A importância das informações, e do incremento na velocidade de transmissão das mesmas, não se resume ao mundo das notícias. Nosso conhecimento sobre vários fatores da vida, desde o potencial trânsito a ser enfrentado em nossas rotas entre casa e trabalho até o histórico de preços do aço na China, são diferenciais que podem no limite se tornar até uma fonte de renda para os que sabem trabalhar sobre esses aspectos.
Estas informações são também geradoras de volatilidades nos mercados de capitais que explicam o comportamento muitas vezes sinuoso dos preços das grandes empresas brasileiras na nossa bolsa de valores – e também das grandes empresas que são negociadas em mercados internacionais. E a nossa intuição julga que é sempre melhor para o investidor ver o preço das ações e de outros produtos financeiros em sua carteira subindo, uma vez que poderá vende-los a preços maiores no futuro.
Entretanto, o mantra “comprar na baixa, vender na alta” não é o único ditado que rege as regras de ganhos nos mercados financeiros. Episódios recentes dentro dos grandes mercados financeiros tem servido para expor neófitos ao processo de vender a descoberto – uma tática dos mercados que permite a obtenção de lucros a partir da queda de preços de ativos. Mas como informa corretoras que oferecem esse tipo de operação, é preciso boa intuição e conhecimento para não tornar o lucro em potencial em uma perda ilimitada.
Em termos bem simples, a venda a descoberto é a “inversão” do processo normal de comprar um ativo em um preço baixo, para depois vende-lo a um preço mais alto posteriormente. Em grande parte dos casos a venda a descoberto é um “aluguel” de ativos que, assim que passam para as mãos do investidor, são vendidos de imediato no mercado. O acordo de aluguel estabelece que os ativos – em quantidade, e não em preço – devem ser devolvidos para o seu dono em algum ponto no futuro.
Logo, o lucro é obtido através de um processo de “arbitragem” onde a ação vendida a um preço é recomprada a um preço menor do que o de venda, e devolvida ao seu dono original. Entretanto, o potencial de perdas ilimitadas encontra-se na reversão do processo onde o preço do ativo, ao invés de cair, começa a crescer. Dependendo desse crescimento, “fechar” a operação pode gerar um enorme prejuízo para o investidor.
Por isso que as operações de venda a descoberto são geralmente realizadas por grandes fundos de investimento conhecidos como “hedge funds” – ou “fundos de cobertura”. Por conta da alta disponibilidade de recursos que estes fundos possuem, o que incorre na capacidade de absorver perdas de maneira muito mais fácil do que pequenos investidores. Por isso, estes são os investidores que mais ganham – e perdem – com este tipo de operação.
Essa é uma operação que pode gerar ganhos não só em mercados lá fora como o de Wall Street, onde a maior liquidez do mercado é um facilitador destas ações, mas também na nossa Bovespa. Nas semanas em que a bolsa de valores brasileira acumulou quedas, como a segunda semana de março do ano passado, foi possível lucrar a partir das vendas a descoberto das ações que “puxaram” o descenso como Petrobrás, Azul e Gol.
O mesmo se dá no mercado de grãos do Brasil como o do milho, que pode ser negociado tanto na bolsa de valores BM&F quanto em mercados locais. Para os investidores que não desejam ganhar a partir das arbitragens possíveis a partir da diferença regional nos preços dos grãos e de outras commodities dentro do Brasil, é possível usar os preços na bolsa – quando em queda – para realizar vendas a descoberto com base nestes ativos a partir de contratos futuros e opções.
A noção de ganhar com a baixa pode parecer estranha à primeira vista, depois de anos aprendendo que o segredo do sucesso nos investimentos é o exato oposto. Mas a “estranheza” logo passa assim que se começa a pegar contato – e também gosto – pelo mercado financeiro e sua multiplicidade de opções.