O diretor técnico da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Luiz Nery Ribas, acredita que a praga não existia no Brasil até o ano passado, embora pondere que sua similaridade física com outros insetos pode tê-la ocultado nas plantações, dificultando sua identificação. Ele critica ainda a desinformação de algumas pessoas que, na sua opinião, fizeram “terrorismo” com o assunto.
“O desconhecimento levou as pessoas a fazerem coisas absurdas. A lagarta é voraz, ataca diferentes tipos de cultura, mas teve gente que fez terrorismo. Quando o alarme foi feito, algumas pessoas se aproveitaram da situação”, diz ele.
Um levantamento da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), primeiro local no Brasil onde o inseto foi detectado, aponta prejuízos de mais de R$ 1,4 bilhões que já teriam sido causados na safra 2012/2013 daquele Estado. Ainda não existe um estudo indicando que a lagarta tenha causado perdas econômicas nas propriedades rurais de Mato Grosso.
Nery afirma, entretanto, que não há motivo para alarde, explicando que a helicoverpaarmigera, apesar da sua capacidade de adaptação, não deixa de ser um mal agrícola que, como qualquer outro, necessita de um manejo integrado de pragas (MIP) e que o acompanhamento e o monitoramento das plantações devem ser prioridades para o controle eficaz desses animais.
“A palavra-chave é monitoramento das lavouras por meio de anotações em planilhas ou computadores, de modo a verificar a existência de pragas, além do tipo e severidade delas. Com base nessas informações, profissionais capacitados podem ajudar o produtor a escolher medidas eficazes de controle, sejam elas fisiológicas, biológicas ou químicas”, diz ele.
Controle biológico pode ser o caminho mais eficaz
O controle eficaz de pragas que atacam as lavouras não depende apenas de produtos químicos, geralmente mais agressivos ao meio ambiente e à saúde das pessoas. No caso da helicoverpaarmigera, praga encontrada em diversos tipos de cultura – da soja ao tomate –, a utilização de inimigos naturais, como vespas, pode ser uma poderosa aliada dos produtores nesse combate.
Segundo o doutor em Entomologia pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Orlando Sales Júnior, o foco ao problema da helicoverpaarmigera não deve ser alarmista, e sim, ser encarado como um “desafio”. Ele discorre também sobre algumas das características biológicas que chamam a atenção sobre a lagarta.
“Trata-se de uma lagarta de difícil controle devido a seus hábitos, como a polifagia – que é a grande variedade de plantas que consome –, alta mobilidade, alta fecundidade e a diapausa facultativa, ou seja, a capacidade de interromper seu desenvolvimento conforme mudanças climáticas”, diz ele.
O pesquisador acredita, porém, no grande potencial de parasitoides para combater a praga, como a vespa trichogrammapretiosum, que deposita seus próprios ovos no interior daqueles que a helicoverpaarmigera põe. Ele também destaca um inimigo natural da sub-família heliothinae, da qual também fazem parte a helicoverpazea e a heliothisvirescens, respectivamente, as lagartas da espiga do milho e do algodão e da maçã, além de dar dicas também no controle químico do mal.
“A vespa campoletisflavicincta ataca especificamente os membros da sub-família heliothinae, da qual a helicoverpaarmigera faz parte. Pessoalmente apostaria nela. Quanto ao uso químico nas lavouras, sugiro que a pulverização se dê por gotas maiores na vazão”, diz ele.
Ferrugem asiática preocupa safra 2013/2014
Numa postagem em sua página pessoal no Facebook, em 29 de novembro de 2013, o coordenador da Comissão de Defesa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Wanderlei Guerra, confirmou o primeiro caso de ferrugem asiática no Estado na safra 2013/2014. A amostra foi coletada no dia 21 do mesmo mês, no município de Alto Araguaia (410 km de Cuiabá).
De acordo com Guerra, o indício aferido é de uma “planta guaxa”, isto é, pés de soja que nascem de grãos que se espalharam por lugares diferentes daqueles dos quais foram inicialmente planejados, como os transportados por caminhões nas estradas, além das sementes residuais que caem dos maquinários agrícolas durante a plantação da safra. A “soja guaxa” é hospedeira do fungo da ferrugem asiática, uma praga de difícil controle que pode devastar culturas inteiras.
O coordenador do Mapa afirma ainda que o local onde foram colhidas as amostras foi roçado para impedir o surgimento de novos vegetais contaminados.