Uma das vítimas do homem que confessou ter infectado quatro mulheres com o vírus da imunodeficiência humana (HIV) de forma proposital revelou, em entrevista ao Circuito Mato Grosso, como recebeu o diagnóstico do vírus. Ela também contou como conheceu o suspeito, deu detalhes das ameaças sofridas e falou sobre a decisão de denunciar o criminoso.
Haroldo Duarte da Silveira, de 32 anos, foi preso nesta quinta-feira (29), em Cuiabá-MT. Ele estava fora do Estado e foi detido na manhã de hoje ao retornar para a Capital. Além das quatro vítimas, o rapaz confessou uma quinta vítima de seus ataques. O homem foi indiciado por quatro tentativas de feminicídio.
Priscila (nome fictício), 27 anos, contou que teve o primeiro contato com o suspeito pela internet em 2016, mas que só o viu pessoalmente no ano seguinte. “A gente se conheceu por meio de uma rede social e ficamos conversando por mais de um ano. Só fomos nos conhecer pessoalmente em julho de 2017, em uma festa de aniversário da minha prima”.
Segundo a vítima, eles transaram pouco tempo depois do dia em que se conheceram, e relatou que o suspeito pedia para se relacionar sem o uso de preservativos. “Ele sempre rejeitava usar camisinha e como eu usava o DIU [Dispositivo Intrauterino] para não engravidar, achei que não haveria problemas”.
Priscila disse que os primeiros sintomas do vírus vieram logo após as relações com Haroldo, mas que o vírus não era descoberto pelos médicos das Unidades de Pronto Atendimento (UPA). “Dois meses depois de ter relações com ele, comecei a passar mal com febre, além de vômitos e diarreia. Porém, isso era tratado como virose nas unidades de saúde”.
Depois de passar por diversas policlínicas, a vítima decidiu procurar uma clínica particular e descobriu que havia sido contaminada por meio de procedimentos de rotina, em janeiro de 2018. “Depois que passei a ter queda de cabelo, fui recomendada a fazer exames gerais para investigar o que poderia ser e descobri que estava infectada em um exame ginecológico”.
Com o resultado positivo para o vírus, Priscila disse que Haroldo se afastou por um período e que tentou disfarçar as suspeitas que ela tinha ao tentar uma reaproximação. “Sempre desconfiei que fosse ele, pois ele era a única pessoa com a qual eu tinha feito sexo no período, e principalmente depois de um afastamento repentino. Quando voltamos a nos relacionar, ele passou a usar preservativos, para despistar qualquer tipo de dúvida”.
Conforme a vítima, o flagrante que comprovou as suas suspeitas veio ainda no ano passado, quando ela se deparou com o rapaz aguardando atendimento no Serviço de Assistência Especializada em HIV/AIDS (SAE-DST). Após o encontro inesperado, o suspeito confirmou que também estava infectado, mas disse não saber quando havia contraído o vírus. Porém, instantes depois, ele passou a fazer ameaças à Priscila.
“Ele sempre dizia uma frase para justificar o que cometia: É por isso que o Bin Laden explodia as pessoas. Isso me marcou muito. Depois que descobri tudo, ele passou a tentar me intimidar, dizendo que eu morava sozinha e que poderia acabar comigo”.
Priscila disse que se encontrou com as outras vítimas contaminadas pelo acusado, propositalmente, e que foi surpreendida com o relato de uma delas. Haroldo teria dito a uma namorada, à época dos fatos, que havia sido infectado após se relacionar sexualmente com Priscila. “Ele ainda tentou se passar por vítima na situação, dizendo para uma das mulheres que eu havia transmitido o HIV para ele”.
A decisão de denunciar o suspeito partiu de duas delas, já que as outras mulheres não se sentiam a vontade para expor o caso. No entanto, elas mudaram de postura e resolveram levar o caso à Polícia Civil, para evitar que outras pessoas passassem pela mesma situação.
“Vejo a prisão dele como uma forma de poupar novas vítimas dessa maldade absurda. Acredito que ele tenha ficado revoltado com a perda do pai, que morreu de câncer há uns anos, mas ele tem uma filha jovem e deveria ter noção e consciência da brutalidade dos seus atos. Não desejo o mal, mas ele tem que pagar pelo que fez”.
Mesmo com uma sequela que perdurará pelo resto da vida, Priscila garante ter superado o trauma de ter adquirido a infecção e ressalta que tem uma vida normal.
“Comecei a fazer os tratamentos logo após o diagnóstico e isso melhorou muito a minha qualidade de vida. A AIDS não tem cura, mas o tratamento correto diminui muito os danos causados. Hoje me lido bem com o que aconteceu e só não divulgo o meu nome para preservar os meus filhos. Acredito que estou ajudando as vítimas ao falar abertamente sobre o caso”.