O Papa Francisco recebe nesta segunda-feira no Vaticano o líder indígena Raoni, um importante aliado na defesa da Amazônia, um dos grandes desafios do primeiro pontífice latino-americano.
O indígena brasileiro iniciou em 12 de maio uma excursão de três semanas pela Europa, onde foi recebido por chefes de Estado, marchou com jovens em favor do clima e agora se reúne com o Papa.
“Com este encontro, o Papa Francisco quer reiterar sua atenção pela população e pelo meio ambiente da região amazônica e seu compromisso com a proteção da Casa Comum”, explicou no domingo o porta-voz do Papa, Alessandro Gisotti.
Considerado o pontífice mais sensível aos problemas ecológicos após a publicação em 2015 da encíclica “Laudato Si”, o Papa argentino convocou para outubro deste ano um sínodo ou assembleia de bispos sobre a Amazônia, a fim de proteger os povos desta região que abrange nove países e é considerada o pulmão do planeta.
“A audiência com Raoni também faz parte da preparação para a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a região Panamazônica, a ser realizada de 6 a 27 outubro, com o tema ‘Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para Ecologia'”, precisou Gisotti.
O líder Kayapó, que viaja acompanhado de outros três líderes indígenas do Xingu, tem sofrido a devastação de seu vasto território, ameaçado pelo desmatamento, pelo agronegócio e pela indústria madeireira.
Um fenômeno que o próprio Papa denunciou quando visitou Puerto Maldonado em janeiro de 2018, uma cidade rural no sudeste do Peru, cercada pela floresta amazônica.
A preocupação do Papa com as ameaças contra esse santuário da biodiversidade coincide com a de muitas populações amazônicas, determinadas a defender sua identidade e seus costumes.
É a primeira vez que a Igreja Católica apoia oficialmente atividades concretas em favor do cuidado ambiental, inclusive nas paróquias.
A viagem de Raoni acontece em meio a tensões com o presidente Jair Bolsonaro, que tem se mostrado favorável à exploração de áreas protegidas.
O cardeal brasileiro Cláudio Hummes, próximo ao Papa, relator geral do Sínodo a ser realizado de 6 a 27 de outubro, reconheceu recentemente em Roma que a defesa da Amazônia gera muitas “resistências e incompreensões”.
“Os interesses econômicos e o paradigma tecnocrático são contrários a qualquer tentativa de mudança e estão prontos a se imporem com força, violando os direitos fundamentais das populações no território e as normasde sustentabilidade e proteção da Amazônia”, explicou Hummes.
A igreja de Francisco também está empenhada em proteger “os esquecidos” da floresta amazônica, as populações mais pobres.
A Amazônia é habitada por 390 povos com uma identidade cultural e uma língua própria, e tem cerca de 120 aldeias livres em isolamento voluntário.
Este território, compartilhado por nove países e habitado por cerca de 34 milhões de pessoas, abriga 20% da água doce não congelada do mundo, 34% das florestas primárias e 30-50% da fauna e flora do planeta.