Economia

Crise: fogão a lenha vira hit com alta do gás

O microempreendedor Reginaldo Alves tem sentido no caixa o impacto da disparada de dois preços-chaves da economia: do gás de cozinha e da carne. Instalado num pequeno galpão em Pindamonhangaba (SP), município da região do Vale do Paraíba, desde 2016 ele fabrica fogão a lenha e churrasqueira.

No mês passado, Alves vendeu 25 fogões a lenha portáteis, usados pelas famílias para cozinhar no dia a dia. "Foi o melhor mês de vendas de fogão a lenha, superou até o pico que houve na greve dos caminhoneiros, em maio de 2018."

Em contrapartida, as vendas de churrasqueiras decepcionaram. Não passaram de 15 unidades em agosto. Em épocas normais, chegariam a 30. Em outros anos, em agosto, quando o frio termina, as pessoas já começam a se preparar para as confraternizações, e a procura por churrasqueiras aumenta, explica Alves. Já a demanda por fogão a lenha normalmente não passa de oito unidades mensais.

O microempreendedor atribui a inversão nas vendas à inflação da carne e do gás, que reduziu o apetite pelo churrasco e fez o brasileiro de menor renda recorrer ao fogão a lenha portátil para economizar no combustível.

Em 12 meses até agosto, o preço de ambos os produtos subiu 31%, o triplo da inflação geral, de 9,30%, acumulada no período, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os preços do botijão de gás e o da picanha bovina, o corte preferido para o churrasco, hoje beiram os R$ 100.

O galope das cotações dos dois itens mudou a lógica do negócio de Alves. "Neste ano está diferente: estou ganhando com a alta do gás e perdendo com aumento do preço da a carne", diz o microempreendedor, que resume duas faces do mesmo problema: o descontrole da inflação.

Feito de tijolo refratário e ferro, o valor do fogão a lenha portátil é superior ao da churrasqueira. O modelo mais vendido hoje, de três bocas, custa R$ 650. Já a churrasqueira, fabricada a partir de tambores reciclados, sai por R$ 285.

Apesar do valor maior, Alves diz que a margem de lucro no fogão é menor em relação à da churrasqueira. Mas, segundo o microempreendedor, o que pesa mais para ele não é o ganho. "Pessoalmente, preferia estar vendendo 25 churrasqueiras a R$ 285 a 25 fogões a R$ 650", afirma. O motivo é a finalidade do produto.

Ele, que muitas vezes faz as entregas aos clientes, reconhece que fica muito mais satisfeito com a reação do comprador quando recebe a churrasqueira, já planejando as reuniões. No caso do fogão a lenha, o clima é diferente. "A primeira coisa que falam é que estão comprando para cozinhar o feijão, e a gente vê o desespero das famílias para economizar algum dinheirinho para poder comprar alimento, pagar a conta de luz."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Redação

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