Cultura

O  que te parece a política cultural de nossos museus?

Neste 2018, ano de eleições, e o Museu de Arte de Mato Grosso, Museu Histórico de Mato Grosso, MISC e o Museu da Caixa D’Água Velha, entre outros: FECHADOS.  Revezando entre Estado e Prefeitura, fica difícil perceber quem tem mais desinteresse, capacidade para alterar a gestão ou chancela para executar mudanças. Fica até confuso distinguir quem erra mais ao manter esses aparelhos socioculturais fechados. Na internet e na agenda das noites, um misto de programações culturais espontâneas levantadas por voluntários e artistas que trabalham por hobby desfoca o que deveria ser uma política cultural sólida para com essas edificações . Onde o papel econômico dos profissionais desta região deveria ser considerado como engrenagem de crescimento a médio e a longo prazo, leem-se agora eventos com moeda de voluntariado, tudo como décadas atrás. Vai lá escutar um som, ver um varal com desenhos, tomar uma breja, comer um pastel e ouvir uma prosa. A referência de um museu com projetos expográficos desenhados em sincronia com seus conteúdos, preocupados com visitas escolares, engajados com Secretaria de Educação, Turismo, entre outras, começa a virar projeto inacabado do passado. Nosso primeiro grito em ano de eleição vai para os MUSEUS FECHADOS. E o diálogo aqui inicia assim, com palavras de nossos leitores, experiências diversas de cidadãos da nossa região.

 

A primeira vez é sempre aquela que causa maior impacto. Sobre museus, meu primeiro deslumbramento, como diriam alguns poetas, foi no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro pela proximidade com um horizonte do Aterro do Flamengo, pela brisa marinha signos que emolduravam as belas obras que lá estavam. Em seguida o Masp mostra na Av. Paulista a riqueza do acervo considerado um dos mais importantes da América do Sul. Necessário fôlego para enfrentar a riqueza das obras dos grandes como Van Gogh e dos nossos como Anita Malfatti. Museu que inserto em São Paulo é um ícone da trepidante capital. Assim fui acostumando o meu olhar às belezas que tornam a atenção cada vez mais aprimorada. Porém ainda faltavam outros ícones, quais sejam: O MoMa em New York, o Espaço de Arte Contemporânea da cidade de Montevidéu e o Museu de Arte Contemporânea de Niterói. O visual deslumbrante da verticalização do MoMa é, sem dúvida, uma semiose com a própria cidade de New York que arranca de dentro das profundas reflexões momentos de ascender às artes. Os seus espaços convidam ao apreciar um Monet ou Matisse, dentre tantos, o apuro visual. A surpresa quando visitei o Espaço de Arte Contemporânea de Montevidéu foi saber que adentrava uma antiga edificação que tinha sido um cárcere. As obras colocadas em celas mostram a possibilidade do voo e da liberdade que as pinturas possibilitam. E por fim o cálice ou o disco voador que é a arquitetura de Oscar Niemeyer para o Museu de Arte em Niterói conduz nossa admiração para um patamar de pura e elevada construção estrutural da estética. Pois bem, para mim os meus encantos/espantos nos museus ao longo do meu viver apontaram para lá dos objetos e obras de arte.   Em verdade, o que é importante, além de um espaço dedicado à guarda das relíquias, é saber que cada cidade tem nesse locus a sua identidade: a amplidão e a paisagem carioca no MAM, O trepidar paulista no Masp, a verticalização no MoMa, o espírito libertador no Espaço Contemporâneo de Montevidéu e a busca de uma poética sonhadora no edifício de Niterói, museu em pleno voo!

Marília Beatriz Figueiredo Leite, Escritora Imortal da Academia Mato-grossense de Letras

Vejo os museus, as galerias de obras de arte, os arquivos e outros espaços  públicos que guardam a memória histórica, cultural e artística como um dos mais importantes e significativos espaços da cidade, pois, como professor, esses espaços públicos representam uma aula cujo conhecimento pode ser importante para a educação de jovens e crianças, afinal de contas, a maior parte dos estudantes desconhece o patrimônio histórico-cultural da cidade. Como educador, também acredito que esses espaços fomentam um outro olhar à cidade, nos vários eventos que o Colégio Fato realiza, local em que atualmente trabalho e desenvolvo  minhas atividades como professor, levo meus alunos a conhecer locais que guardam a memória, e grande parte fica fascinada ao conhecer objetos, documentos, obras de arte, esculturas, fotografias, músicas e tantos bens culturais importantes para a história do passado presente da capital e de Mato Grosso.

Maurim Rodrigues Costa, historiador, mestrado UFMT, professor e pesquisador

 

Museu é  um bem valioso e eu só  não consumo mais porque é escasso por aqui. Mas sempre que tenho oportunidade vou. Em viagem,  elejo,  prioritariamente, sempre dois lugares para visitar: mercados públicos, pois lá se conhece os insumos e hábitos alimentares de um povo e os museus, onde se acessam as riquezas históricas e projeções de uma cultura.  Em  Lima, visitei o Museu da Gastronomia, do Pisco e do Chocolate, iguarias que desenham  e muito bem expressam a alma daquele maravilhoso país andino. Vale lembrar que naquela capital existem outros  museus fantásticos a serem visitados, o Museu  Arqueológico Rafael Larco Herrera, o Larco Museo, uma construção do século XVIII,  edificada em uma pirâmide pré-colombiana, que abriga um acervo particular com  45 mil peças de cerâmicas, retratando o erotismo e a vida dos povos  pré-incas e incas por mais de 10 mil anos. Lima abriga também o museu do renomado fotógrafo Mário Testino – Mate,  e o Museu do Ouro. Outra capital sul-americana gostosa para se estar e encontrar bons museus é Bogotá,  com seu espetacular  Museu do Ouro e o Museu Botero, que reúne obras do colombiano Fernando Botero.  Na minha  última viagem à China, em Shanghai, visitei um museu privado, dentro de uma fábrica de alimentos, chamada Totelé , reunindo a história cronológica dos humanos e seus meios de alimentação daquele país e o Museu do Planejamento Urbano, um espaço impensável de se encontrar semelhante em terras sul-americanas. Na Alemanha, em Stuttgart, visitei o Mercedes-Benz Museum  e o Museu da Porsche. Nas capitais brasileiras, sempre que tenho oportunidade, procuro conhecer esses espaços que trazem nossa herança  aos dias de hoje. Importante dizer que nem todos os museus que visitei são pomposos e ricos. O Museu do  Pisco, por exemplo, é um pequeno lugar, mais parecido com um bar,  onde as pessoas chegam para conhecer a história e degustar a bebida de bandeira branca e vermelha. No mesmo estilo é apresentado o Museu do Chocolate. E o mais importante: eles existem e  estão sempre com seus espaços  disputados  pelos milhares de turistas que  passam por suas ruas todos os dias. Mas quem constrói os museus?  Penso que sejam pessoas que amam  suas culturas,  suas cidades,  suas civilizações, seus feitos. São visionários que respeitam  as relíquias, as relações do tempo com a evolução e querem guardá-las como meio pedagógico às futuras gerações.  Museus são espelhos do passado que refletem o  presente e norteiam o futuro. São pegadas da natureza  que vão sendo materializadas pela humanidade. Os museus  são as  impressões  digitais da história e  por isso são vitais para a formação e manutenção de sociedades sadias e prósperas.

marta torezam, jornalista.

 

“Só se entende um Estado através de sua produção afetiva, de sua produção de arte, que forma sua imagem” (Amir Haddad, diretor e encenador).

Quando pensamos em cultura, o poder da imagem se sobrepõe no nosso campo visual mental, e todas as “figuras” que acumulamos na nossa memória tornam-se referência para determinados gatilhos mentais que assim caracterizam aquilo que fixamos de imagem sobre determinado assunto ou tema. Essa memória se transfere para os lugares, os países, as cidades, bairros ruas etc. Então, quando falamos Recife, imediatamente uma imagem visual de todo o repertório que foi fixado sobre o significado da palavra Recife aparece na nossa mente. E claramente a imagem da cultura e da arte de um lugar é sua referência inicial para quem imagina ou relembra um território. Portanto a importância da arte, sempre aliada à educação, e a presença necessária de um Museu de Arte, fortalece e apresenta fortes referências visuais sobre a cultura que o povo do Mato Grosso cria e produz, é esta imagem que perpassa tudo que poderíamos resumir da cultura de um povo e que sempre terá lugar nas nossas lembranças, e que serão somadas a novas imagens e novas referências. Museu não é só guarda e proteção de um acervo, é também espaço para desenvolvimento, espaço para dinamizar a educação, e revelar novas formas de expressão.

Jeff Keese, Arquiteto E especialista em museografia e montagem de exposições

 

Quando entro num Museu sempre fico com a impressão de que é acionado um radar do tempo, que vasculha todos os momentos de arte e da vida, sempre recolocando o tempo presente em que vivemos. Este radar revela que através deste espaço de cultura, a arte e a educação podem oferecer o aprendizado de uma nova forma de olhar para o mundo e para o lugar que vivemos. Entrar num Museu também pode oferecer um momento único, em que podemos sentir muito facilmente a liberdade de pensar e de criar. Quando pensamos sobre este lugar “Museu”, sabemos que é um equipamento social de extrema importância, e muito mais que salvaguardar a identidade de um povo, o Museu pode dialogar com o desenvolvimento humano e econômico de um local.  Por isso, além de todos os aspectos fundamentais, o Museu é também um espaço para educação, e esta presença pode criar uma referência regional, um instrumento de integração com os países vizinhos na América do Sul, que afinal são tão próximos de nós, favorecendo o rico intercâmbio de cultura e de arte.

Magna Domingos, Jornalista, produtora e especializada em gestão cultural

 

 

 

 

 

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