As exibições recorrentes de nossos bons dados de preservação ambiental, tais como dois terços de florestas intocadas, código florestal mais restritivo do mundo, preservação das matas ciliares etc. já viraram arroz de festa, ninguém dá bola pra eles.
Também não adianta acusar os países europeus de deslealdade comercial, quando superestimam as queimadas na Amazônia para preservarem seus mercados da concorrência brasileira.
Para entendermos a reação do mundo aos nossos argumentos, bastam dois fatos: primeiro, a preservação amazônica virou religião e, segundo, o mercado ou as empresas que o representam, por questão de reputação, sempre seguirão a opinião dos seus consumidores, que hoje nos são desfavoráveis.
Se é religião não adianta apresentar imagens de satélite de nossas matas, porque os “crentes” simplesmente não dão a menor importância para informações que contradizem suas convicções.
Quanto ao capitalismo é natural que ele queira ficar do lado dos consumidores que o sustenta, desvinculando a imagem das suas empresas de regiões ou de produtos que carreguem a pecha de antiecológico.
Isso quer dizer que estamos perdidos mesmo e o que é melhor botar o rabo entre as pernas e fugir do combate? Acho que não. Precisamos aprender a jogar o jogo, principalmente durante este governo que infantilmente teima em ignorar os jovens consumidores, que são os modernos cruzados dispostos a salvar o Santo Sepulcro – a floresta Amazônica – da mão dos ímpios, nós, os irresponsáveis a destruidores.
O que conta mesmo para os jovens são as derrubadas e queimadas, consideradas profanadoras da sacra floresta e nós estamos escolhendo a arma errada para a luta: é melhor aderirmos à sua crença, concordando que a Amazônia é sagrada mesmo. Dessa forma, devemos abraçar a religião dos verdes, mesmo que seja como os Cristãos Novos no sec. XVI, que se “converteram” ao cristianismo para escapar das perseguições da Igreja.
Se não é tão fácil eliminar de vez as derrubadas e queimadas nas matas tropicais, como querem os jovens consumidores, não é tão difícil assim criar planos que sinalizem concretamente nossa intenção de acabarmos com o corte de árvores na região, mesmo porque não precisamos mais desse expediente, pois temos áreas desmatadas suficientes para dobrar produção agropecuária.
Não seria plano “pra inglês ver” porque eles não são tão ingênuos que possam ser enganados com um pirulito doce nesta era de abundância de dados e imagens à disposição de todos. Deve ser algo concreto e exequível, porque nos interessa conquistar os jovens para consumirem sem dramas nossas abundantes colheitas e atrair investimentos de que o País precisa.
O atual governo está totalmente errado na sua política ambiental confrontando consumidores e tentando esconder dados desabonadores como queimadas na Amazônia. Se não interrompermos imediatamente as derrubadas vamos ter dois grandes prejuízos: fuga dos compradores de nossos produtos e afastamento dos grandes grupos que investiram e investem seus dólares aqui.
A preservação é a religião da moda; não convém contestá-la, mesmo porque na essência ela é muito bem vinda. Só devemos despi-la, depois de acalmados os ânimos, dos fanatismos que acompanham as crenças.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor