O livro “As histórias de Kamukuwaká e Yakuwixeku”, de autoria coletiva das aldeias que compõem a etnia Wauja, e o documentário “Wauja Onapã”, produzido pela Associação Indígena Tulukai (AIT) e com roteiro e direção de Piratá Waurá, serão disponibilizados simultaneamente, a partir das 19h desta quinta-feira (30), no site do Instituto Homem Brasileiro (IHB).
As obras resultam de dois projetos diferentes, ambos aprovados no edital MT Nascentes, realizado pela Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT), com recursos da Lei Aldir Blanc. Por se tratar de duas iniciativas do povo Wauja, uma das 16 etnias que habitam o Território Indígena do Xingu, optou-se pelo lançamento em conjunto, porém o documentário só ficará disponível durante 48 horas.
O livro
Idealizado pelo Coletivo de Professores e Historiadores Wauja (CPHW), o livro resulta de expedições, entrevistas, oficinas, debates e pesquisas que ocorrem desde 2014. Composta por 75 páginas, a publicação é dividida entre textos e ilustrações e será disponibilizada gratuitamente na versão digital.
A obra reúne narrativas que dizem respeito à cosmovisão de onze povos xinguanos. Uma das histórias tem como cenário a região da Gruta de Kamukuwaká, sítio arqueológico tombado como Patrimônio da União e que foi alvo de depredação há três anos.
Kamukuwaká e Yakuwixeku, segundo a cultura Wauja, são protagonistas de histórias que estão na origem de códigos morais, sociais e ritualísticos da etnia. “São histórias que vivem em nós, em nossa palavra, em nossas práticas do dia a dia, nossas regras, nossos costumes e festas. Elas contam sobre a origem de nosso território ancestral”, relata Akari Waurá, músico tradicional e cacique.
Estas narrativas são pilares de sustentação da identidade e do cotidiano da etnia e foram salvaguardadas graças à tradição oral, porém algumas estão se perdendo, portanto o registro assegura a transmissão do conhecimento tradicional. “Se não registrar, a história pode acabar, por isso a gente resolveu colocar no papel”, comenta Tukupé Waurá, jovem liderança local.
Além do registro, o livro também tem como missão apresentar estas narrativas aos kajaopa (não indígenas) para conscientizá-los da necessidade de se preservar a região. Afinal, apesar da Gruta de Kamukuwaká ser um espaço sagrado, está localizada fora do Território Indígena do Xingu.
Documentário
Idealizado pela aldeia Piyulaga, o projeto objetiva registrar e ensinar as tradicionais canções do povo Wauja para as atuais e futuras gerações. Para isso, os apaiyekene (professores/músicos/cantores) ensinaram jovens aprendizes durante festividades tradicionais em que as músicas possuem sentido sagrado.
Estes momentos foram registrados pelo olhar de Piratá Waurá, que assina roteiro e direção. Composto por imagens inéditas das festas Kagapa e Yamurikumã, além de alguns depoimentos para contextualizar estas duas celebrações ritualísticas, o curta de quase 20 minutos foi produzido por uma equipe composta exclusivamente por indígenas.
“Para o povo Wauja, a música está em todo lugar. Sem música não tem dança, não tem ritual, não tem cultura. A música traz a festa e a alegria inebriantes para todo o mundo e alegra também os apapaatai, os espíritos protetores de nossos recursos”, explica o cineasta.
A Kagapa é constituída por mais de 80 músicas. O cantor principal fica de pé cantando e tocando o chocalho, enquanto outra pessoa fica sentada ditando o ritmo com o tambor. Os dançarinos acompanham as batidas.Já o Yamurikumã é um ritual feminino no qual só mulheres cantam e dançam. Os cantos se destinam às jovens que têm interesse em aprendê-los para se tornarem cantoras.
O projeto surgiu quando a comunidade percebeu que o saber do canto estava se tornando restrito aos anciãos, inclusive algumas músicas já se perderam e outras estavam em vias de desaparecer. Por isso, além do filme, também foi produzido um material didático de apoio ao ensino Wauja.
Povo Wauja
Habitantes tradicionais do alto e médio rio Tamitatoala (ou Batovi), contabilizam uma população de aproximadamente 800 indivíduos distribuídos em seis aldeias. A alimentação se baseia na pesca, no cultivo da mandioca, no manejo de espécies vegetais úteis e medicinais e na coleta de aguapé e ovos de tracajá.
Serviço
O que: Lançamento do documentário “Wauja Onapã / Canto Wauja" e do livro “As histórias de Kamukuwaká e Yakuwixeku”
Quando: 30 de dezembro (quinta) às 19h