Cidades

Cuiabá vive crise histórica de abastecimento de água

 
O desabastecimento de água promovido pela concessionária CAB Cuiabá é inédito na Capital e causou grande indignação, tornando-se um dos assuntos mais comentados e discutidos nas redes sociais. A falta de água, além de causar desconforto para o cuiabano, afetou de forma cruel os comerciantes, sendo que alguns precisaram fechar suas portas pela inviabilidade econômica – o custo poderia alcançar R$ 2 mil por mês só com água. Muitas escolas tiveram que dispensar os estudantes por conta do problema.
 
A Da Feira Café & Tapiocaria chegou a colocar no Facebook um recado aos clientes: “A notícia não é boa! Não é novidade a falta de água que a nossa região está sofrendo. Hoje nem as empresas que fornecem caminhão-pipa atendem mais o telefone, então fomos forçados a não abrir as portas. Contamos com sua compreensão!”. Assim como a tapiocaria, vários comércios funcionaram precariamente durante todo o tempo da interrupção de fornecimento de água.
 
Todo esse sofrimento imposto à população iniciou-se com a substituição das adutoras solicitadas pela Secretaria Extraordinária da Copa (Secopa) para construir novas tubulações, contornando a Trincheira Santa Rosa. Para isso foi necessário esvaziar o sistema da ETA São Sebastião que, ao voltar a funcionar, sofreu um dano, apresentando o primeiro grande vazamento que afetou 80 bairros.
 
A pedido da Secopa, CAB interrompeu por 4 dias o fornecimento de água para milhares de pessoas - Foto: Mary JurunaO segundo ponto de vazamento grave localizado pela concessionária ocorreu no encontro das ruas Comandante Costa e Cândido Mariano, no centro da cidade.  A concessionária – CAB Ambiental – justificou que, nas duas situações, os danos foram provocados pela precariedade dos equipamentos que não recebiam manutenção adequada quando eram operados pela Companhia de Saneamento da Capital (Sanecap).
 
Diante da crise sem precedentes no sistema de abastecimento, os consumidores procuraram o órgão para obter informações sobre seus direitos, uma vez que o ‘callcenter’ da concessionária não funcionou durante o período em que Cuiabá sofreu falta de água histórica. Muitos protocolaram denúncias no Ministério Público Estadual (MPE) acerca da falta de informações por parte da CAB e também contra os valores exorbitantes praticados por algumas empresas de fornecimento de água através de caminhão-pipa.
 
Procurada pelo Circuito Mato Grosso, a assessoria da CAB Ambiental relatou que todos os bairros atingidos já estão recebendo água normalmente, destacando que concentrou esforços técnicos operacionais para restabelecer o funcionamento da estrutura central de produção de água em no menor tempo possível. Segundo a assessoria, durante a interrupção do fornecimento de água “priorizaram o abastecimento de unidades hospitalares, escolas e creches com o envio de caminhão-pipa”. 
 
Abuso no preço da água rendeu denúncia no MPE
 
Empresários aproveitaram a falta de água e cobraram preços exorbitantes dos cuiabanos - Foto: Mary JurunaConsumidores inconformados com o preço praticado pelas distribuidoras de água de Cuiabá procuraram o MPE para denunciar a ‘extorsão’ sofrida. Com 250 mil habitantes sem água, muitos fornecedores aproveitaram-se da ocasião para obter ‘lucro fácil’. 
 
Na mesma proporção que o aumento de reclamações explodia, as empresas fornecedoras de água viam os pedidos triplicarem e, consequentemente, o preço ficou estratosférico. Não bastasse a cobrança abusiva, empresas ainda impunham algumas ‘regras’ como não aceitarem dividir entre vizinhos um caminhão de água que custava, em média, R$ 300,00, com 16 mil litros. 
 
Casos extremos também aconteceram como do Residencial Goiabeiras que pagava, inicialmente, R$ 120 por um caminhão com água, chegando, no auge do desabastecimento, a custar inacreditáveis R$ 450,00.
 
Consumidores reclamam de cobrança indevida de taxa de esgoto
 
O jornalista e professor universitário Rui Matos, morador do Condomínio Jardim Botânico, no bairro Coophema, reclama de um comunicado enviado pela CAB com elevação da tarifa de esgoto. Indignado, questiona: “Baseado em que a CAB elevou o preço da taxa de coleta de esgoto? Eu já pago R$ 14,05 todos os meses por um serviço que não executam. Acho isso abusivo e até vergonhoso”.
 
CAB cobra tarifa de esgoto de moradores do Jardim Gramado que só tem fossas sépticas - Foto: Mary Juruna O professor relata que existe uma pequena central que coleta o esgoto do condomínio, faz a decantação e, em seguida, joga os dejetos no córrego São Gonçalo, um dos afluentes do rio Cuiabá: “Sendo assim, a CAB não efetua nenhum serviço pra justificar tal pagamento de taxa de esgoto. A estação de coleta, inclusive, foi construída pelo condomínio. Nós pagamos por ela no ato da compra da casa, já que todas as benfeitorias do condomínio fazem parte do custo total do imóvel”.
 
Matos explica num misto de revolta que nem 20% das residências de Cuiabá contam com rede de esgoto. Ele cita como exemplo o Jardim Gramado, onde as famílias não contam com coleta de esgoto e os dejetos são colhidos em fossas sépticas, mas, mesmo assim, estão recebendo o comunicado de aumento na tarifa pelo serviço prestado. Nas ruas do bairro é possível verificar as fossas nas calçadas e, algumas, formando buracos pela erosão do asfalto. Rui Matos pergunta taxativamente: “Como isso se justifica se ali só tem fossas sépticas e quem faz a limpeza são empresas particulares pagas pelos moradores?”.
 
Situação análoga vive Ivani Fini, moradora do Residencial Coxipó que também recebeu o aviso de aumento de tarifa. Fini relata que o condomínio já tinha tratamento do esgoto antes da concessão e agora estão cobrando a mais pelo serviço. Conta a munícipe que procurou a CAB e eles informaram que a alteração da porcentagem da tarifa é pelo fato de terem esgoto no residencial: “Achei um abuso e os demais moradores do condomínio estão revoltados tanto quanto eu”.

 
 

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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