A Maçonaria é uma das instituições que mais desperta curiosidades e se criam diversas lendas sobre seus trabalhos e membros. Todas essas elucubrações não possuem fundamento histórico algum, mas na instituição maçônica são fomentadas por metáforas, símbolos e alegorias para retratar os altos princípios de moral e de virtude que nela são pregados para a melhoria do homem e da sociedade.
Uma dessas elucubrações diz com o fato de os maçons serem apelidados de bode, com referências ao sobrenatural. O bode, animal da espécie capra aegarus (selvagem) ou capra hircus (domesticado), foi uma das espécie de caprino domesticada pelo homem no Oriente Médio por volta do ano 7 mil antes de Cristo.
Aproximadamente a partir do ano III ano d.C. vários apóstolos saíram para o mundo a fim de divulgar o cristianismo e parte deles foram para o lado judaico da Palestina. Em lá chegando observaram ser comum um judeu falando ao ouvido de um bode, animal de presença muito comum naquela região.
Não conseguiam saber o que significa esse hábito, até que o apóstolo Paulo conversou com um rabino de uma aldeia, quando esse lhe esclareceu o ritual era usado para expiação dos erros. Era da cultura do povo contar a alguém da sua confiança os seus pecados ou faltas, aliviando sua consciência, pois estaria dividindo o sentimento ou problema.
Paulo ficou intrigado e perguntou: por que o bode? E lhe foi esclarecido pelo sábio rabino que o bode nada fala, o confessor fica ainda mais seguro de que seus segredos serão mantidos. Excelente confidente, não? Um animal que jamais irá entregar os segredos que lhes forem confiados.
Feita essa explicação inicial, vamos caminhar um pouco mais adiante na história e chegar no famoso golpe de Estado de 18 de brumário do ano VIII (data correspondente a 9 de novembro de 1799, no calendário gregoriano), que é considerado como o início da era napoleônica na França e na Europa.
Com o golpe do 18 de Brumário, Napoleão Bonaparte instaura uma ditadura na França com os poderes concentrados na sua pessoa. Brumário, que é brumaire em francês, era o segundo mês do Calendário Revolucionário Francês que esteve em vigor na França de 22 de setembro de 1792 a 31 de dezembro de 1805 e o seu nome se deve à “neblina e às baixas brumas que são a exsudação da natureza de outubro a novembro.
Reza a lenda que a Igreja teria se unido a Bonaparte e começou a perseguir todas as instituições que não fossem do lado do governo ou da Igreja. A Maçonaria, que era e é uma instituição defensora da liberdade e contestadora dos ditadores, teve seus direitos suspensos e seus Templos fechados com proibição de se reunir.
Vários maçons se reuniram na clandestinidade lutando contra a situação política do país e muitos teriam sido presos pela Igreja e submetidos a terríveis inquisições. Sem alcançar delatores no seio dos maçons, um dos inquisidores chegou ao ponto de dizer a seu superior: – “Senhor este pessoal (maçons) parece BODE, por mais que eu flagele não consigo arrancar-lhes nenhuma palavra”.
Essa frase trouxe o apelido de bode para indicar os maçons, ou seja, “aquele que não fala nem sobre flagelação, o que sabe guardar segredo”. Enfim, se cristalizou a partir de então a figura do bode como um símbolo de alguém que sabe guardar segredo. E como a Maçonaria tem muito sigilou ou segredo sobre os seus ensinamentos morais e ritualísticos, ninguém melhor do que o bode para denominar os maçons.
Ainda que se fale da perseguição bonapartiana aos maçons, é preciso registrar que existem especulações sobre uma possível iniciação de Napoleão na Maçonaria, que teria ocorrido em 1798, na ilha de Malta e no seio de uma loja maçônica formada majoritariamente por militares, o que não tem comprovação segundo o escritor César Vidal na sua obra “Los masones: la Historia de la Sociedad Secreta mas Poderosa Del Mundo”.
Por fim, documentos do Grande Oriente da França atestam que Napoleão Bonaparte foi realmente iniciado maçom na campanha do Egito, numa loja especialmente constituída na cidade do Cairo, que recebeu o simbólico nome de Ísis. A campanha do Egito marcou não só o início da Egiptologia, como o início do Rito de Memphis, tal qual se conhece hoje e Napoleão Bonaparte foi um dos primeiros maçons iniciados neste rito.