Personagem há muito conhecido no setor de energia, Adriano Pires, confirmado nesta segunda-feira, 28, como indicação do presidente Jair Bolsonaro para ser o novo presidente da Petrobras, já havia sido sondado outras vezes para cargos de menor escalão na estatal e também teve seu nome entre os apontados para chefiar o Ministério de Minas e Energia (MME).
De fala fácil e contundente, é difícil imaginar como será o trabalho de Pires dentro da estatal, depois que dois presidentes já deixaram o cargo após a insatisfação notória de Bolsonaro em relação à política de preços da empresa. Não só porque Pires já criticou diversas vezes as tentativas de mudar essa política, chamando-as de populistas, mas, principalmente, porque seus argumentos vão na linha oposta do que defende a equipe econômica liderada por Paulo Guedes.
Pires se diz favorável ao uso de dividendos da Petrobras para criar um fundo de estabilização que proteja o mercado doméstico de períodos de grandes flutuações dos preços internacionais – como no momento, em função da invasão da Ucrânia pela Rússia. Ele já defendeu a possibilidade de se conceder subsídios em períodos de crise, instrumento que a equipe econômica praticamente em coro refuta, alegando que se trataria de benefícios para as classes média e média alta, quando são os mais pobres os mais necessitados.
Ainda sobre o mercado internacional, Pires já chegou a defender que o preço do barril fosse cotado no dobro do nível atual, em torno de US$ 100. "A gente deveria torcer para o petróleo ir a U$ 200 porque o petróleo passou a ser uma grande fonte de arrecadação para o Brasil", argumentou o presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) há um mês, em live da FPE Debate.
No time árabe
Pelo raciocínio exposto pelo agora novo presidente da Petrobras, o Brasil estaria "no mesmo time" da Arábia Saudita, grande produtor que fez sua riqueza por meio do petróleo. A saída para reduzir para o consumidor os impactos diretos nos preços da gasolina e do botijão de gás, segundo ele, seria separar parte desse aumento de receitas. "Aí a gente teria de pegar o dinheiro dessa arrecadação e fazer política pública para enfrentar esses momentos que são muito momentâneos e são períodos de excepcionalidade."
Conforme o analista da Ativa Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, o nome de Pires agrada ao mercado pelo perfil técnico e que não romperia com as transformações operacionais e financeiras que vêm sendo executadas na companhia desde a metade da década passada.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.