Economia

Pressão de combustível e alimentos deixa incerto fim de ciclo na Selic

 

Com a inflação sem dar trégua e a guerra no Leste Europeu pressionando ainda mais os preços de alimentos e combustíveis, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou a taxa básica de juros pela nona reunião consecutiva. Com um aumento de 1,00 ponto porcentual de ontem, a Selic chegou a 11,75% ao ano, o maior patamar desde abril de 2017 (12,25%).

Mesmo com os choques causados pela invasão russa na Ucrânia, o Copom manteve a promessa de tirar o pé do acelerador. Nas últimas três reuniões, o colegiado havia aumentado a Selic em 1,5 ponto porcentual em cada uma. Após ter chegado à mínima histórica de 2,00% ao ano durante a pandemia, a taxa básica já acumula um ajuste de 9,75 pontos desde março passado.

A última vez que houve nove aumentos seguidos (um ano de aperto) foi entre abril de 2013 e abril de 2014. Na época, o avanço foi mais modesto, de 7,25% para 11,00%, ou 3,75 pontos porcentuais, nas vésperas da campanha de reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). O ritmo de alta dos juros deste ciclo já é o maior desde 1999, quando, durante a crise cambial, o BC aumentou a Selic em 20 pontos porcentuais de uma só vez.

O colegiado também avisou que continuará subindo a taxa. Para a próxima reunião, no começo de maio, a sinalização é de nova alta de 1,00 ponto, levando a Selic para 12,75%. O BC pregou cautela, mas deixou claro que, sob a incerteza ampliada com a guerra, poderá estender o aperto monetário o quanto for necessário para trazer as expectativas de inflação, principalmente de 2023, para perto da meta.

"O Copom avalia que o momento exige serenidade para avaliação da extensão e duração dos atuais choques. Caso esses se provem mais persistentes ou maiores do que o antecipado, o Comitê estará pronto para ajustar o tamanho do ciclo de aperto monetário", afirmou o BC, após a reunião.

TENDÊNCIA

O aviso de que os juros terão mais um aumento de 1,00 ponto porcentual em maio mostra que o BC está comprometido a fazer o que for preciso para trazer a inflação de volta ao centro da meta no ano que vem. A avaliação foi feita pela economista-chefe do Santander, Ana Paula Vescovi, após leitura do comunicado do Copom.

Conforme a economista, que foi secretária do Tesouro no governo Michel Temer, a atuação dos bancos centrais diante da escalada das commodities após a guerra na Ucrânia é para inibir os efeitos secundários do choque de oferta. No Brasil, o BC vai na mesma direção, e deve deixar a porta aberta, conforme expectativa de Vescovi, para mais um aumento de 0,5 ponto porcentual após a reunião de maio, para quando o Copom já indicou que levará a Selic para 12,75%.

Segundo a economista-chefe do Santander, o movimento do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) de começar a subir os juros ontem, indicando mais seis aumentos dos fed funds até o fim do ano, coloca pressão sobre a Selic.

A avaliação dela é de que o ciclo de alta da Selic termina com a taxa a 13,25%, o que deve ser suficiente para que a inflação possa convergir ao centro da meta de 2023 (3,25%).

O Brasil se consolidou como sede de uma das maiores taxas de juros reais (descontada a inflação) do mundo. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 7,10% ao ano. É o segundo juro real mais alto, entre as 40 economias mais relevantes. Só fica atrás da Rússia, que recentemente teve de elevar sua taxa nominal de 9,5% para 20% e estabelecer o controle de capitais, sob a guerra. (COLABOROU EDUARDO LAGUNA)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

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