação, a estatal perdeu R$ 19,2 bilhões em valor de mercado e praticamente enterrou o sonho de se tornar a Petrobrás do setor elétrico. Em 2012, o governo lançou as condições para antecipar a renovação das concessões de geração e transmissão de energia que venceriam em 2015 e 2017. A proposta previa indenização pelos ativos não amortizados em troca da queda drástica no valor da energia vendida.
O problema é que o valor da indenização ficou abaixo dos cálculos do mercado e dos números das próprias empresas. A Eletrobrás esperava cerca de R$ 30 bilhões, mas foi obrigada a aceitar os R$ 14,4 bilhões propostos pelo governo – seu principal acionista. Além de causar uma bagunça no setor, deixando as distribuidoras sem contrato de fornecimento garantido de energia, o plano federal fez as receitas da estatal despencaram. Resultado: em 2012, a Eletrobrás teve o maior prejuízo da história das empresas de capital aberto, de R$ 6,8 bilhões. De lá pra cá, os indicadores seguiram o ritmo do setor elétrico e só pioraram.
Segundo levantamento da empresa de informação financeira Economatica, com base no último balanço divulgado pela estatal, a rentabilidade da empresa – em 12 meses até setembro do ano passado – estava negativa em 15,59%. A margem Ebitda (lucro antes de juros, taxas, amortização e depreciação; indicador próximo à geração de caixa) também está no vermelho: -38,46% – esse indicador mede a lucratividade da empresa.
Por enquanto, os investimentos não foram afetados por causa da indenização do governo. Até setembro de 2013, ela havia recebido R$ 8,8 bilhões dos R$ 14,4 bilhões. Cerca de 70% dos projetos são financiados pelo BNDES. Só 30% saem do caixa da estatal, que tem sido minoritária nos empreendimentos.
O problema é que uma hora a indenização vai acabar, destaca o analista da J. Safra Corretora, Sérgio Tamashiro. Ele diz que o início de operação de alguns projetos pode aliviar um pouco o caixa da estatal. Mas aí entra outro ponto delicado: o baixo retorno dos projetos. Relatório do JP Morgan mostra que hidrelétricas – com participação da Eletrobrás – estão com rentabilidade reduzida: em Jirau, a taxa é de 3,2%; Santo Antônio, 5,9%; Belo Monte, 7,2%.
Estadão