O ano era 1999. O palco, o Parque Manoel de Campos Bicudo, localizado bem no coração de Cuiabá,entre a Avenida Tenente Coronel Duarte e a Rua Coronel Escolástico, tombado como Patrimônio Histórico Municipal pelo Decreto Lei nº 970 de 13 de dezembro de 1983. Há exatamente 20 anos o conhecido "Morro da Luz" recebeu a sua última revitalização e desde então foi esquecido pelo poder público, se tornando moradia de usuários de drogas e mendigos que perambulam pelas ruas da Capital.
O lugar ficou conhecido como Morro da Luz, na década de 50, com a criação da Força Luz e Água (EFLA), instalada em setembro de 1951, antecessora a Centrais elétricas de Mato-grossense S/A (CEMAT), que foi criada em 04 de agosto de 1958, com a Lei 832, sancionada pelo então governador João Ponce de Arruda.
A equipe do Circuito Mato Grosso subiu o Morro da Luz acompanhando o artista plástico, Antônio de Pádua, que foi o responsável na época pela instalação de obras de artes no local, a exemplo da esfera de pedra canga que fica na entrada do morro, no início da Avenida Coronel Escolástico.
“Essa pedra canga é muito conhecida por aqui. Ela é uma pedra poderosa que foi bastante utilizada nas construções de Cuiabá, como muros e paredes de casarões antigos da Capital . Aiinda hoje é muito usada na edificação de casas modernas”, explicou o artista.
Pádua relatou que a ideia de revitalização do local surgiu após a concessionária Rede Cemat assumir os serviços de energia elétrica, e uma parceria com o governo e prefeitura aconteceu favoreceu a reforma do espaço.
“Como a sede da concessionária ficava no alto do morro, a diretoria teve a iniciativa de revitalizá-lo. Gramaram, encheram de luzes, e o morro ficou a coisa mais linda, se tornando um ponto turístico da cidade”.
(FotoS: João Paulo Leventi/CMT)
O artista plástico contou que, na época, o espaço foi tomado por famílias e turistas que aproveitavam a beleza e frescor que tomava conta do Morro da Luz, devido as variadas espécies de árvores nele existentes.
“Vinham famílias inteiras, as pessoas sentavam nos bancos e bebiam água do chafariz e visitavam aqui, como visitam a Orla do Porto hoje em dia”.
Quando aceitou o desafio de participar da revitalização, o Morro da Luz, segundo Antônio de Pádua, era abandonado, e que trilhas de chão batido cortavam a área verde, que foi explorada pelo bandeirante Miguel Sutil nos idos de 1722, sendo ele o primeiro homem branco a chegar ao topo do Morro da Luz,guiado por um indígena.
Do início do Morro da Luz na Avenida Tenente Coronel Duarte, até o seu cume na Rua Manoel Santos Coimbra, são 115 degraus, única grande obra construída no local em 300 anos.
“Tem essa escada que começa aqui, e vai até a parte de cima e outra escadaria que dá acesso ao morro na Rua Manoel Coimbra. Foi essa restauração, de escada a paisagismo, com plantio de várias espécies de árvores, jardins com flores e vasos, bem arrumado e era bem frequentado nos finais de semana e fim de tarde”, detalhe Pádua.
Ainda no meio do Morro da Luz aconteciam shows e apresentações culturais, “muitos casais vinham aqui em cima namorar, fazer fotos, tinha apresentações de teatro, brincadeiras, um espaço agradável para frequentar, e até no período noturno era seguro, pois a polícia agia constantemente no local, e também era muito iluminado, com vários pontos de luz por todo lado”.
O artista ainda gravou um vídeo falando de todo o projeto e tristeza de hoje ver o local abandonado, além de felicitar a capital pelo tricentenário (Veja o vídeo abaixo).
O auge do conhecido Morro da Luz segundo o artista plástico Antônio de Pádua, durou quatro anos, quando acabaram, por parte do poder público, a manutenção do local que era frequentado por famílias, e acabou se transformando em de usuários de drogas.
Em agosto de 2017, a nossa reportagem visitou o local, e entrevistou alguns dependentes químicos que hoje habitam o Morro da Luz, e entre os entrevistados, estava Cristina Silva, 34 que faz uso de crack, desde os 14 anos de idade.
Para a equipe Cristina revelou que quando os usuários saíram do local conhecido como “Ilha da Banana”, foram encaminhados para um casarão alugado pelo Governo do Estado, visando as obras do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT).
De acordo com ela, o casarão que o governo cedeu a eles não funciona e estava todo depredado pela própria polícia que diversas vezes o invadiu. Por isso ninguém quis mais ficar ali, inclusive porque houve incêndio no local que eles têm utilizado às vezes só para tomar banho e nada mais.
“Aqui no morro, é melhor que ficar no casarão, aqui a gente tem mais liberdade, podemos ficar sossegados. Lá a polícia ia toda hora. Aqui a polícia sobe só quando alguém rouba lá embaixo e aparece por aqui, aí eles sobem, revistam, quebram as barracas, mas depois vão embora”, disse na época.
“Até hoje não sei o porquê houve esse abandono por parte do poder público no local, se no início tivessem implantado uma base da polícia, continuado a manutenção, hoje o espaço estaria sendo bem frequentado”, disse desapontado o artista plástico com o abandono do Morro da Luz.
Uma análise criminal da Coordenadoria de Estatísticas da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp-MT) mostrou em 2017 que a região, nas imediações da Ilha da Banana, Morro da Luz e Beco do Candeeiro, concentra pontos de vendas de drogas na capital e também é local onde acontecem vários roubos à pessoa.
O ex-deputado estadual Mauro Savi, em 2012, apresentou na Assembleia Legislativa uma indicação para revitalização do Morro da Luz o espaço, visando preservar a história de Cuiabá, e também ser mais um ponto turístico para a Copa do Mundo que aconteceu em 2014 na Capital mato-grossense.
“O Morro da Luz faz parte da formação da cultura popular de nossa Cuiabá e suas trilhas e praças foram denominadas homenageando personagens folclóricos da cuiabania, tais como: Maria Taquara, Tufica, Zé Bolo Flor, Maria Perna Grossa, Guaporé, General Saco, entre outros. Andar pelas 10 trilhas distribuídas nos 10 hectares da mata verde é uma aula (de campo) sobre as personalidades, causos, estórias e historias cuiabanas. As várias espécies arbóreas encontradas no Morro da Luz também são importantes e a preservação das mesmas é relevante. Lá encontramos: Gabiroba, Bocaiúva, Pata de Vaca, Jatobá, Embaúba, Ipê (amarelo branco e roxo), Jacarandá, Jenipapo, etc”, argumentou o ex-parlamentar à época.
Já em fevereiro deste ano, o deputado estadual Silvio Fávero, apresentou outra indicação para revitalizar o local, e também ter uma fiscalização permanente do espaço. "Através desta, indicamos uma parceria entre o Executivo Estadual e Municipal, com o objetivo precípuo de revitalizar o Parque Antonio Pires de Campos, também conhecido como Morro da Luz, entregando á população este ponto de referencia geográfico, histórico e simbólico de nossa capital".
O prefeito de Cuiabá, visando as comemorações dos 300 anos, aprovou o pacote de obras e revitalizações em Cuiabá, e entre os pontos escolhidos, está a requalificação do Morro da Luz.

No planejamento da Prefeitura está a construção de memoriais, parques, museus, implantação de ônibus elétricos, e até um restaurante giratório nas alturas, que será alocado no Morro da Luz, conforme o projeto “Requalificação do Morro da Luz”, que também inclui a construção de uma passarela que interliga as igrejas da capital, chamada de “Caminho das Igrejas”.
Conforme o prefeito, o restaurante irá funcionar em uma torre, chamada “Torre 300 anos”. A ideia foi inspirada no The View, empreendimento localizado em plena Times Square. “O pessoal falou: ‘você quer aquele restaurante que gira ou parado?’, eu perguntei: ‘como que é em Nova Iorque?’, ele falou: ‘lá gira’, então eu quero que gira aqui também. Por que tem em Nova Iorque e aqui não vai ter? Eu quero que gira o de Cuiabá também”, brincou.
Todo o projeto de requalificação do Morro da Luz deve custar R$ 50 milhões, de acordo com o orçamento inicial. Além do empreendimento, o prefeito também planeja trazer um Museu de Arte, que funcionará como os museus de cera mundo afora.

Procurada pelo Circuito Mato Grosso, a Secretaria Extraordinária dos 300 Anos, responsável pelas criação e a execução de políticas públicas no aniversário de Cuiabá, até a conclusão da matéria não retornou com o parecer da SEC 300 sobre o andamento dos projetos lançados pelo prefeito Emanuel Pinheiro.
{relacionadas}