Idoso é calmo, dizem. Essa é a maior falácia da terceira idade canina. O cachorro calmo é aquele pouco estimulado. Um cachorro, mesmo o mais velhinho, deve estar atento e animado para coisas novas. Se não estiver, algo muito errado pode estar acontecendo.
O primeiro passo sempre é fazer um check-up com um médico-veterinário. Depois, passar por um profissional do comportamento.
Não estou dizendo que um cachorro de treze anos tem que ter a disposição de um de cinco. É claro que os tipos de brincadeiras e o tempo de atividade cansam cada vez mais rápido, com o passar da idade.
A grande questão que eu vivencio é a falta de coisas novas na vida de muitos cães idosos. Eu tenho uma velhinha, a Aurora. Muitas vezes, durante os passeios nos parques ou locais pet friendly, as pessoas perguntam a idade dela. Quando eu falo, há um choque inicial. Depois, vem a confissão: “eu tenho um cachorro velhinho, mas ele não quer mais sair de casa. Fica deitado o tempo todo. Por isso eu nem trago aqui”. E a minha resposta é a mesma: “pois da próxima vez, traga. Fará muito bem a ele”. Se a pessoa vai seguir meu conselho ou não, eu não sei. Mas pelo menos fica a reflexão.
Na nossa cultura, há um medo do velho. Ninguém pode ser velho, aparentar velho, andar com velho, andar como velho, ter ideias velhas ou até mesmo usar roupas que pareçam antigas. Durante muitos anos, ser velho era estar à beira da morte. E isso deveria ser escondido. Clubes e atividades para a terceira idade é algo recente, talvez do início deste século.
Em relação aos cães, ainda há esse medo de expor o animal ao público. Como se isso envergonhasse o tutor. Minha cachorra é sem dentes? Sim. Ela anda torta? Sim. Ela é quase cega? Sim. Ela anda mais devagar que a formiga? Sim. Mas mesmo assim eu levo a Aurora para todos os locais.
Quanto mais eu estimulá-la a situações novas, oferecendo desafios e atividades diferentes, mais ela requisitará seu cérebro e sua musculatura. Isso não quer dizer que eu coloco a pobre da cachorra para correr a maratona da São Silvestre. Tudo dentro da liberação dos médicos-veterinários.
As amigas velhas
A Aurora tem uma amiga chamada Cacau. No auge dos seus quase 16 anos, a Cacau mais cai do que anda, mas ama um passeio. Imagina juntar a Aurora e a Cacau em um passeio no parque. É cada olhar de dó que a gente recebe… Dó de que? De estar proporcionando uma vida feliz, da forma como elas gostam? Dó de estar estimulando o suficiente para evitar desenvolver doenças cognitivas degenerativas (ou aumentar, no caso da Aurora).
Se eu quero que minha cachorra dure 15 ou 20 anos bem, com qualidade de vida e feliz, cabe a mim essa responsabilidade. Definitivamente, não é deixando a Aurora e a Cacau deitadas o dia todo, sem nada para fazer, que vamos ajudá-las a viverem mais.
Cães que não se movimentam podem desenvolver mais problemas articulares. Cães que não são estimulados cognitivamente têm maior chance de ter problemas degenerativos. Cães que brincam sempre das mesmas coisas podem cansar ou ficar mais entediados. Cães que comem sempre no mesmo pote podem ter perda de apetite ou até desistir de comer (e a culpa não é da alimentação).
Eu não tenho a menor vergonha de sair com a minha velhinha por aí. Eu quero oferecer a ela tudo que ela mais ama. Tem trilha? Nós vamos! Falou em viagem? Lá estaremos nós! Convite para jantar? Pode contar conosco! Testar um brinquedo novo? Adoramos!
E você, o que você faz pelo seu cão idoso?