O setor da construção civil continua a amargar os efeitos da crise iniciada em 2014. O mercado de trabalho formal tem hoje seu nível mais baixo, dos últimos quatro anos, e os empreendimentos só agora voltam a apresentar sinais de movimentação.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil, Joaquim Santana, diz que menos de seis mil trabalhadores estão associados à entidade, o que representa maior informalidade no setor.
“Nos anos em que foi muito bom para construção civil, chegamos até 26 mil trabalhadores ligados ao sindicato. Esse número só vem caindo, e hoje não posso dizer que tenho seis trabalhadores cadastrados com a gente, apesar de alguma movimentação de empreendimentos”.
Ele afirma que a estratégia adotada pelas construtoras é deixar na informalidade ao menos a metade dos trabalhadores contratados por canteiro de obra. Os motivos seriam tanto o fraco movimento que o setor atravessa quanto os custos das regras trabalhistas para manter um empregado legalizado.
“De cada dez trabalhadores na obra uns cinco estão no mercado informal. E isso piorou nos anos mais recentes com mudanças nas regras trabalhistas e da Previdência”.
O período de ouro para construção civil em Mato Grosso durou de 2010 a 2014, anos em que o setor, impulsionado pelos programas federais de habitação, abriu várias frentes de expansão da alvenaria, principalmente em Cuiabá. Quando a fonte secou, na reta final de 2014, o setor foi um dos que sentiu de modo mais rápido e intenso o declínio da economia brasileira até à recessão.
Dados divulgados nesta sexta-feira (24) pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostram que a construção civil criou 71,1 mil vagas de trabalho no País em 2019. Já é sinal de recuperação se comparado com 2018. Naquele ano, quando outros nichos do mercado tinham números de recuperação, a construção civil ainda estava em queda e registrou o pior saldo, com perda de 117 mil vagas de trabalho.
Destravamento
O presidente do Sindicato das Indústrias de Construção de Mato Grosso, Júlio Flávio de Campos, diz que o mercado imobiliário começou a reaquecer em 2019, ano em que somente a Caixa Econômica Federal investiu mais de R$ 1 bilhão em financiamento. Mas, já no ano anterior, o índice de ocupação na área teve saldo positivo com mais entrada do que saída do mercado de trabalho.
“Principalmente no último trimestre do ano passado, houve aumento muito bom do investimento na construção civil em Mato Grosso. No restante anterior do ano, havia uma sensação de insegurança por causa da votação da reforma da Previdência. Mas, na reta final, o aquecimento ficou no patamar anterior à crise”.
Segundo ele, a baixa dos juros somada aos programas sociais e à entrada de outras instituições financeiras no nicho na oferta de financiamento tem provocado o retorno da valorização imobiliária. As grandes imobiliárias voltaram à cena de negociação com lançamento de novos empreendimentos, e o cenário tende a firmar em 2020.
“Há certa preocupação com a mudança no ICMS pelo governo estadual o que tem contribuição para o aumento do preço dos insumos, mas acredito que é um cenário que vai se normalizar e manter o crescimento da construção civil”.