A redução das taxas de juros do crédito imobiliário e o aumento do percentual do valor do imóvel financiado anunciados esta semana pela Caixa Econômica Federal podem contribuir tanto para o próprio banco quanto para melhorar o cenário do mercado imobiliário no Brasil. É o que avaliam economistas entrevistados. Os especialistas dizem que, apesar das condições favoráveis, compradores devem ter cautela antes de assumir dívidas e avaliar se as parcelas cabem dentro do orçamento.
As taxas mínimas da Caixa passaram de 10,25% ao ano para 9% ao ano, no caso de imóveis do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), e de 11,25% ao ano para 10% ao ano para imóveis enquadrados no Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI). As taxas máximas caíram de 11% para 10,25%, no caso do SFH, e de 12,25% 11,25%, no SFI. O banco também aumentou novamente o limite de cota de financiamento do imóvel usado, de 50% para 70%.
De acordo com o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) Alberto Ajzental, especialista no setor, a medida traz à Caixa, que estava há 17 meses sem mexer nas taxas, “de volta para o jogo”. A mudança equipara o banco em termos de juros para financiamento imobiliário no SFH ao Itaú Unibanco, que até então oferecia taxas mais vantajosas.
A decisão, segundo o economista, foi acertada uma vez que o cenário econômico está favorável com a queda da Selic, que é taxa básica de juros da economia, para 6,5% ao ano. Além disso, o banco está em um bom momento.
No ano passado, alegando falta de recursos, a Caixa reduziu para 50%do valor do imóvel o limite máximo de financiamento de imóveis usados. No mês passado, no entanto, o banco mostrou melhoras, anunciando um lucro líquido recorde de R$ 12,5 bilhões, em 2017. O crescimento em relação a 2016 chegou a 202,6%.
“Isso ajuda a ter liquidez. Ao longo do ano passado a Caixa não estava se vendo em condições de fazer isso. Acertadamente, olhou para a empresa e não para a pressão política e populista. A empresa tem que ser preservada”, diz.
O professor do Ibmec-DF José Kobori concorda com a análise. “A Caixa estava mais cara que os bancos privados, agora não apenas se equiparou, como ficou pouca coisa abaixo”, compara.
Segundo Kobori, a ação da Caixa poderá aquecer o mercado imobiliário e impulsionar a construção civil, mas é possível que isso não tenha um efeito muito significativo imediatamente, devido ainda a altas taxas de desemprego e endividamento das famílias. “Não podemos ser pessimistas, mas não podemos ser otimistas demais”, pondera. “Se olhar da maneira racional, o endividamento ainda é alto e a massa salarial não cresce de forma suficiente para retomada mais forte da economia”.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há 12,7 milhões de pessoas desocupadas – a taxa de desemprego tem se mantido estável desde o ano passado. Já o percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso aumentou em março pela primeira vez no ano, atingindo 25,2%, uma alta de 0,3 ponto percentual, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).
Cuidados na compra
Após período de baixa, o volume de imóveis vendidos no país cresceu 9,4% no ano passado, na comparação com 2016, segundo levantamento da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e do Senai Nacional. Foram vendidas 94.221 unidades em 2017, contra 86.140 unidades de 2016. A aposta é que a redução de juros ajude a impulsionar ainda mais o mercado este ano.
Na avaliação de Ajzental, após a recessão dos últimos três anos, o país está em um cenário de estabilidade. “Enquanto está caindo não se sabe se vai afundar junto com o barco, se tem que pular no mar. Na hora que parou de afundar, fica claro quem está no barco e quem está no mar. Quem se manteve, volta a pensar em consumir, obviamente não é o mercado consumidor que tinha pleno emprego, mas é quem está pensando em trocar de carro, trocar de imóvel”, diz.
Para aqueles que querem adquirir um imóvel, a notícia é boa, de acordo com Kobori, pois irão conseguir comprar a casa própria em um bom momento, com taxas baixas. Emprego fixo e estabilidade econômica são segundo ele, requisitos necessários por aqueles que desejam buscar um financiamento. É necessário também avaliar se a parcela do financiamento cabe dentro do salário.
Apesar de ser possível financiar até 70% do imóvel, a dica é quitar o máximo a vista. “A taxa de juros está sempre contra de quem precisa”, diz e acrescenta: “melhor é não financiar, mas se for financiar, a casa própria é melhor do que buscar crédito para trocar de carro, por exemplo. Para cartão de crédito então, nem pensar”, diz.
A Caixa é líder no mercado imobiliário, detendo atualmente cerca de 70% de participação. O banco fechou 2017 com saldo na carteira imobiliária de R$ 421,7 bilhões. Segundo o presidente da Caixa, Nelson Antônio de Souza, o objetivo da redução das taxas de juros é oferecer melhores condições para os clientes, além de contribuir para o aquecimento do mercado imobiliário e suas cadeias produtivas.