O indígena Dyakalo Foratu Matipu pertencente a etnia Matipu do Alto do Xingu (950 km de Cuiabá) está fazendo sucesso na internet após participar do ‘Desafio dos 10 anos’( #10yearchallenge). Ele postou uma foto do ano de 2009 com o diploma de Agente de Saúde Indígena e outra de 2019 com o diploma de Técnico de Enfermagem. Em apenas três dias a publicação tinha 2.043 curtidas e 2.039 compartilhamentos.
O Desafio dos 10 anos ou #10yearchallenge é uma brincadeira onde os usuários postam imagens de como eram em 2009 e como estão agora em 2019. É uma hashtag voltada para demonstrar o quanto mudamos ao longo de uma década e, principalmente, lembrar onde estávamos e até onde chegamos.
O Dyakalo mais conhecido por todos como Farato conta como foi a sua trajetória que vai além da capacitação profissional, mas, da realização de um sonho. “Em 1994 na época com nove anos morava na aldeia Kalapalo onde instalaram a primeira escola indígena, porém, eu tinha muito medo de frequentar as aulas, pois, ouvia histórias que mencionava que os alunos que fossem ‘burros’ apanhavam dos professores, por mais que minha mãe brigasse comigo para estudar eu sempre fugia para o mato, pegava a minha flechinha e ia caçar passarinhos”, conta Farato.
A falta de informação sobre a importância da alfabetização fez com que ficasse atrasado diante das outras crianças da sua faixa-etária e isso fez com que sofresse pela primeira vez bullying. “Entrei na escola no segundo semestre de 1994, porém, estava muito atrasado e não sabia ler e nem escrever como os outros alunos, e para provocar elas escreviam na areia e depois pediam para ler, como não conseguia ficavam chamando de burro e me humilhando de várias outras formas. Por vergonha e medo ficava sentado na fundo da oca”, fala o técnico de enfermagem.
Os desafios de Dyakalo em busca de ensino estava apenas começando. Ele mudou para a tribo Matipu e diferente da outra, o conteúdo ministrado era na língua materna, o que dificultou ainda mais o seu aprendizado.“Foi nessa época que surgiu o meu sonho de ser Monitor de Saúde. Fui até a casa do agente da minha tribo e disse que queria ser igual a ele e perguntei se podia me ensina. Eu também queria cuidar dos pacientes indígenas como ele fazia”, conta Farato.
Em 1997 com apenas 13 anos de idade passou por um treinamento para ser Monitor de Saúde Indígena. Em 2006 fez o curso para ser Agente de Saúde Indígena, na qual concluiu em 2009. Pelos três anos seguintes exerceu a profissão na aldeia, porém, ainda não tinha realizado o seu grande desejo de concluir ensino médio.
“Eu pedi demissão do meu trabalho e fui embora da tribo para morar em Canarana para realizar o meu grande sonho de fazer o ensino médio, nessa época também fiz cursos de operador de caixa de supermercado, atendente de farmácia, auxiliar administrativo e guia turístico. Distribui inúmeros currículos, porém, não conseguiu adentrar no mercado de trabalho”, declara Farato.
Em 2016 começou a fazer o curso de Técnico de Enfermagem e mesmo com esse extenso currículo teve dificuldades em arrumar emprego. “Tive que trabalhar como pedreiro para me sustentar, as pessoas ficavam me humilhando chamando de doutor porque eu era um Agente de Saúde, mas, trabalhava como servente. Nunca baixei a minha cabeça”, declara Matipu.
Atualmente é funcionário de uma empresa de eventos e ainda luta por uma vaga no mercado de trabalho e fala que jamais desistirá dos seus sonhos. “Eu sou indígena, sempre ficarei de cabeça erguida. Quero mostrar que nós somos capazes de exercer qualquer profissão, podemos ser advogado, médico, engenheiro, motorista, faxineiro entre outros. Somos seres humanos e podemos fazer de tudo”, finaliza Matipu.