O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse ontem não ter dúvidas de que o policial militar que atirou um homem de uma ponte na zona sul de São Paulo será expulso da corporação – ele foi preso pela manhã. O chefe do Executivo também admitiu ter errado em sua avaliação sobre a eficácia das câmeras nas fardas dos agentes de segurança e reconheceu a necessidade de estudar aperfeiçoamentos na corporação. Mas voltou a defender a permanência de Guilherme Derrite no comando da Segurança Pública.
O caso do homem arremessado da ponte não foi isolado. O último mês foi marcado por uma sequência de atos de violência policial, como as mortes de uma criança de 4 anos na Baixada Santista, de um estudante de Medicina baleado em um hotel da capital e de um homem atingido por 11 tiros nas costas após tentativa de furto em um mercado.
Diante desse cenário, Tarcísio defendeu mudanças na PM durante a inauguração do Centro de Transplante de Medula Óssea do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). “O discurso de segurança jurídica, para os agentes de segurança combaterem de forma firme o crime, não pode ser confundido com salvo conduto para fazer qualquer coisa, para descumprir regra. Isso a gente não vai tolerar. Tem uma hora que a gente tem de chamar a corporação: Espera aí. O que está acontecendo? Vamos redesenhar isso aqui”, afirmou.
O governador descartou, porém, mudanças no comando da Segurança e da PM. “Momento de crise você não deve fazer mexida. Não é hora. Imagina cada situação difícil que você enfrentar, eu deixo de ter a confiança nas pessoas e parto para uma mudança generalizada. Interpreto isso como uma coisa ruim. Entendo que ao fim e ao cabo, a responsabilidade dos problemas é minha.”
FALHAS PESSOAIS
O governador também admitiu falhas pessoais, como no caso das câmeras nas fardas. Ao longo de sua gestão, ele questionou a eficácia do dispositivo e chegou a afirmar, em janeiro deste ano, que o equipamento não oferecia benefícios para a sociedade. Depois, passou a dizer que manteria o modelo.
“A questão das câmeras: eu era uma pessoa que estava completamente errada nessa questão. Eu tinha uma visão equivocada, fruto da experiência pretérita que tive, que não tem nada a ver com a questão da segurança pública. Hoje, estou absolutamente convencido de que é um instrumento de proteção da sociedade, do policial. Vamos não só manter, mas ampliar o programa.”
Tarcísio defendeu ainda um estudo para entender o que é necessário fazer para investir em melhorias na corporação: programa de treinamento, reciclagem, intercâmbio entre polícias e compra de armamento não letal.
CÂMERAS
Neste mês, a PM de São Paulo passa a usar um novo modelo de câmeras nas fardas que permite ao agente de segurança interromper a gravação durante uma ocorrência. Esses equipamentos foram comprados após edital da gestão de Tarcísio publicado em maio. A tecnologia anterior, adotada no Estado desde 2020, não permite pausas na gravação.
Questionado sobre o assunto, o governador negou afrouxar o programa, alegou que o acionamento também poderá ser feito remotamente, e disse que os equipamentos serão substituídos gradativamente. “Enquanto a gente não estiver seguro com relação à tecnologia, a gente não descontinua as câmeras que existem, que estão funcionando. Elas vão continuar em operação. (…) Só vai haver essa substituição gradativa à medida que a gente estiver muito confortável com a nova tecnologia que está chegando.”
PRISÃO
“Vai ficar preso, ser expulso da corporação, não tenho dúvidas disso”, afirmou Tarcísio em relação a ocorrência sobre o Córrego do Cordeiro. Procurada, a defesa do PM Luan Felipe Pereira disse, em nota, ver na prisão “claro viés de antecipação de culpa”.