Cultura

Cacerense publica livro sobre os conflitos miliares que o país participou

“Eu defendo uma teoria que o Brasil não se tornou independente em Sete de Setembro. A minha teoria é que o Brasil se tornou independente em 1808, quando a família real de Portugal chegou ao Brasil para fugir das tropas de Napoleão na Europa”. A interpretação é do escritor e produtor rural Manoel Cunha Filho. Poucos teriam essa visão histórica. Mas é só como uma nação (e não uma colônia) que o país pode se relacionar com os demais países e participar de conflitos militares pelo mundo afora. E é sobre os combates bélicos que trata o seu segundo livro histórico de sua carreira.

Lançado em setembro do ano passado, o livro Guerras e heróis – conflitos que o Brasil participou retrata os seis principais conflitos miliares que o país enfrentou após sua independência. A participação do Brasil – ora como uma das protagonistas, ora como uma das coadjuvantes – nos conflitos são a Guerra Cisplatina, a Guerra do Prata, a Guerra do Paraguai, a Guerra do Paraguai e na Primeira e Segunda Guerras Mundiais.

“Eu descrevo as principais batalhas e o que aconteceu com os principais heróis”, conta. A obra está disponível tanto em versão digital quanto impressa (veja abaixo como adquirir a obra). A publicação contou com uma cerimônia de lançamento na Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB). “Teve o lançamento lá na sede da AABB. Felizmente, houve um movimento muito bom. Uma festividade muito boa. Consegui lançar com boa repercussão. Vou indo devagar sem maiores pretensões”, disse.

Foto da capa do livro de Manoel Cunha Filho.
Fonte: Ilustração

Ele recebeu o Circuito Mato Grosso em sua casa, um apartamento num dos edifícios que fica de frente para o Centro Político Administrativo, para falar sobre a publicação de seu segundo livro. Manoel não tem uma formação acadêmica ou qualquer outro curso em história. É mais um autodidata. Sua vontade de escrever sobre o tema vem da admiração do valor histórico de Cuiabá, bem como de viver e presenciar os principais eventos históricos da cidade.

“O que me levou a escrever este livro é o momento que o país atravessa de tanto descrédito, tanto patriotismo e tanta desonestidade. Então esse livro eu procuro mostrar que nem sempre foi assim. Que nós temos valores, que nós temos heróis — gente do passado que souberam dar um nome ao país que o presente está desmantelado”, observa.

Com 82 anos, Manoel foi muita coisa nesta vida. Ele nasceu em Cáceres no final da década de 1930. Nessa época, o Brasil vivia o ápice do regime Vargas e Mato Grosso ainda era um dos maiores federações do país em extensão territorial — os estados de Rondônia e Mato Grosso do Sul faziam parte do Estado mato-grossense.

Distante a 223 km noroeste da capital, num tempo em que as comunicações entre os municípios eram demoradas, ele levava uma vida rural e provinciana. Típica do interior. “Eu vivia no mundo rural. Meu pai era ruralista e depois acabou falindo economicamente. Aí ficamos meio desamparados”, comentou.

E, por lá, Manoel viveu quase duas décadas. Com 16 anos, ele se mudou para Cuiabá. Um moleque, diz. Era 1951 e Manoel tinha somente o segundo grau. “Cheguei aqui meio analfabeto ainda”, contou. Na capital, trabalhou em diversos serviços. E um dos primeiros foi à tipografia. O que hoje se faz num programa de edição, Manoel montava os jornais da época manualmente.

“[Era] aquele sistema de Gutemberg. Formando uma chapinha, letra por letra. Depois você botava numa prancha, aí vinha a impressora e passava a tinta e o papel saiu do outro lado do jornal. Tudo manual. Tudo manual”, conta.

Foi trabalhando com as palavras dia após dias que Manoel foi se educando. “Me levaram para a tipografia e aí que eu me alfabetizei. A alfabetização minha ocorreu na tipografia por que era obrigado a ler. E ali aprendi a ler” disse.

Em seguida, trabalhou como radialista. Ele participou da fundação da Rádio Cultura em 1955. Localizada na Rua Joaquim Murtinho, a rádio é uma das mais antigas da cidade. Atualmente, ela foi comprada pelo Grupo Gazeta. “Eu sou da fundação dessa emissora. Eu era repórter. Eu fazia reportagem e serviço de locução”, respondeu Manoel, que trabalhou um ano com a emissora.

Em 1957, ele estudou para passar em um concurso do Banco do Brasil. “Naquela época, o Banco não exigia diploma para fazer concurso. Eu tinha o segundo ano e passei para o concurso do BB. Não era fácil, mas estudei. Estudava com luz de lamparina por que na época não tinha luz em casa. Trabalhava o dia inteiro e a noite estudava com luz de lamparina”, relembra.

Depois de ser aprovado no concurso, ele conseguiu suas primeiras conquistas intelectuais. “Só depois dos 22 anos, eu comecei a estudar realmente”, comenta. Com a segurança financeira de um cargo num banco público, ele se formou primeiramente em contabilidade. Dez anos depois, por volta de 1967, ele se formou em direito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). “Quase não exerci a profissão, por que eu já era funcionário do Banco do Brasil. Já tinha dez anos de casa já. Então eu achei que não compensava a aventura. Achei que estava mais seguro como funcionário do banco”, disse.

Trabalhou para o Banco por 30 anos. “Devido à carreira no banco eu tive que passar seis anos fora de Cuiabá. Aí depois eu retornei para cá. E permaneci para aposentar. E nossa história é essa”, conta. Ele se aposentou com 52 anos no final da década de 1980.

Pouco mais de vintes anos depois de sua aposentadoria, Manoel publicaria seu primeiro livro. A obra foi lançada em 2003. Histórias de Cuiabá é um livro que retrata os momentos marcantes que a capital passou em quase três séculos de existência. Por causa da obra, ele recebeu o título de cidadão cuiabano pela Câmara Municipal de Vereadores.

Cuiabá a 3 graus Celsius 

No livro, ele relata os principais fatos históricos de Cuiabá desde a sua fundação até momentos do novo milênio. Até situações e momentos inusitados da cidade foram relatados por Manoel, como a enchente de 2001 ou o dia que Cuiabá registrou uma temperatura de três graus Celsius – a menor até então registrada. Além disso, ele fala também de figuras mato-grossenses que se projetaram nacionalmente, como Marechal Cândido Rondon e Eurico Gaspar Dutra, que foi presidente do país de 1946 a 1951.

O livro também foi publicado de forma independente. 1500 cópias foram tiradas sob sua encomenda. A edição atualmente está esgotada. “Eu não reedito por que é muito difícil. Editar um livro não é fácil. Por que a gente aqui em Mato Grosso não tem nome. Você não tem mídia aqui. Dificilmente você consegue”, comenta.

Além de escritor e aposentado, Manoel é produtor rural. Ele tem uma fazenda em Poconé (a 104 km a sul de Cuiabá). “Eu crio gado. Faço plantação. Produtor rural mesmo. Quer dizer, eu não pego mais no negócio lá [enxada]. Tô mais dirigindo lá. O físico não suporta mais”, comenta e ri.

Ele passa três dias da semana na fazenda e o restante em Cuiabá com a esposa e a família. Mas, seja aqui ou acolá, a leitura o acompanha. “Sempre gostei muito de ler. Fui trabalhar em jornal e tinha por obrigação que ler. E nisso aí, que devo a ter entrado no Banco do Brasil por que eu não tinha estudo e como fui trabalhar em jornal aprendi pelo menos a noção de escrever. A leitura que dá cultura”, comenta.

ONDE ENCONTRAR O LIVRO
O livro pode ser adquirido pelo site da editora Clube de Autores (clique aqui). Ele pode ser adquirido também por meio de depósito bancário. Após o pagamento, o comprador poderá comunicar Manoel através do telefone (65) 3028-7867 ou pelo e-mail manoelcunhafilho@hotmail.com. O livro será enviado então pelo correio. Uma última forma é comprar diretamente com o autor. Basta ligar no telefone acima e marcar um ponto de encontro ou encontrá-lo em sua residência, que informará o endereço na ligação.
 

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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