Por ser diretamente associado a um dos símbolos da Páscoa, o coelho está entre os presentes mais populares nesta data, mas se engana quem acredita que presentear um ente querido com um pet é uma atitude louvável.
Apesar de serem fofos e muito dóceis, os coelhos, assim como qualquer outro animal doméstico, não devem ser usados como presentes. Isso porque o número de abandonos após a Páscoa cresce consideravelmente. Muitos são deixados em lixeiras, praças e parques, onde acabam morrendo de frio, fome, atropelados ou atacados por outros animais em situação de rua.
Ocorrências do tipo acontecem constantemente pois quem é presenteado com um peludo nem sempre está disposto a sustentar e oferecer os cuidados necessários que ele exige – e são muitos.
Adotar um pet exige de bate-pronto uma boa pesquisa sobre os cuidados necessários, gastos, rotina e atenção que ele precisa. Portanto, surpreender um ente querido com qualquer animal doméstico pode ser um ato irresponsável, que possivelmente causará consequências ao pet, em casos de rejeição.
Em entrevista à Petlove, Keini Dressano, voluntária do grupo de conscientização do GAC (Grupo de Apoio aos Coelhos), conta que os casos de abandono crescem bastante após a Páscoa. “Algumas semanas ou poucos meses após a Páscoa, geralmente recebemos mais pedidos de resgate, embora não sabemos informar exatamente o número anual. Muitas pessoas ainda não entendem sobre a responsabilidade de ter um animal e compram coelhos para presentear seus filhos na data por impulso e de maneira não consciente. O resultado disso é que após um tempo, as crianças perdem o interesse no animal, e os pais irresponsáveis decidem doar sem critério algum ou simplesmente abandonam”, disse a representante.
O Grupo de Apoio aos Coelhos tem a missão de promover a qualidade de vida e o bem-estar dos coelhos, eliminando situações de abandono e negligência por meio da assistência direta aos pets e tutores, bem como a informação e conscientização. O grupo foi criado em 2016 por quatro amigas que se uniram para lutar pelos direitos dos coelhos. Em seus quatro anos de existência, o GAC proporcionou uma vida nova a mais de 500 orelhudos. Só no ano passado, a cada três dias um peludo foi acolhido.
Segundo Keini, muitos acabam morrendo após o abandono por não saberem se proteger. “A triste verdade é que o coelho não está preparado para se defender e pode ser ferido ou morto por um predador, ficar desnutrido, pegar alguma doença ou praga, pode ser atropelado ou se machucar. Para a grande maioria, o resultado é sofrimento seguido de morte”, conta.
O que posso fazer caso presencie alguma situação de abandono?
A representante do GAC destaca que o abandono é crime e deve ser denunciado às autoridades. Tentar coletar o máximo de informações possíveis, como placa de carro e o endereço onde ocorreu também são necessários. Sobre o coelho abandonado, “a primeira providência é retirar o peludo da situação de risco. A pessoa deve averiguar se tem algum machucado ou lesão aparente, se for esse o caso, ele precisa ser encaminhado imediatamente a algum atendimento veterinário especializado para o tratamento adequado. Remédios usados por outros pets, dicas caseiras de amigos, familiares, entre outros, não são recomendados. Buscar conselhos e prescrição de medicamentos em grupos de redes sociais também não é o caminho. Infelizmente, alguns desses grupos estão cheios de pessoas despreparadas e que acabam passando informações erradas que podem colocar a vida do coelho em risco”.
Situação “delicada”
A Professora e Médica Veterinária Yamê Davies, em entrevista para a Petlove, destaca que os coelhos devem ser usados como presente apenas se houver o consentimento da pessoa, isto é, sem que haja qualquer tipo de surpresa. “É muito delicado presentear alguma pessoa com um animal, ainda mais se ela não está esperando. Isso precisa ser acordado entre os dois lados, pois diversas questões antes da adoção devem ser discutidas, como a importância da criação, os cuidados, tempo exigido, gastos financeiros, tudo isso deve ser debatido”, alertou a médica veterinária.
“A gente não sabe a condição real da pessoa, se ela quer o pet, tem tempo e dinheiro para cuidar dele. Às vezes a pessoa não sabe como tomar conta, não está preparada e acaba sendo presenteada com um animal, que não estava em seus planos. Isso acaba gerando muitas situações de abandono”, conta Yamê que afirmou ainda que situações do tipo devem ser evitadas ao máximo.
Vendas na Páscoa
Por serem relacionados diretamente ao símbolo da Páscoa, de acordo com Yamê Davies, muitos pet shops fazem grandes divulgações na época próxima ao feriado para aumentar as venda de coelhos. “Vários lugares fazem diversas promoções próximas à data incentivando as pessoas a usarem coelhos como presente, ou seja, muitos são influenciados e acabam comprando por impulso”, afirmou.
Portanto, é preciso ter em mente que adotar um animal é um assunto que deve ser muito pensado, afinal, eles não são como um objeto, que podem ser trocados ou descartados quando bem entender.