Ele afirmou que Bruno sabia que o crime estava sendo planejado, apesar de ter negado o conhecimento do atleta na primeira resposta.
Ao ser perguntado se Bruno sabia que o crime aconteceria e era planejado, Jorge disse que “não tinha como não desconfiar. Tava debaixo do nariz dele. Com o Macarrão do jeito que gostava tanto dele, fazia qualquer coisa por ele, não desconfiar daquilo ali? Não mandou matar, mas…”, disse.
Inicialmente, na entrevista, o primo havia afirmado que Bruno não sabia de nada. Mas depois mudou de opinião e pediu para responder a pergunta novamente.
Jorge Luiz ainda diz que Macarrão lhe ofereceu R$ 15 mil para matar Ingrid Calheiros, atual mulher de Bruno. Esse fato teria acontecido quando Jorge foi morar com Bruno no Rio e tinha uma dívida relacionada a drogas.
“Eu já comecei a ver que o Macarrão era uma pessoa que tinha ciúme do Bruno mesmo foi quando eu cheguei na casa e ele sabia que eu tava precisando de dinheiro para pagar essa droga. Ele chegou e perguntou se eu queria ganhar R$ 15 mil e falou: você tem que matar a Ingrid. E falei: só isso? Ele falou: é. Só isso. Aí eu falei: mas por causa de que você quer que eu mate ela? Ele disse que ela não fazia bem ao Bruno."
O primo do goleiro ainda disse que pensou em cometer o crime porque precisava do dinheiro, mas ao conversar com Bruno, percebeu que o primo gostava de Ingrid. Ingrid Calheiros, que casou com Bruno na cadeia, afirmou que nunca soube dessa suposta trama para matá-la.
O rosto de Jorge Luiz nunca tinha aparecido porque era menor de idade quando foi acusado de participar do sequestro e da morte de Eliza Samudio, em junho de 2010. Por envolvimento no assassinato de Eliza, Jorge Luiz ficou dois anos e dois meses numa unidade para menores infratores.
Sem citar o nome de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que está com julgamento marcado para o dia 22 de abril – Jorge Luiz faz outra revelação: era pra Bruninho – na época, com quatro meses – também ser morto. “Pelo Macarrão, a criança tinha morrido também. Dentro do carro, pegou e falou pra mim que só não deixou, só não mandou matar a criança também porque o cara que executou a mãe dele, da criança, não quis fazer nada com a criança. falou que, com a criança, não. Não quis matar a criança”.
Um mês depois do crime, o primo de Bruno prestou um depoimento à polícia do Rio de Janeiro. Foi ele o primeiro a afirmar que Eliza não tinha simplesmente desaparecido. Sobre a questão de que os restos mortais de Eliza teriam sido jogados para os cachorros, Jorge Luiz creditou a informação a Macarrão.
“Que o Macarrão me falou que tinha sido jogado, que tinha dado umas bicudas nela, antes dela morrer, antes de enforcar ela”, contou. Durante o processo, Jorge Luiz mudou o depoimento pelo menos quatro vezes. Segundo o Ministério Público, eram tentativas de diminuir a participação de Bruno no crime.
Sobre o assassinato de Eliza Samudio, a amante com quem o goleiro teve um filho, o primo do goleiro deu vários detalhes. Tudo começa quando Bruno pede pra ele e macarrão buscar Eliza e o filho dela num hotel, no Rio de Janeiro. O motivo seria levar a criança ao médico, mas no trajeto, ele e Macarrão brigaram com Eliza.
“No meio do caminho, os dois começaram a discutir. O Macarrão pegou e chamou ela de vagabunda. Ai, ela pegou e chamou o Macarrão de corno. Nisso, o Macarrão pegou e deu um soco nela e ele dirigindo. Eu tava sentado no banco da frente. Eu peguei, falei: não, só falta bater o carro. Ai, eu peguei, já fui pra cima dela”, contou.
Jorge Luiz afirmou que bateu em Eliza, machucou a boca e o nariz dela. A mulher foi levada juntamente com a criança para a casa do goleiro. O primo do atleta ainda afirmou que o goleiro viu Eliza machucada em casa, contradizendo o depoimento de Bruno à Justiça. Na mesma noite, ela teria sido levada para Minas Gerais.
Sobre a estadia de Eliza e a criança no sítio, Jorge Luiz contou que ela era vigiada e mal tratada por Macarrão. Cinco dias depois de chegar ao sítio, Eliza foi levada para morrer. O primo de Bruno contou detalhes sobre os últimos momentos de vida da mulher.
“Eu tava jogando videogame na sala. Ele pegou, falou assim: o Bruno falou assim que é pra nós deixar a Eliza no apartamento, lá onde ela vai pegar o dinheiro hoje. Quando nós tava saindo, nós já ia pra dentro do carro, o Bruno foi e chegou no sitio”, relatou.
Jorge Luiz disse que Bruninho – o filho de Eliza – também foi junto e que ela estranhou quando Macarrão começou a seguir uma moto.
“Ela questionou: tá demorando muito a chegar. Eu falei: tá demorando mesmo, viu macarrão. Onde que é isso? Ele falou: calma, já ta chegando já. O cara aqui na frente já tá indicando a gente já. Falei: esse cara ai que piscou negócio da moto? Ele falou: é. Sei que nós dobrou uma ruazinha de terra, à direita, ai pegamos e entramos. tava muito escuro. Ela já entrou em desespero, falando pro Macarrão parar o carro, Macarrão não parou o carro. Ele falou: fica tranqüila”, disse Jorge Luiz.
O primo do goleiro conta que Macarrão parou o carro em frente a uma casa, e que deixou a bagagem de Eliza lá dentro. Falei: ô Macarrão, vou esperar lá fora. Nisso, o Macarrão lá dentro com a Eliza e a criança. Depois de umas meia-hora, 40 minutos, veio o Macarrão só com a criança nos braços. Falei: cadê a mãe dessa criança, Macarrão? Que essa criança tá chorando que nem doida. Ele falou: toma a criança aqui. Nós temos que dar um jeito de explicar para o Bruno. O que que nós vai falar o negocio dessa mulher aqui, que deu merda o negócio ai”, contou.
Jorge Luiz seguiu dando mais detalhes. “Ele só falou que o problema dele tava resolvido. Ele falou que tinha dado umas bicudas nela, antes dela morrer, antes de enforcar ela. Falou que já tinha descontado a raiva dele que ele tava dela, do Rio de Janeiro. E depois vendo ela enforcar, ele rindo e a criança no colo dele”, disse.
O primo de Bruno ainda afirmou que nunca viu o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos – o Bola –, acusado de ser o executor de Eliza Samudio, e não conhece ele. Jorge Luiz confessou que tem medo de morrer. “Eu fiquei com medo mesmo foi do… dessa pessoa mesmo que matou a Eliza, do Macarrão ter o contato dela e querer que faça alguma coisa comigo”, confessou.
O julgamento de Bruno está marcado para o próximo dia 4 de março, no Fórum de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ele pode ser condenado a 41 anos de cadeia. A ex-mulher do goleiro, Dayanne do Carmo Souza, acusada de envolvimento no sequestro e cárcere privado de Bruninho, também estará no banco dos réus. Acusação e defesa querem que Jorge Luiz Rosa preste depoimento nesse júri.
Acusação
O promotor do caso Henry Wagner defende a tese de que Jorge Luiz conhece Marcos Aparecido dos Santos. “O Jorge conhecia o Bola porque ele se remete ao Bola em "n" pontos de suas declarações ao Poder Judiciário”, disse.
Em depoimento, o primo de Bruno acusou Marcos Aparecido de ter enforcado Eliza até a morte. Agora, alega que Macarrão que contou isso pra ele e que deu muitas declarações sob efeito de drogas.
A promotoria acredita que Jorge Luiz esteja sendo manipulado. “A defesa procura, através do Jorge, manipulando o Jorge, descredibilizar o Macarrão. fazendo parecer uma pessoa descontrolada, ao mesmo tempo, manipuladora, prepotente, ciumenta, dominadora. Ao passo que o Bruno, ele sim, o serviçal, o atendedor dos caprichos do Macarrão”, afirmou o promotor.
Defesa de Macarrão
O tempo todo, Jorge Luiz fez questão de dizer que Macarrão – que há três meses foi condenado pela morte de Eliza – é o principal culpado. O advogado de Luiz Henrique Ferreira Romão não quis comentar as declarações do primo de Bruno.
Segundo a defesa, o que Macarrão "tinha a dizer sobre o caso consta de seu interrogatório prestado em juízo."
Defesa de Bruno
O advogado de Bruno – Lúcio Adolfo – tenta descredibilizar Jorge Luiz. “É natural que ele escorregue ou que diga algo ou pretenda proteger o Bruno, em determinado instante. Queira prejudicar o Macarrão, em outro ponto. Isso é natural, é da natureza humana. Agora, eu não o vejo como uma testemunha que mereça credibilidade”, disse.
Já o promotor espera a condenação do goleiro. “A expectativa de que mais uma vez se alcance Justiça e de esse réu que é culpado, que é mandante, que é insensível e articulador, que é impiedoso e arrogante, seja condenado”, opina sobre Bruno.
Em contraponto, o defensor de Bruno vai tentar livrar o cliente da condenação. “O Bruno pode ser culpado de vários aspectos, Menos da acusação que se lhe faz: de ter mandado matar Eliza Samudio. Eu vou buscar a absolvição do Bruno”, conclui.
FONTE: PrimeiraHora | GLOBO