Roger Tibaldi Almeida da Silva, de 26 anos, a caminho do trabalho, nesta quarta-feira (9), tomou a iniciativa de visitar a exposição “Imensuráveis – Memorial de Vítimas da Covid-19”. A visita não teve o propósito de conhecer o novo espaço do Museu de Arte Sacra de Mato Grosso (MASMT), mas sim para conferir a homenagem feita ao seu pai, Josué Francisco da Silva, que faleceu vítima de covid-19 em julho.
“Não teve velório, por causa da pandemia. (…) Na verdade, ele foi cremado, que era a opção dele. Realizamos o sonho dele da cremação. Foi uma coisa tão bonita. Jogamos suas cinzas em Chapada, no Morro dos Ventos. Agora é só lembrança”, explica Roger. No dia da inauguração do Memorial, que ocorreu no último sábado (5), ele não teve forças para ir ao local.
“Josué era o chato mais legal que tivemos a benção de conviver”, descreveu Roger sobre como se lembra do pai que faleceu há cinco meses. “Era um pai chato, mas era um cara honesto, trabalhador. Ele sempre gostava das coisas certas e ajudava as pessoas”.
José foi diagnosticado há cerca de cinco meses antes de falecer com fibrose pulmonar. Em determinado momento, ele teve complicações e a família acreditou ser algum agravamento da doença, porém uma semana após a internação descobriu-se que ele estava com covid-19. Entre o diagnóstico e sua morte, foram 20 dias. José faleceu no dia 29 de julho de 2020, pouco mais de uma semana após completar 49 anos. Seu aniversário, aliás, aconteceu no hospital.
Os 20 dias de internação foram tensos para a família de Roger. “É uma coisa que a gente achava que ele iria para o hospital e o médico disse que ele ia sair em cinco dias. Era aquela expectativa”, conta.
José é uma das mais de 160 vítimas que receberam homenagens de amigos e familiares no memorial criado pelo Museu de Arte Sacra de Mato Grosso. O espaço, inclusive, passa a sensação de que o novo coronavírus não escolhe idade. Há pessoas mais velhas, como o Nelson Luiz de Amorim, de 92 anos, e pessoas jovens, como Mariah Aparecida Machado, de 21.
Mariah faleceu no dia 11 de julho de 2020. Na mensagem deixada pelos familiares, Mariah é descrita como “bonita, inteligente e determinada, sempre conseguia o que queria. Filha muito amada de Aparecida Pires Machado e Expedito Ferreira de Castro, foi orgulho de toda a família. Sua beleza só não foi maior que sua inteligência e determinação. Sempre foi aplicada nos estudos e muito bem-sucedida em tudo que fazia”.
Envio de homenagens
Em entrevista, a diretora do Museu, Viviene Lozi, explicou que a ideia de criar o memorial vem sendo trabalhada desde maio. O memorial tem justamente o propósito de acalentar a dor da perda e segue disponível para receber homenagens de familiares e amigos a entes queridos que faleceram vítimas de covid-19.
Para participar, o familiar ou amigo precisa enviar fotos dos entes queridos com uma frase ou texto contando como foi a vida da pessoa. O conteúdo deve ser enviado pelo email museuartesacramt@gmail.com ou no WhatsApp do Museu, (65) 99965-0319.
As imagens são distribuídas em 14 painés anexados na Praça do Seminário. Cada imagem, contem foto, frase e um QR Code. Ao apontar a câmera para o código, o visitante é direcionado para uma página com um resumo sobre a vítima, enviado pelos familiares e amigos. Futuramente, o memorial poderá ser conferido de forma totalmente online.
Serviço
Imensuráveis – Memorial das vítimas da Covid 19 em Mato Grosso
Onde: Praça do Seminário, bairro Dom Aquino, Cuiabá
Quando: terça a domingo, das 9h às 17h