Uma televisão grande e moderna, com qualidade superior de som e imagem, é o objeto de desejo de um em cada quatro fãs de futebol que pretendem aproveitar as ofertas na Black Friday deste ano, no próximo dia 25. A ideia é assistir aos jogos da Copa do Mundo de Futebol do Catar, principalmente aos da seleção brasileira, com a família ou com os amigos, sem perder nenhum detalhe.
Isso é o que mostra a pesquisa Perfect Match, realizada pelo Google em parceria com a Offerwise. Essa pesquisa também apurou que 91% da população pretende assistir aos jogos da seleção ao vivo, e que 86% dos brasileiros vão acompanhar todo o campeonato (e não apenas as partidas do time nacional).
Dos torcedores entrevistados, 66% disseram ter a intenção de adquirir um produto ou serviço pensando no Mundial — e desses, 62% afirmaram que querem gastar até R$ 500 nas compras relacionadas à competição.
Ainda segundo esse estudo, as vendas de eletrônicos e móveis, para deixar a casa mais confortável, cresceram no primeiro semestre deste ano. A partir de julho, foi registrado aumento na aquisição de planos de internet, de TVs por assinatura e de camisas das seleções que participam da Copa.
Em setembro, as importações de smart TVs triplicaram, na comparação com o mesmo período do ano passado, informa a KPMG, que também observou queda de 3,2% no preço médio dos aparelhos de TV, entre janeiro e agosto deste ano.
"A Copa do Mundo tende a beneficiar o comércio, mas é um consumo marginal", diz Altamiro Carvalho, assessor econômico da Fecomercio-SP. Para ele, esse evento não vai ter o mesmo impacto que teve no passado na venda de TVs. "Sendo bastante direto, a venda de televisores não será uma grande alavanca de receita do setor de eletrodomésticos e eletrônicos", afirma.
"Existiu uma época em que a Copa do Mundo tinha participação decisiva na venda de televisores, e isso foi num passado recente. Se a gente retroceder uns dez anos, vai ver que a revolução tecnológica desses equipamentos foi muito, muito grande. Rapidamente, passamos de modelos de tamanho médio de 20, 30 polegadas para 50 a 60, com tecnologia 4K e OLED", diz Carvalho.
Hoje, o cenário é diferente porque as televisões modernas têm maior durabilidade e, portanto, não precisam ser trocadas em curto espaço de tempo. "O consumidor tende a permanecer com o mesmo televisor por 6 ou 7 anos, sem que ele tenha nenhum defeito. As TVs de tubo apresentavam problemas de imagem a toda hora, queimavam, entre outras coisas. Ninguém mais troca de televisão a cada um ou dois anos", explica o assessor da Fecomercio-SP.
Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), afirma não ter percebido, até o momento, um grande interesse da população por televisores. "Não é o item principal na lista do consumidor. A partir dos dados da pesquisa de intenção de compras na Black Friday, a TV se mantém estável em relação a 2021, quando 19,4% queriam adquirir um aparelho. Neste ano, mesmo com a Copa, 19,9% dos entrevistados citaram o televisor como um dos produtos que desejam comprar. Não é que essa intenção não seja relevante, mas não me parece que o pessoal esteja tão entusiasmado", opina.
"Em relação ao ano passado, tivemos um aumento de dez pontos no número de pessoas que manifestaram a intenção de fazer compras na Black Friday, o que é um crescimento expressivo", diz Ruiz de Gamboa. "Também diminuiu o índice de consumidores que afirmam que não vão comprar nada, o que deve levar novembro e dezembro a serem mais positivos, e o quarto semestre a ter melhores resultados."
As restrições à circulação de pessoas durante os períodos críticos da pandemia fizeram muita gente investir em mais conforto no lar, e isso pode ter antecipado a compra de TVs. "Ao longo de 2020 e 2021, grande parte da população aproveitou para trocar a televisão que tinha em casa, porque o uso foi intensivo. As lojas de eletrônicos e eletrodomésticos venderam muito acima da média, assim como o ecommerce e, portanto, já houve uma renovação de televisores. Certamente, a demanda agora é muito menor do que era antes", diz Carvalho, assessor da Fecomercio-SP.
Um levantamento feito pela Nielsen em parceria com a Toluna, plataforma especializada em pesquisa de mercado, mostra que os eletrodomésticos são os itens mais desejados pelos consumidores na Black Friday, no topo da lista de 59% da população. Os celulares estão em segundo lugar, com 57% das intenções de compra, seguidos por produtos de vestuário, citados por 56% dos entrevistados.
Os eletrodomésticos também aparecem como os produtos com maior probabilidade de serem adquiridos na Black Friday na pesquisa da startup Eu Amo Cupons. Itens de tecnologia e eletrônicos têm 23% das intenções de compra, os de moda, 15%, beleza e cosméticos, 10%, e outros, 12%.
Eletrônicos foram os produtos citados como os mais desejados por 86% dos mais de 1.600 consumidores, de todas as regiões do país, que participaram do estudo do Pelando, rede social de compras, promoções e cupons de descontos, realizado em setembro. “As expectativas de compra para esta Black Friday são maiores [que as do ano passado], pois os consumidores estão estimulados pela Copa do Mundo”, diz Guilherme Vieira, fundador do Pelando.
Esse levantamento mostra que 57,40% dos consumidores pretendem gastar mais do que na edição de 2021: o tíquete médio de 21% dos participantes está entre R$ 1.000 e R$ 2.000, 13% das pessoas reservaram entre R$ 500 e R$ 1.000, e 14% dos respondentes estão dispostos a gastar mais de R$ 2.000.
Depois dos eletrônicos, os produtos mais desejados são games e computadores (63%), itens de casa e cozinha (35%), supermercado (26%), moda (22%), saúde, beleza e viagens (16%), e serviços de assinatura e delivery (15%).
Historicamente, a televisão é o aparelho eletroeletrônico com maior presença nos domicílios brasileiros. Na pandemia, o celular ganhou destaque e se tornou o principal dispositivo de acesso à internet em casa, fazendo a TV e o computador perderem seu protagonismo. O percentual de residências com smartphones cresceu de 94,4% para 96,3% de 2019 para 2021.
Os dados são do PnadTIC, levantamento de Tecnologia da Informação e Comunicação, que usa como base as informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgado em setembro deste ano.
Com o crescimento dos serviços de streaming, a presença de TVs nas residências já vinha recuando desde 2016, quando era de 97,2%. De 2019 para 2021, mesmo com a ampliação do uso de telas, motivada pelo isolamento social, o movimento de queda se manteve, e foi de 96,2% para 95,5%.
Segundo a Kantar Ibope Media, em dezembro de 2021 havia smart TV em 69% dos domicílios brasileiros. As informações foram obtidas por meio da ferramenta TG.Net, com cerca de 3.000 internautas brasileiros, entre julho e agosto do mesmo ano.
Ulisses Ruiz de Gamboa, da ACSP, diz que a Copa do Mundo está influenciando diretamente a Black Friday em dois pontos: na antecipação das promoções e na venda de TVs e de artigos esportivos. "Porém, na verdade, eu acho que o impacto da Copa nas vendas da Black Friday vai ser pequeno", diz.
Desde o fim de outubro, algumas lojas começaram a anunciar ofertas de "esquenta Black Friday", adiantando alguns descontos para os consumidores. "No caso do televisor, eu acho que isso foi por causa da Copa, o que pode ter acontecido também com os celulares", sugere o economista. Mas ele lembra que, diferentemente do que acontece nos Estados Unidos, país onde surgiu a sexta-feira de superpromoções, no Brasil as lojas já costumavam oferecer descontos em outros dias do mês.
“Os marketplaces realizam o Black November, antecipam as promoções para o início do mês e oferecem aos consumidores mais possibilidades de comprar o que desejam", diz Claudio Dias, CEO da startup Magis5. "Artigos como camisas do Brasil podem ser comprados com descontos semanas ou dias antes do dia 25, para serem usados já no primeiro jogo da seleção.”
Para pagar o valor mais vantajoso, o consumidor deve ficar atento e acompanhar o anúncio das ofertas. "Não tem como saber se o preço vai ficar melhor até o dia 25, é a lei da oferta e da procura, né? Se tiver pouca procura, certamente o preço vai baixar mais", comenta Ruiz de Gamboa.
Para Altamiro Carvalho, da Fecomercio-SP, muita gente espera os preços mais atrativos da Black Friday para adquirir os produtos de que necessita. "As pessoas deixam de gastar no início do mês para consumir no momento seguinte. Como as áreas de eletrodomésticos e eletroeletrônicos estão passando por um momento de desaquecimento, uma forma de darem vazão aos estoques e terem liquidez é baixar os preços. Por isso, a tendência é os descontos ficarem melhores no fim do mês", explica.
Os descontos para quem vai comprar um televisor já estão acima de 50%, pelo menos em lojas online: uma smart TV, com tela 4K de 50 polegadas, que custava originalmente R$ 4.999, é anunciada no site de uma grande rede de lojas por R$ 2.469,05 (pagamento por Pix). Outro site vende o mesmo produto, que custaria R$ 4.879, por R$ 2.399 por Pix, R$ 2.489 no boleto ou em uma vez no cartão de crédito. Para quem precisa parcelar a compra, o pagamento pode ser feito em 12 vezes de R$ 228,19 no cartão, totalizando R$ 2.738,30 a prazo.
Um televisor semelhante, apenas um pouco maior, de 55 polegadas, sai de R$ 5.599 por R$ 2.849. Há, ainda, a opção de um aparelho com tela LED 4K de 65 polegadas, que custava R$ 5.299, e na prévia da Black Friday é vendido por R$ 3.699,30 por PIX, ou por dez parcelas de R$ 389,40 (sem juros).