A Companhia das Letras fez uma proposta que foi aceita pelas herdeiras de Noel e por um dos autores da biografia, o jornalista João Máximo. Mas foi recusada pelo outro autor, o pesquisador Carlos Didier, que dá prioridade à editora José Olympio.
A situação reforça o mito em torno do livro, lançado em 1990 pela UnB (Universidade de Brasília) após recusas de várias editoras, transformado rapidamente em clássico, e nunca mais reeditado. Em sebos virtuais, chega a ser oferecido por R$ 400.
A obra vinha sendo barrada por ações na Justiça das herdeiras de Noel, suas sobrinhas Maria Alice e Irami –o compositor, morto por tuberculose em 1937, aos 26 anos, não teve filhos; as músicas em que não tem parceiros estão em domínio público, mas direitos sobre sua imagem podem ser reclamados.
Elas pediam indenização, alegando desrespeito à vida privada da família em função dos relatos sobre os suicídios da avó e do pai de Noel.
Os autores provaram que as mortes foram noticiadas em jornais. Em 26 de novembro de 2012, a última ação foi retirada da 3ª Vara Federal de Brasília.
Didier alega que a José Olympio, pela qual lançou em 2010 "Nássara Passado a Limpo", "há tempos tenta a reedição".
"A Companhia das Letras há pouco passou a se interessar. Esclareci que outra editora estava trabalhando o livro e que era necessário ter elegância –foi a palavra fora de moda que usei", conta. "Recomendei que não se fizesse contato com a família Rosa para evitar a formação de um leilão. Virou leilão. O que me desagrada muito."
Máximo diz que, afora acenos informais no passado, só recentemente foi procurado pela José Olympio.
"A Companhia foi a única que me fez uma proposta de fato. E foi muito satisfatória. Já estavam previstos a tiragem, o preço, como e quando tudo seria feito. Só pedi que o livro fosse revisto e que eu fizesse o texto final", diz.
O preço previsto é R$ 69,90. A nova edição da biografia teria 900 páginas e tiragem inicial de 15 mil exemplares. À família de Noel Rosa, foram oferecidos R$ 60 mil.
"Da nossa parte, chegamos a um acordo. Para minha surpresa, houve a recusa do Didier", diz, de Nova York, onde mora, Elio Joseph, marido de Maria Alice e representante nas negociações.
Ele afirma que as queixas que motivaram as ações foram deixadas de lado. "Falar em mudanças no livro agora seria complicar ainda mais o processo."
O próprio dono da Companhia, Luiz Schwarcz, ligou para Didier, mas não conseguiu convencê-lo.
Em nota, a editora confirma as informações apuradas pela Folha e diz que "segue aberta à possibilidade de reedição, tendo em vista a importância do livro e o papel decisivo de Noel Rosa para a cultura brasileira".
Maria Amélia Mello, diretora editorial da José Olympio, afirma que se trata "de um projeto importante, que qualquer editora séria, com bom catálogo e fundo editorial, terá interesse".
Fonte: Folha de São Paulo