Cultura

500 Anos de Camões

O português e lisboeta Luís Vaz de Camões completou 500 anos do seu nascimento neste ano de 2024, sendo realizadas nas comunidades e países lusófonos várias homenagens ao grande escritor e poeta de Portugal, cujos escritos ultrapassaram as fronteiras das línguas para imortaliza-lo na literatura ocidental. Registre-se que foi a lei portuguesa 1.540, de 02/02/1924, que definiu ter Camões nascido em 5 de fevereiro de 1524. , agora completando essa data 500 anos.

Camões nasce em Lisboa numa família de pequena nobreza, tendo recebido educação na juventude que lhe garantiu conhecer o latim, a literatura e a história antiga, tudo com o seu tio dom Bento de Camões, prior do Convento de Santa Cruz. Posteriormente teria realizado estudos de literatura e filosofia na prestigiosa Universidade de Coimbra, fundada pelo rei Dom Dinis I de Portugal, bem como teria sido frequentador a Corte de Dom João III. Todas essas informações são retiradas de alguns documentos, especulações e lendas sobre o nobre escritor.

Uma vida boêmia e turbulenta, que levou o poeta e escritor a ter um amor não correspondido, transformou-o em soldado, indo parar inicialmente no norte da África, onde numa batalha em Marrocos sofreu um ferimento grave e perdeu um olho. No retorno a Lisboa feriu um servo do Paço Imperial e acabou preso, conseguindo ser perdoado posteriormente e, após libertado, tomou o rumo do Oriente em direção a Goa, na Índia, onde passou dezessete anos percorrendo Macau e até mesmo a Arábia.

A sua grande obra é “Os Lusíadas”, que tem como herói o navegador português Vasco da Gama, onde nesse poema épico do classicismo lusitano é narrada a descoberta do caminho para a Índia, sendo dividido em dez cantos com a equiparação dos portugueses a heróis da antiguidade greco-latina.

Os Lusíadas foram oferecidos em homenagem ao rei Dom Sebastião, recebendo Camões em boa hora uma pensão da coroa portuguesa por três anos, uma vez que passava grandes privações em Moçambique. Ainda que isso tivesse aliviado a sua manutenção, sabe-se que nos seus anos finais enfrentou graves dificuldades, morrendo pobre e doente, sem dinheiro para pagar o próprio enterro e acabando por ser sepultado numa vala comum no cemitério de Lisboa.

Depois do terramoto de 1755, que destruiu a maior parte de Lisboa, foram feitas tentativas para encontrar os restos morais de Camões, mas todas foram frustradas. Dizem então que a ossada que foi depositada em 1880 numa tumba no Mosteiro dos Jerônimos não é sua, com forte probabilidade, de ser de outra pessoa. Muitas das informações sobre Camões suscitam dúvidas por falta de fontes confiáveis, devendo ser esclarecido que muito do que se escreve sobre ele é fruto do folclore para reforçar ainda mais a figura célebre que se torne.

Historicamente Camões viveu na fase final do renascimento europeu, com mudanças na cultura e sociedade, lembrando-se que o final da Idade Média acontecia e sobrevinha o início da Idade Moderna, abandonando-se o feudalismo e se instalando o capitalismo. Assim, a redescoberta e revalorização das referências culturais da Antiguidade Clássica, nortearam as mudanças deste período de renascimento, seguindo em direção a um ideal humanista e naturalista que afirmava a dignidade do homem, colocando-o no centro do universo, tornando-o o investigador por excelência da natureza, e privilegiando a razão e a ciência como árbitros da vida.

A grande produção literária de Camões trazia o lírico (em Rimas, 1595), o épico (com Os Lusíadas, 1572), o dramático (com os seus “autos” ou “comédias”: Anfitriões,1587, Filodemo, 1587, e El-Rei Seleuco, 1645) e ainda o didático (as suas cartas, publicadas inicialmente na obra Rimas). E seu talento se mostra no recurso a formas poéticas variadas, entre essas o soneto, pela capacidade em “utilizar diversos metros e esquemas rimáticos, imagens e figuras que dão a conhecer múltiplos aspetos das emoções do poeta”.

Mas não é só, sua habilidade excepcional na escrita se mostrou também nas canções e elegias, com redondilhas que nada ficavam a dever a tais gêneros antes citados. A arte do mote e da glosa trazem espontaneidade e simplicidade, uma delicada ironia e um fraseado vivo, fazendo a poesia se elevar e mostrar perfeição com a alegria e a descontração. Com certeza, tudo isso fruto das experiências como soldado e navegador, que enriqueceram a sua visão de mundo e ampliaram o seu talento.

Para finalizar esse texto sobre o grande Camões, como homenagem aos seus 500 Anos, vale ser lembrado um excerto de seu “Os Lusíadas”, citando a abertura do poema constituída dos notáveis versos:

As armas e os barões assinalados

Que, da ocidental praia lusitana,

Por mares nunca de antes navegados

Passaram ainda além da Taprobana,

Em perigos e guerras esforçados,

Mais do que prometia a força humana,

E entre gente remota edificaram

Novo reino, que tanto sublimaram.

…..

Cantando espalharei por toda a parte,

Se a tanto me ajudar o engenho e arte

— Os Lusíadas, Canto I –

Antonio Horácio da Silva Neto

About Author

Antonio Horácio da Silva Neto é juiz de direito do Tribunal de Justiça de Mato Grosso e presidente da Academia Mato-grossense de Magistrados. Colaborador especial do Circuito Mato Grosso desde 2015.

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