Entre 2011 e 2012 a Secretaria de Estado de Cultura gastou em torno de R$70 milhões no setor, de acordo com o Sistema Integrado de Planejamento, Contabilidade e Finanças (Fiplan). Em que pese esses investimentos vultosos, os recursos beneficiaram apenas alguns setores em detrimento da grande maioria da população. Isso significa que inúmeros projetos são mantidos com muita dificuldade por iniciativa popular enquanto outros recebem milhões para projetos temporários e que muitas vezes nem são de conhecimento público.
Nesse período a Secretaria de Cultura esteve sob a gestão do deputado estadual João Malheiros (PR), que deixou a pasta para ser eleito vice-prefeito de Cuiabá e renunciar antes mesmo de tomar posse.
Contrapondo este cenário, o Instituto Ciranda e Música e Cidadania foi fundado em Cuiabá há mais de 10 anos, trabalha a partir de iniciativas populares e hoje se mantém com parceiros da iniciativa privada e com um investimento mínimo do Governo do Estado. “Hoje todos os nossos recursos arrecadados para a manutenção do projeto são três vezes a mais do que o valor investido pelo Governo do Estado. Eles pagam o aluguel da nossa sede, que não é exatamente adequada para o estudo de música, mas já atende a conta de água e luz”, conta o presidente do instituto, Murilo Alves.
Para a realização do projeto que surgiu através da percepção da necessidade de tirar da ociosidade crianças e adolescentes na capital e também da necessidade de uma escola pública de música, já que Cuiabá é uma das poucas capitais que não oferece este tipo de ensino no país, foi fundado o instituto. Para a viabilidade do projeto também foi necessária a formação de professores de música dos instrumentos da orquestra sinfônica, muitas vezes capacitados em pedagogia musical fora do estado, além da aquisição de equipamentos, materiais didáticos, uniformes e instrumentos musicais – já que o projeto é voltado a crianças e adolescentes carentes e é totalmente gratuito. Isto sem contar a estrutura física e financeira para arcar com um projeto amplo que conta com profissionais de diversas áreas, incluindo a administração.
Ainda segundo Murilo, o grande problema de se conseguir patrocínio para este tipo de projeto social é que na maior parte do ano não há divulgação para os investimentos oferecidos. “Os alunos passam muito tempo em sala de aula aprendendo a tocar e não têm como realizar apresentações; daí vem o grande problema: o dinheiro investido na educação acaba ficando escondido, o que não é muito interessante para a maioria dos políticos”.
Nem mesmo os baixos investimentos do governo impedem a expansão do projeto que somente no ano passado abriu mais dois novos polos de ensino em Chapada dos Guimarães, atendendo mais 150 alunos com aulas todos os sábados. “Se tivéssemos 3 milhões de orçamento, com certeza atenderíamos mais de 500 crianças com aulas todos os dias. Mas mesmo com os baixos recursos, continuamos ganhando cada vez mais espaço”, disse Murilo Alves.
Por: Mayla Miranda
Fotos: Pedro Alves