A CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) projeta um impacto de R$ 16,3 bilhões no comércio com o aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 e os benefícios a caminhoneiros e taxistas, que começam a ser pagos a partir da terça-feira (9).
A previsão é que os setores de hiper, super e minimercados (R$ 5,53 bilhões), de combustíveis e lubrificantes (R$ 3,03 bilhões) e as lojas de tecidos, vestuário e calçados (R$ 2,32 bilhões) sejam os mais beneficiados.
Os auxílios fazem parte da PEC (proposta de emenda à Constituição) dos Benefícios Sociais, promulgada em julho pelo Congresso Nacional. A medida autoriza o governo federal a gastar R$ 41,2 bilhões para conceder benefícios sociais apenas até o fim do ano, com início do pagamento a alguns meses das eleições.
Além de autorizar o pagamento de seis parcelas de R$ 1.000 a caminhoneiros e taxistas, a PEC ampliou o número de beneficiados de 18,1 milhões para 20,2 milhões do Auxílio Brasil e o valor, de R$ 400 para R$ 600, desde este mês até dezembro, e aumentou em 50% o Auxílio Gás.
O pagamento das parcelas começa na terça-feira (9) para beneficiários do Auxílio Brasil, Gás e caminhoneiros. Para os taxistas, o calendário será a partir de 16 de agosto.
Segundo a avaliação do presidente da CNC, José Roberto Tadros, a medida tende a disponibilizar novos recursos para o consumo. “Se, por um lado, essas iniciativas prolongam pressões inflacionárias, por outro, no curto prazo, ajudam a recompor a renda das famílias, dando fôlego às vendas no varejo”, avalia Tadros, em boletim da entidade.
No entanto, de acordo com o economista da CNC, Fabio Bentes, pode haver também potenciais efeitos reversos. “Essa movimentação pode provocar impacto negativo sobre as vendas no médio prazo, especialmente em decorrência do prolongamento do aperto monetário”, afirma.
Para o economista, a elevação da taxa básica de juros, a Selic, a 13,75% ao ano, definida na última quarta-feira (3), pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, deverá contribuir para o avanço do custo do crédito. “Esse impacto poderá gradualmente neutralizar os efeitos positivos decorrentes da PEC”, acrescenta Bentes.
O volume de vendas do comércio varejista cresceu apenas 0,1% em maio, em relação ao mês anterior, mas engatou a quinta alta consecutiva, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No ano, a PMS (Pesquisa Mensal do Comércio) mostra que o varejo acumula crescimento de 1,8%, mas ainda amarga uma queda de 0,4% no acumulado dos últimos 12 meses.
As estimativas da entidade para o setor são positivas no curto prazo, o que levou à revisão da previsão de variação do volume de vendas no varejo em 2022 de 1,7% para 2,0%.
Para Luis Augusto Ildefonso, diretor institucional da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping), qualquer entrada de recursos financeiros, por menores que sejam, acaba impactando proporcionalmente o comércio, principalmente nos setores que representam as necessidades básicas do consumidor, como alimentos e vestuário.
"Embora sejam recursos prequenos, uma parcela dele é destinada ao varejo, o que traz uma oportunidade melhor para que o setor possa crescer um pouco, tanto com o auxílio dos taxistas, os R$ 600 e o benefício dos caminhoneiros", avalia Ildefonso.
Ele afirma que ainda não deu para medir de quanto será o crescimento das vendas nos shoppings, mas a medida será um incentivo positivo e deve elevar o otimismo entre os lojistas. Para o Dia dos Pais, a expectativa é de crescimento de cerca de 15% nas vendas, em relação ao ano passado, quando o comércio ainda enfrentava restrições.
A ACSP (Associação Comercial de São Paulo) vê a medida como positiva e acredita que vai compensar pelo menos parcialmente a inflação de alimentos, que foi muito forte nos últimos meses.
"Isso vai permitir principalmente para o comércio de alimentos um aumento das vendas, mas nada explosivo, porque a inflação veio na frente. Primeiro nós tivemos o aumento dos preços, e agora vem o aumento do auxílio, para compensar um pouco daquilo que foi perdido em termos de renda para a inflação", avalia Marcel Solimeo, economista da ACSP.
A prévia da inflação de julho teve uma desaceleração e chegou a 0,13% em julho, de acordo com o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. No ano, a alta acumulada é de 5,79% e, em 12 meses, de 11,39%.
"A medida é positiva e, somada a outras como liberação do FGTS, melhora no número de empregos mesmo sendo de menor qualidade, melhora de abertura de microempresas, tudo isso vai permitir que nós tenhamos nos últimos meses do ano um movimento mais favorável do comércio", acrescenta o economista.