Economia

Preço médio do gás chega a R$ 150 e revendedores parcelam botijão em SP

O mega-aumento de 16,1% aplicado pela Petrobras no gás de cozinha desde a última sexta-feira (11) já foi repassado aos consumidores no estado de São Paulo.

Com isso, o preço médio do botijão é de R$ 150 e os revendedores estão parcelando o valor em até dez vezes no cartão de crédito, segundo Robson Carneiro dos Santos, presidente do Sergás (Sindicato das Empresas Revendedoras de Gás).

O reajuste de preços pegou o setor de surpresa, segundo ele. Na quinta (10), além do gás de cozinha, a estatal também anunciou alta de 18,8% na gasolina e 24,9% no óleo diesel, o que provocou filas em postos de combustíveis de todo o país.

De acordo com Santos, não houve longas filas em busca de gás na capital paulista, como se via anteriormente, porque o aumento foi de "sopetão". Além disso, o sindicalista atribui a baixa procura à queda no poder de compra dos consumidores, que vem ocoreendo desde 2014 e pirou com a pandemia.

Para não perder clientes, as revendedoras estão parcelando o valor do botijão no cartão de crédito em até dez vezes. "Estamos nos reinventando. Hoje, a gente vende o gás parcelado, em seis vezes, ou em até dez vezes no cartão. É absurdo, uma coisa que você tem que usar de 30 em 30 dias", afirma.

Levantamento de preços feito pela ANP (Agência Nacional do Petróleo) mostra que o valor médio do botijão de gás no país era de 102,42 na semana de 6 a 12 de março. O valor mínimo estava em R$ 78 e o máximo, em R$ 140. No estado de São Paulo, o botijão custava R$ 100,04, em média, e na capital paulista, em R$ 97,09.

Os aumentos no gás de cozinha foram constantes em 2021, para acompanhar as cotações do mercado internacional de petróleo. Segundo a Petrobras, no entanto, o reajuste do gás na última sexta ocorreu após 152 dias com o mesmo preço. A última alta havia sido no dia 9 de outubro de 2021.

Dados do Sergás, que representa uma base de 9.800 revendas no estado de SP, apontam crise no setor, com queda de 20 a 25% no consumo de gás de cozinha, além de 40% de demissões nos últimos dois anos, com a pandemia e as mudanças de hábito dos consumidores.

Por um lado, há quem não tenha dinheiro para o gás e acabe utilizando lenha para cozinhar, por outro, há as famílias que optam pelas panelas e demais utensílios elétricos.
Santos afirma ainda que os reajustes em outros combustíveis anunciados pelo governo também atingem as revendas, já que fica mais caro para entregar o produto. A diferença do preço de entrega para o preço de retirada chega a ser de R$ 20, dependendo da região.
"O setor está passando por uma transformação muito grande. O custo é muito caro. Gasolina e IPVA subiram. A gente está mudando, tirando das ruas, e o consumidor está tendo que ir até o depósito buscar", diz ele.

MAIOR AUMENTO EM 20 ANOS
Na zona leste, Edimar Bezerra Lins, 55 anos, dono de uma pequena revenda de botijão de gás, tenta sobreviver. "Esse é o maior aumento que tivemos em quase 20 anos. E, sempre que há aumento, a gente repassa. A margem de lucro nunca muda, mas repassamos para não ficar no prejuízo", afirma.

Em sua região, o botijão de 13 quilos é vendido hoje por valores entre R$ 120 e R$ 130, após o aumento de R$ 10 com o reajuste da Petrobras. Segundo ele, na quinta-feira (10), dia em que houve o anúncio das medidas, não foi mais possível comprar gás em sua região para revender. "Geralmente, um dia antes eles seguram e nem a gente consegue comprar", afirma.

Se o consumidor fizer a retirada do gás, ele dá desconto de R$ 10, pois consegue diminuir custos com combustível e o veículo para entrega. Segundo ele, em sua região, houve queda de 40% no consumo de gás nos últimos 20 anos, o que faz com que não seja possível ter um funcionário. "Eu vendo e entrego. Não dá para ter funcionário, porque se tiver, tem que pagar tudo certinho e não consigo."

O microempresário diz que a diminuição no consumo é atrelada a vários fatores, além do poder de compra menor nos últimos anos, há a pandemia, a substituição do gás de botijão por gás encanado nos prédios da Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo) perto de seu negócio e a mudança de hábito do consumidor, que usa equipamentos elétricos para cozinhar ou sai para comer fora.

"Já está difícil se manter, e quando você repassa o reajuste, fica ainda mais difícil. Mas não tem como não repassar, tudo sobe neste país, só o salário é que não acompanha", diz ele, relembrando as promessas do governo de diminuição no preço do gás.

VALE-GÁS DO GOVERNO NÃO ESTÁ SENDO SUFICIENTE
A política de pagamento de Auxílio Gás pelo governo federal não está sendo suficiente nem para as famílias nem para o setor, segundo Santos. O programa, que dá um vale de R$ 52 para famílias de baixa renda, começou a valer no final de dezembro.

O sindicalista afirma que, como o dinheiro é pago diretamente na conta do beneficiário, nem sempre o valor se reverte na compra de botijão para cozinhar.

"Quando você insere o vale-gás como auxílio, o dinheiro não vai diretamente na mão do consumidor para comprar o gás. Como ele está precisando de tantas outras coisas, gasta com comida e outras necessidades. Era preciso que fosse uma política que chegasse às distribuidoras, porque não está sendo atingindo o objetivo", afirma.
O valor não é fixo e corresponde à metade do preço médio do botijão de gás, conforme levantamento da ANP com base nos últimos seis meses. A medida atende a 5,4 milhões.

Têm direito aos auxílio-gás as famílias inscritas no CadÚnico com renda mensal per capita (por pessoa da família) menor ou igual a meio salário mínimo (R$ 550 neste ano). Quem tem integrantes no BPC também recebe.

No ano passado, o governador João Doria (PSDB) chegou a pagar, em São Paulo, um vale-gás para famílias de baixa renda. Foram três parcelas no valor de R$ 100, iniciadas em julho. A medida atingiu 426,9 mil famílias que já faziam parte do CadÚnico.

Restaurantes devem repassar reajuste aos poucos Os bares e restaurantes também foram pegos de surpresa com a alta do gás e, com receio de mais prejuízo, devem repassar o reajuste aos poucos para os consumidores, segundo Joaquim Saraiva, presidente da Abrasel-SP (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes). "Não vai ser um repasse imediato, ele vai ser gradativo e isso deve ter um intervalo entre 30 e 60 dias", diz.

Saraiva afirma que o setor vinha recuperando as perdas da pandemia, que chegaram a 20%. Segundo ele, o crescimento após a flexibilização das regras contra Covid-19 estava próximo dos 20% perdidos e, agora, torce para que haja uma estabilização.

O setor deve ser atingido não só pelo reajuste nos combustíveis, o que inclui o gás, a gasolina e o óleo diesel, mas também por reflexos desses aumentos, que devem chegar a alimentos e outros insumos. Quanto à guerra, a avaliação dele é que, por ter começado há 15 dias, ainda não há reflexos nos restaurantes.

"Nós vínhamos numa evolução de crescimento nesse momento. Como a guerra começou fazem só 15 dias, nós ainda não sentimos essa queda de movimento, mas, agora, com esses aumentos que estão vindo, não sabemos ainda como vai ser o comportamento do mercado. Vamos torcer que estabilize e fique no que estamos."

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Economia

Projeto estabelece teto para pagamento de dívida previdenciária

Em 2005, a Lei 11.196/05, que estabeleceu condições especiais (isenção de multas e redução de 50% dos juros de mora)
Economia

Representação Brasileira vota criação do Banco do Sul

Argentina, Bolívia, Equador, Paraguai, Uruguai e Venezuela, além do Brasil, assinaram o Convênio Constitutivo do Banco do Sul em 26