Paladares exigentes e em busca de sabores diferentes fazem com que as indústrias de cervejas se adaptem aos clientes. Foi como as bebidas artesanais ganharam espaço em todo Mato Grosso. Várias empresas foram abertas nos últimos anos com uma variedade de sabores: doces, amargos e o tradicional pilsen (ainda o mais consumido), entre outros, fazem parte da gama de cervejas produzidas em nosso Estado.
Trabalhando com produtos de melhor qualidade e quase sempre puro malte, as cervejas artesanais têm feito com que os degustadores e apreciadores da bebida deixem de lado as marcas das grandes indústrias. No ramo artesanal, existem os mais variados sabores e cervejas que demoram até um ano para ficarem prontos.
Em Cuiabá, algumas marcas já se firmaram e são bastante apreciadas pelos amantes de uma boa cerveja. Pode se dizer que uma grande parcela desse grande sucesso das cervejas artesanais em Mato Grosso se deve à criação das Cervejarias Louvada, Kessbier e, mais recentemente, Cuyabana. A Louvada foi a que cresceu antes e de maneira mais rápida, conquistando o mercado mato-grossense e se expandindo para outras regiões do Brasil.
Ygor Quintela, um dos sócios da Louvada, explicou à reportagem que a ideia surgiu no segundo semestre de 2014 e apenas um ano e dois meses depois a fábrica já estava em pleno funcionamento. Conquistou rapidamente o paladar dos cuiabanos. De três funcionários no início, hoje a fábrica atua com 45 colaboradores.
“No início, foi difícil mudar o padrão de consumo do público, que era acostumado com as cervejas pilsen de grandes indústrias. Então, tiramos aquela cultura de só pilsen e passamos a ofertar outros sabores. Essa dificuldade foi superada e tivemos a felicidade de perceber que o mercado também já estava se adaptando e buscando cervejas com mais qualidade”, informou.
Atualmente, a marca trabalha com 11 estilos diferentes de cerveja, desde a tradicional pilsen até a hope larger, que é uma das preferidas pelos consumidores. Ainda no catálogo de produtos, existem dois estilos premiados com medalhas em competições cervejeiras.
A cerveja Benedita, criada pelos jornalistas mato-grossenses Anselmo Pinto e Rodrigo Vargas e hoje fabricada e distribuída pela Louvada, ganhou medalha de bronze na categoria American Stout no Festival Brasileiro de Cerveja, em Blumenau (SC). E há outra medalhista, a Dark Side 3, uma cerveja legitimamente Russian Imperial Stout que ganhou medalha de ouro no mesmo festival.
Gregório Ballaroti, um dos sócios do negócio, é quem cria os sabores e atua como o mestre cervejeiro da fábrica. Atualmente, a Louvada está sendo vendida em todo o estado de Mato Grosso e também em Rondônia, e para continuar atendendo à demanda está sendo criada uma nova fábrica. “Estamos criando uma fábrica nova que deve ficar pronta ainda este mês, cinco vezes maior do que a que atuamos hoje. A fábrica atual será desmontada e montaremos uma planta em Porto Velho (RO). Pretendemos expandir o negócio para o Brasil inteiro”, revelou em primeira mão Ygor.
Cuyabana
Outra marca que chegou para ficar é Cervejaria Cuyabana, fundada por Ricardo Augusto e seu primo, que utilizaram a antiga fábrica de refrigerantes da família para realizar o sonho de começar a produzir uma cerveja genuinamente cuiabana.
“Nossa família era proprietária da fábrica dos refrigerantes Friss, que acabou fechando e meu primo sugeriu que usássemos a fábrica que fica em Várzea Grande (região metropolitana de Cuiabá) para produzir cervejas há um ano”, explicou.
Atualmente, a fábrica produz dois tipos de cerveja, a pilsen e a summer ale. Ricardo exaltou a escolha do nome e a valorização da capital mato-grossense para apadrinhar a bebida. “Quando surgiu a ideia de montar a cervejaria, pensamos que precisaríamos fazer algo que fosse regional desde o nome até o rótulo. Buscamos valorizar a cultura local e daí o nome Cuyabana, e a aceitação foi muito boa, pois os clientes têm empatia pelo nome e principalmente pelo sabor da Cuyabana”.
Atualmente, a fábrica está produzindo 12 mil litros por mês, e como diferencial, de acordo com Ricardo, além da valorização da cultura cuiabana, está a opção de chope delivery.
“O cliente pode solicitar pelo nosso site, Facebook, Instagram ou WhatsApp os barris de chope de 30 ou 50 litros. Isso é para o cliente que quer a comodidade de estar em casa realizando uma confraternização com os amigos e busca por uma cerveja artesanal de qualidade. Para o cliente, é mais barato e mais cômodo, pois não precisa mexer com gelo, garrafas, caixa térmica, essas coisas”.
Quem desejar tomar a cerveja no momento pode encontrá-la em Cuiabá, Várzea Grande, Chapada dos Guimarães e Campo Verde e, segundo Ricardo, há ainda um plano de expansão para atender outros municípios em 2019.
Ela é a primeira cervejaria artesanal de Mato Grosso, nasceu em Nova Mutum (242 km de Cuiabá) e começou a produção quando o então advogado Marco Aurélio Piacentini conheceu o engenheiro agrônomo Guilherme Giorgi e eles se juntaram a José Bettú. A partir daí, o trio conquistou espaço, ganhou mercado e prêmios nacionais, sendo a KessBier a cervejaria artesanal mais premiada do Centro-Oeste.
Ao Circuito Mato Grosso, Marco Aurélio revelou que a paixão pela cerveja, com criações feitas para amigos em casa, fez com que a produção aumentasse gradativamente até construir uma fábrica com os sócios.
“Em 2008, comecei a me interessar por cerveja artesanal e comecei a estudar para fazer cerveja em casa. Com o tempo, adquiri os materiais e passei a produzir na minha residência. Comecei fabricando 30 litros, depois mudei para 100 litros e os amigos provando e gostando. Criei um blog sobre fabricação de cerveja caseira que se chama KessBier e por causa desse blog, pessoas de fora do Estado iam entrando em contato comigo, trocando ideias, e um desses contatos ocasionais foi o Guilherme, que morava em São Paulo e havia se mudado para Nova Mutum e gostava de fabricar cerveja em casa”, contou.
No dia 5 de dezembro de 2013, tinham início as atividades da Kessbier e, atualmente, de acordo com Marco, existem registrados no Ministério da Agricultura mais de 17 tipos de cervejas fabricadas pela marca. “Temos alguns estilos fixos na nossa linha de produção e fazemos uma espécie de rotação por sazonalidade. A märzen é uma das nossas filhas que mais nos dá orgulho, pois é uma das mais premiadas”, revelou.
Em 2015, a märzen ganhou medalha de prata no Festival Brasileiro da Cerveja, bronze na South Beer Cup, em Mar del Plata (Argentina), no campeonato que é considerado a Copa Libertadores da Cerveja. Ainda em 2017, a märzen faturou medalha de bronze no Festival Brasileiro da Cerveja e, em 2018, novamente foi premiada na South Beer Cup, com mais uma medalha.
A KessBier tem fábrica e vários pontos de venda em Nova Mutum, mas, além da cidade de origem, os apreciadores podem saborear a bebida em pontos de vendas em Cuiabá, Campo Novo do Parecis, Rondonópolis, Sinop, Sorriso, Lucas do Rio Verde e Diamantino. “As medalhas que temos ganhado em festivais nacionais e internacionais demonstram a nossa qualidade. Quando mandamos uma cerveja para concurso, ela é enviada a pessoas que são especialistas em caçar defeitos, quando mandamos um estilo para concurso, serve para você ganhar um prêmio ou ouvir uma crítica e muitas vezes, quando recebemos uma crítica, ela nos ajuda a gerir nosso controle de qualidade e planejamento do produto”, completou.
Lançando novidades mensalmente, Marco contou que rotaciona alguns estilos para agradar os clientes e estar todo mês com uma cerveja diferente nas torneiras.
A vitis saison, explica Marco Aurélio, foi desenvolvida no estilo belga (com suco de uva de uma fábrica de Nova Mutum), centeio e anis. Outro estilo que foge do comum e atrai os consumidores é a belgian mango brut, que demora um ano para ficar pronta, pois é fabricada com uma cerveja belga forte com suco de manga e é refermentada com fermento de champanhe e leveduras selvagens. Ambos os estilos foram premiados com medalhas em campeonatos.
Para finalizar, Marco Aurélio diz que esse é o diferencial que tem atraído novos paladares que buscam qualidade e novos sabores na cerveja e do orgulho que sente da KessBier. “Temos orgulho de ser a cervejaria mais antiga em atividade no estado, temos orgulho de ser a mais premiada, e nos orgulhamos de ver que está tendo um crescimento de mercado com novas cervejarias que estão criando produtos de qualidade. Isso é bastante importante”.
Em Sinop, há dois anos e meio nascia a Cervejaria Bionda, criada pelos empresários Rogério Luis Bortoluzzi, Fabiana Scopel Bortoluzzi, Claudecir Scopel e Joel Alexandre Meira. Rogéri confessou que para a criação da fábrica, apostou no clima quente e no paladar refinado da população de Sinop e demais municípios do estado. E empresa foi constituída em janeiro de 2014, porém a produção na planta começou em janeiro de 2016.
Atualmente, a fábrica produz sete tipos de cervejas e mais cinco tipos com glúten free – “uma cerveja glúten free não significa glúten zero, mas sim que por legislação do Codex todo o alimento para ser considerado assim deve estar com concentração de glúten abaixo de 20 PPMs (partes por milhão). Nas cervejas glúten free da Cervejaria Bionda, a concentração fica abaixo de 5 PPMs, ou seja, totalmente segura para um celíaco ingerir”, explicou o empresário.
A fábrica tem capacidade para a produção atual de 40.000 litros mensais, porém atualmente fabrica 40% da capacidade. A venda de chope se concentra no estado, mas garrafas da bebida já estão sendo vendidas fora de Mato Grosso. “A venda de chope se concentra em Mato Grosso, porém estamos abrindo as vendas em Rondônia e Pará, já as garrafas, por serem mais versáteis, além de Mato Grosso, Rondônia e Pará, também estão sendo comercializadas no Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul”, revelou Rogério.
E como diferencial da marca, Rogério exalta a qualidade na produção, tempo de fermentação, entre outros. “Se comparado com cervejas em grande escala, eu diria que o diferencial é que respeitamos a maneira dos primeiros que faziam esta bebida, respeitando os ingredientes, tempo de fermentação e maturação”, resumiu.