O dólar disparou contra o real na última sexta-feira (23), acompanhando movimento de forte aversão a risco nos mercados financeiros internacionais conforme a perspectiva de juros crescentes nas principais economias alimenta temores de recessão. O pessimismo provocou queda generalizada das Bolsas e o petróleo desceu ao seu menor preço desde janeiro.
No câmbio brasileiro, o dólar comercial à vista avançou 2,64%, a R$ 5,2480 na venda. Apesar da desvantagem nesta sexta, o real ainda acumula cerca de 6% de ganhos sobre o dólar em 2022.
Na comparação com as principais moedas mundiais, a americana saltou 1,5%. Isso ampliou para 18% a vantagem da divisa dos Estados Unidos sobre essa cesta de moedas neste ano.
A força do dólar ainda levou o euro a renovar a sua menor cotação diária frente à divisa americana em 20 anos. A moeda comum europeia terminou o dia valendo US$ 0,9695.
Dia após dia o euro vem caindo e, desde o início do ano, já perdeu mais de 14% do seu valor em relação ao dólar.
No mercado de câmbio doméstico, o euro comercial subiu 1,11% frente ao real nesta sexta, cotado a R$ 5,0875.
Na Bolsa de Valores do Brasil, o índice Ibovespa mergulhou 2,06%, aos 111.716 pontos. O mercado local acompanhou os tombos das principais Bolsas. A de Nova York caiu 1,72%, considerando a variação do indicador de referência S&P 500.
Parte importante da queda da Bolsa brasileira pode ser atribuída ao tombo de 6,26% das ações da Petrobras, uma das empresas com maior peso na composição do Ibovespa.
A estatal petrolífera foi prejudicada pela forte desvalorização da matéria-prima que produz. O preço do petróleo Brent, referência para esse mercado, afundou 4,67%. A cotação de US$ 86,23 (R$ 450,56) por barril é a menor desde janeiro deste ano.
Diferente do que ocorreu nas principais Bolsas nesta semana, porém, o mercado acionário doméstico obteve uma alta semanal de aproximadamente 2,23%. Nova York acumulou queda de 4,65% em cinco dias. O índice que acompanha 50 grandes empresas da Europa tombou 4,42. Hong Kong perdeu 4,34%.
Analistas atribuem a resistência do Ibovespa e do real à percepção de investidores de que a política monetária brasileira está obtendo sucesso no controle da inflação, embora permaneça no radar do mercado o risco fiscal provocado pelo aumento de gastos públicos do governo federal às vésperas da eleição.
Nesta semana, o Banco Central do Brasil confirmou o fim do ciclo de aumento da taxa básica de juros, embora o país ainda esteja longe de atingir suas metas de inflação. O BC manteve o patamar de 13,75% ao ano para a Selic.
Nos Estados Unidos, porém, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) confirmou a terceira forte elevação seguida de 0,75 ponto percentual no custo do crédito, sem dar sinais de que a batalha contra a inflação está perto do fim.
Esse contexto também justifica a queda da taxa de câmbio no Brasil, enquanto o dólar ganha força em relação às principais moedas.
Além das decisões sobre juros colocarem o mercado local em vantagem, também pesa o fato de que o país aparece como uma das economias emergentes com fatores favoráveis em um cenário de agravamento da Guerra da Ucrânia, pois possui grandes exportadores de matérias-primas e de alimentos com potencial de valorização.
Fábio Guarda, gestor da Galapagos Capital, destaca, porém, que a continuidade no aperto monetário nos Estados Unidos, assim como ocorre no Reino Unido e na zona do euro, reforça a expectativa de recessão entre investidores e isso poderá criar dificuldades para economias emergentes como a brasileira.
Nesta sexta, esse sentimento pessimista foi materializado por mais um dia de aumento dos rendimentos dos títulos de referência do Tesouro dos Estados Unidos, movimento que tradicionalmente ocorre quando investidores tiram seus dólares dos mercados de ações e da renda fixa de países emergentes, entre outros ativos arriscados, para buscar segurança dos títulos soberanos americanos.
"Não houve refresco em nenhum momento do dia", disse Guarda. "Resta saber se o mundo vai passar a negociar considerando um ambiente de recessão", comentou.
BANCO CENTRAL INJETA US$ 2 BILHÕES NO CÂMBIO
O Banco Central do Brasil vendeu nesta sexta-feira US$ 2 bilhões (R$ 10,4 bilhões) em leilões de venda de moeda conjugados com leilões de compra no mercado interbancário, em operação que não realizava desde o fim de 2021, informou a agência Reuters.
O BC recorre a esse instrumento principalmente em momentos de falta de liquidez no mercado de câmbio à vista, o que normalmente ocorre no fim do ano.
O comentário no mercado é que o BC pode ter realizado a operação para ajustes no cupom cambial (taxa de juro em dólar), que acelerou a alta recentemente.
Demanda corporativa pontual também foi citada por operadores como motivo para o leilão extraordinário do BC.