O presidente do Conselho Superior do Agronegócio, da Federação das Indústrias de São Paulo (Cosag-Fiesp), João Sampaio, disse que são os casos de cana-de-açúcar, café, laranja, que deverão apresentar quebra.
“Mesmo a soja, que está indo muito bem, ainda, em Mato Grosso, nos estados onde a estiagem foi mais forte, como Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, vai quebrar um pouco da safra”. A expectativa, segundo explicou Sampaio, é que a chuva se torne regular a partir de agora e minimize os estragos. “Se a chuva não vier, pode ter um impacto grande na segunda safra de milho, porque com dificuldade de chuva, não se planta. Certamente, vai ter impacto”.
O presidente do Cosag-Fiesp não acredita, entretanto, que o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio venha a ser afetado. O que normalmente ocorre, quando há quebra de safra, disse ele, é que os preços sobem e a receita bruta do agronegócio pode não ser impactada. Ele explicou que “embora com produção menor, se os preços forem maiores, o PIB fica do mesmo tamanho. Mas, com certeza, afeta a renda do setor, porque, produzindo menos, mesmo que o preço seja maior, você tem um impacto nos seus custos e a rentabilidade fica prejudicada”.
O presidente da Sociedade Nacional da Agricultura (SNA), Antonio Alvarenga, se mostrou mais otimista. Ele acha que a estiagem comprometeu pouco a safra de grãos. “Poderia ser um pouco melhor, mas não chegou a comprometer”. No caso de culturas como café, ele acha que essa perda é muito limitada ainda.
Alvarenga acrescentou que o PIB do agronegócio não vai sofrer grande problema, devido à estiagem. A entidade trabalha com a perspectiva de crescimento de 3,5% a 4% no PIB da agricultura brasileira este ano, superando o PIB do país, que ele estima ficar em torno de 2%. “A gente tem uma vantagem no agronegócio, porque, possivelmente, neste ano o dólar vai ficar bastante mais alto que o dólar médio do ano passado. Você vai ter um crescimento na renda dos produtores também em função do dólar. O PIB vai crescer também por isso”.
Ele destacou que com o dólar apresentando variação, para cima e para baixo, em função das pesquisas eleitorais, o agricultor tem que estar preparado para aproveitar e saber vender bem o seu produto. Lembrou que a atividade agrícola está sujeita a pragas, ao câmbio e a fatores climáticos, além da flutuação natural das commodities (produtos agrícolas e minerais com cotação internacional).
O diretor técnico da SNA, Hélio Sirimarco, destacou que a possibilidade de redução, em torno de 2 milhões de toneladas na safra de soja, ocorrerá mais em função da queda de produtividade. Mas admite que a estiagem também afetou a produção de milho da primeira safra, e que a segunda safra também deve ser menor. “Mas, por enquanto, nada sério”. Disse, porém, que se a estiagem continuar, vai afetar um pouco mais. “O Rio Grande do Sul, por exemplo, que planta por último, pode vir a ser afetado”. Segundo ele, a estiagem afetou a agricultura nacional, “mas nada dramático, por enquanto”. As culturas que estão sofrendo mais são café e laranja. “Aí, o impacto está mais forte”.
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, disse que dependendo das culturas que forem afetadas pela falta de chuvas, isso pode “até” contribuir para elevar os preços no mercado internacional, que estão muito baixos atualmente. “Mas é preciso ver o que vai ter em perda de quantidade e se a elevação de preço consegue recuperar essa perda”. No momento, salientou que não se pode afirmar nada de concreto, porque não há uma avaliação de quanto foi a perda. “Mas, claramente, é provável que saiamos do prejuízo um pouquinho mais”.
Castro ponderou que a tendência de elevação do dólar pode ajudar o produtor, ou o exportador, em termos de receita, “mas não o país, em termos de divisas". A desvalorização do real pode provocar uma baixa, porque o importador, sabendo que o exportador vai ganhar mais dinheiro, acaba forçando uma baixa do preço, e isso não é favorável ao Brasil – explicou.
Também para a agricultura fluminense a estiagem já provocou os primeiros prejuízos em produtos típicos dessa época do ano, de acordo com o secretário estadual de Agricultura do Rio de Janeiro, Christino Áureo. “São produtos cuja colheita ocorre no verão,Mms não são maioria. É o caso das hortaliças e do leite", ponderou.
A safra de leite preocupa um pouco mais o secretário. “Como é um período em que, normalmente, você tem maiores ofertas, em função de melhores pastagens, este ano a gente observou um fenômeno onde o produtor que trata o rebanho no cocho, somente no inverno, que vai normalmente de maio a setembro, este ano teve que estender um pouco mais o trato no cocho, devido à seca”, comentou Áureo.
Isso aumentou os custos da produção de leite. Ocorreu estabilidade em termos de valor para o produtor, com tendência de elevação de preço para o consumidor, a partir de março. Sobre verduras e legumes, ele disse que não há, ainda, um levantamento preciso sobre prejuízos, mas espera que não haja grandes alterações. Segundo ele, a estiagem atípica também atrasou um pouco a renovação da lavoura de cana-de-açúcar que, tradicionalmente, se dá em janeiro, e avaliou que os produtores vão esperar ainda o mês de março para proceder ao plantio.
Agência Brasil