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Doações de civis à ditadura começaram antes do golpe

De acordo com Paulo Egydio Martins, governador do estado de São Paulo entre 1975 a 1979, não houve um grande empresário que não tivesse apoiado o golpe. “Se me perguntarem quem não apoiou, não saberia dizer. Foram muitos, mas duas figuras se destacaram: Quartim Barbosa (presidente do Banco do Commércio e Indústria de São Paulo) e Gastão Vidigal (do Banco Mercantil de São Paulo)”, disse Egydio Martins em depoimento nesta terça-feira 26 à Comissão da Verdade Vladimir Herzog, na Câmara Municipal de São Paulo. “As doações foram fundamentais para os militares chegarem ao poder. O II Exército, aqui em São Paulo, era uma piada e estava, literalmente, no chão”, lembrou sobre a ajuda dada para a compra de pneus, baterias, carburadores e combustível para os veículos militares.
 
Segundo Egydio Martins, hoje com 85 anos de idade, as doações eram feitas em dinheiro, por pessoas físicas, para coronéis do Estado Maior do II Exército e não em nome das empresas. “Esse dinheiro, claro, deveria ser forçosamente caixa 2 das empresas dessas pessoas, mas não era oficialmente o dinheiro desses grupos”, disse. O ex-governador contou ainda que antes mesmo de assumir o Palácio dos Bandeirantes foi diretor da Associação Comercial do estado de São Paulo, cargo no qual ajudou a montar um grupo de coordenação para as doações destinadas à reequipagem do II Exército. “Isso foi feito com a maior boa vontade, quando se aproximava já do fim o governo Jango. Foi feito de forma escancarada e não houve reclamação”, lembrou ao ressaltar a relação de amizade que mantinha com Júlio de Mesquita Filho, da família dona do jornal O Estado de S. Paulo, com quem cuidava do que chamou de “pensamento estratégico” da elite empresarial e dos bastidores do poder.
 
Apesar de dizer que não tem informações precisas sobre as doações de pessoas físicas para os militares depois de 1969, quando foram montados órgãos de repressão como a Operação Bandeirante e os DOI-CODI, Egydio Martins disse que não crê em alguma razão para as doações terem cessado.
 
Segundo o ex-governador paulista, a colaboração da elite civil ocorreu para impedir que o Brasil se tornasse um país como Cuba e não para o que viria a ser uma ditadura de mais de 20 anos. “A aliança civil-militar não era para a implantação de uma ditadura. Era para derrubada de um presidente eleito, sim, e sabia-se da gravidade do ato. Era para não haver uma cubanização no Brasil”, afirmou. “Não houve espírito civil ditatorial, mas antiditatorial, antigolpista. Temia-se, pelo pronunciamento do Jango, a constituição de um Estado socialista aos moldes de Cuba. Mas em hipótese alguma esperávamos uma ditadura militar. Nós, civis que participamos do movimento, fomos traídos no fim e nunca nos foi dito que a nossa participação seria usada para a implantação de uma ditadura.”
 
Para ele, existia um estado de tensão e nervosismo provocado pelos “discursos cada vez mais violentos” do presidente da República, João Goulart, e as pessoas passaram a se mobilizar para “não deixar o Brasil virar um ‘Cubão’. "Eu aprendi a odiar todas as ditaduras, aprendi a odiar o comunismo antes mesmo do fascismo. E uma das razões que me levou à conspiração foi buscar evitar uma ameaça ditatorial como a dos bolcheviques e a de Mao Tsé-Tung, com milhares de pessoas assassinadas, ou a de Fidel Castro. Eu não queria isso para o Brasil.”
 
Escolhido por voto indireto durante o governo do general Ernesto Geisel (1974-1979), Martins disse no depoimento desta terça-feira ainda que a morte do jornalista Vladimir Herzog no DOI-CODI em São Paulo fazia parte de um complô para derrubar o então ditador. “Eles (os militares) queriam um regime mais forte, muito mais violento. O próprio Sylvio Frota, ex-ministro do Exército do Geisel, era um deles.”
 

 

Redação

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