O ministro da Justiça, Sergio Moro, deve continuar a ser o grande personagem político da semana, mesmo que não o queira. Moro adiou seu depoimento que estava marcado para a próxima quarta-feira na Câmara, alegando viagem aos Estados Unidos, onde fica até quarta-feira visitando órgãos de segurança e inteligência.
O ministro havia sido convidado para uma reunião conjunta com várias comissões da casa com o objetivo de falar sobre os diálogos entre ele e o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava-Jato em Curitiba, que vêm sendo divulgados pelo site The Intercept Brasil.
Na semana passada, Moro foi, também espontaneamente, à Comissão de Constituição e Justiça do Senado e respondeu a perguntas por quase nove horas num clima predominantemente ameno. Voltou a contestar a autenticidade dos áudios, mas disse que deixaria o governo se alguma irregularidade fosse comprovada. “Não tenho apego ao cargo”, afirmou.
A expecattiva é que na Câmara o clima seria mais pesado para Moro. Segundo a vice-presidente da CCJ, Bia Kicis (PSL-DF), a audiência com o ministro deve ser remarcada para o dia 2 ou 3 de mulho.
A ausência de Moro deve dar gás à oposição. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) disse que vai apresentar um requerimento de convocação ainda nesta segunda-feira. Gleisi Hoffmann (PT-PR) afirmou, no Twitter, que o ministro “fugiu” depois de sua convocação ter sido transformada num convite.
Outro evento que deve dar gás à artilharia anti-Moro no Congresso é o depoimento do jornalista Glenn Greenwald, do Intercept, à Comissão de Direitos Humanos da Câmara, nesta terça-feira. Greenwald tem afirmado que continuará publicando reportagens com base em mensagens de Moro e dos procuradores. Neste domingo, ele publicou o primeiro texto em parceria com o jornal Folha de S. Paulo.
Para completar o protagonismo político da Lava-Jato na semana, na terça-feira a segunda turma do Supremo Tribunal Federal deve voltar a julgar um pedido da defesa de Lula de anulamento de ações contra o ex-presidente, alegando parcialidade de Sergio Moro. O julgamento foi iniciado no ano passado e o placar parcial é de 2 a 0 contra o pedido, com votos de Edson Fachin e Cármen Lúcia.
De lá pra cá, muita coisa mudou. O juiz virou ministro e, depois, vidraça. Seu destino político e judicial deve ser traçado nos próximos dias.