Neste mês, em comemoração aos 25 anos do Só Pra Contrariar, o cantor Alexandre Pires retoma o grupo, com o qual inicia turnê no dia 20, em Recife. A volta do vocalista a uma das bandas ícone do pagode romântico marca um revival dos grupos que fizeram sucesso nos anos 1990.
O retorno da formação original do grupo acontece depois de o cantor ter se lançado em carreira solo, voltada para o mercado latino americano, em 2002.
Em dez anos, Pires gravou nove CDs e lançou quatro álbuns no mercado latino.
Em 2003, foi criticado por ter se derramado em lágrimas ao se apresentar na Casa Branca, diante do então presidente dos EUA, George W. Bush, em evento que celebrava a comunidade hispânica.
"Não me emocionei por cantar para o Bush. Fui representar a comunidade latina. As pessoas não entendem o que é sair de uma cidade do interior e ir cantar para o alto escalão da Casa Branca. Só pensaram na imagem negativa do cara na época. Foi uma bobagem", explica.
Com o grupo que o projetou, Pires já tem compromissos até 2014, com mais de cem shows agendados pelo país.
A turnê do Só Pra Contrariar –que passa por São Paulo nos dias 5 e 6 de julho, no Credicard Hall, e resultará na gravação de um DVD com os sucessos e o pouco material inédito– é apenas um dos exemplos do retorno dos holofotes a ícones do pagode dos anos 1990.
PAGODE RETRÔ
Os pagodeiros da atualidade, como Thiaguinho, Mumuzinho, Turma do Pagode, Sorriso Maroto, entre outros, gozam do estrelato, mas agora dividirão espaço com precursores do gênero romântico.
"A galera de hoje tem um valor danado. Como qualquer gênero, o samba tem vertentes. O sertanejo também é assim, tem Tião Carreiro e Pardinho, mas tem Luan Santana. Hoje, a música é mais de festa, de balada", diz Pires, que vendeu mais de 12 milhões de discos com o SPC.
Na turma dos que voltaram está Salgadinho, que deu voz a hits como "Recado a Minha Amada" ("Lua vai, iluminar os pensamentos dela") e "Inaraí" até 2001. O músico, que retoma sua carreira solo, lançou disco em 2012 e neste mês faz turnê pela Europa.
"Tivemos uma superexposição na década de 1990, vendemos mais de 8 milhões de discos. A coisa do pagode foi boa à beça, mas atropelou minha proposta de ser músico. Eu sou mais instrumentista e compositor", diz Salgadinho.
Quem não chegou a sair de seu grupo, mesmo gravando com projetos paralelos, foi Luiz Carlos, conhecido nacionalmente como "o cantor da língua presa, do Raça Negra".
"Saíram muitos vocalistas da bandas. A identidade do Negritude [Júnior] era o Netinho; a do SPC, o Alexandre Pires; a do Soweto era o Belo. A banda tem que ter um dono. O Raça Negra tem democracia, mas quem manda sou eu", comenta Luiz Carlos.
Com média de 20 shows por mês, o grupo lota casas em São Paulo, como no show que fez em fevereiro para 2 mil pessoas no HSBC Brasil.
GRUDE NO OUVIDO
No ano passado, o Raça Negra, que se consagrou com sucessos como "Que Pena", "Cheia de Manias" e "Cigana", lançou CD e DVD que, juntos, superaram 100 mil cópias vendidas.
"Quem me ensinou a fazer música simples foram Roberto Carlos e Tim Maia. Diferente do Djavan, que eu respeito, mas que fez música sobre oceano, e demorei seis meses pra entender que ela falava de mulher", diz Luiz Carlos.
"Os shows lotados são a prova de que o pagode está aí, em alta. O que passa na TV hoje é mentira, não representa o sucesso que temos com o público aqui no Brasil", completa o vocalista.
Fonte: Folha de São Paulo