A palavra depressão é cada vez mais usada como sinônimo de tristeza em humanos. Mas será que essa doença também aflige os animais? Será que existe depressão em cachorro?
Durante anos, falar sobre saúde mental era um tabu. Não existia depressão, apenas preguiça ou má vontade. Uma pessoa com depressão ou qualquer outra doença psiquiátrica era ridicularizada pela sociedade. Acreditava-se que era falta de Deus ou mesmo desculpa para não seguir a vida.
Com o avanço da ciência e da divulgação sobre as doenças, muitas pessoas puderam compreender a motivação dos seus problemas emocionais e buscar um tratamento efetivo. Mas caímos em outro extremo. Qualquer tristeza, luto, introspecção, desânimo, mau humor é taxada de alguma doença e prescrito remédio.
Com os cães não é diferente. Nunca peguei tanto cachorro com prescrição de fluoxetina (um anti-depressivo). Assim como em humanos, remédio não é a solução. Mesmo para questões emocionais ou psiquiátricas. No caso dos cães, é necessária uma combinação de enriquecimento ambiental, check-up para avaliação de dor, alimentação adequada, exercícios físicos, interação saudável com todos da família e medicação. De nada adianta lotar o cachorro de remédio, se ele não passear todos os dias, por exemplo.
Saúde mental é um assunto sério e que deve ser debatido abertamente. Mas não podemos deixar a moda levar nosso pensamento direto somente para a medicamentalização. É se eximir do papel de tutor, colocando toda responsabilidade no próprio cão.
Existe depressão em cachorro?
Aí é onde começa a polêmica. Na minha humilde opinião, não há depressão em cães. O conceito de depressão em humanos é algo bastante abrangente. Pode ser caracterizado por uma tristeza profunda, que leva a pessoa a não se interessar por nada e ver o mundo de forma cinzenta, sem a graça ou alegria das cores. Em muitos dos casos, há uma vontade de morrer ou um medo profundo da morte.
Os cães não têm estrutura cognitiva suficiente para tamanha concepção de morte, vida, futuro etc. Pode acontecer, sim, do cão ficar muito triste com uma perda ou mudança brusca, por exemplo. Mas um bom manejo ambiental, com passeios diários, enriquecimento ambiental, mordedores e brincadeiras podem tirar o animal desse quadro letárgico. Isso se não houver dor ou alguma queixa fisiológica envolvida.
Meu cachorro é ansioso. E agora?
A ansiedade, assim como a depressão em cachorro, se tornou usual e mal-empregada. Muitos usam a palavra ansiedade como descrição para cães agitados. Aí que meu coração começa a bater acelerado. Ansiedade é uma doença, que deve ser tratada com o médico-veterinário especialista em etologia clínica. Mais uma vez, a solução não é apenas medicação, mas todos um manejo ambiental, treinos, enriquecimento, passeios etc.
Se seu cachorro é agitado, loucão mesmo, ele só tem muito energia. Isso não tem relação com ansiedade. Pode ser apenas falta do que fazer ou atividades que estimulam pouco o animal.
A ansiedade patológica é aquela que vemos o cão a beira de um ataque de pânico. A angústia é tamanha que ele não conhece exercer nenhum outro comportamento, como comer, brincar, buscar carinho. Ele está tão nervoso que começa a executar comportamentos que não fazem sentido para aquele momento. Latir e chorar, quando sozinho, é um exemplo. Se tremer e se esconder ao ouvir vento, chuva, trovão ou fogos de artifício, é outro. Se esse é o caso do seu cachorro, busque ajuda! Ele está em sofrimento.
Ansiedade não é euforia de querer que algo aconteça, mas a angústia ou incerteza do que acontecerá no momento seguinte.
Cães podem sofrer mesmo quando nós julgamos que não. Percebeu algum comportamento diferente, busque o médico-veterinário ou o especialista em comportamento. Não permita que seu cachorro fique angustiado sem que nada seja feito. É nosso dever enquanto tutor oferecer uma vida mais feliz para os nossos peludos.