A Petrobras registrou lucro líquido de R$ 266 milhões no 3º trimestre, informou a estatal nesta segunda-feira (13), revertendo o prejuízo de R$ 16,4 bilhões do mesmo intervalo do ano passado. Contudo, o resultado veio abaixo das expectativas do mercado, prejudicado por gastos não previstos com provisões para perdas na Justiça e despesas com a adesão ao programa de regularização tributária (Refis).
O lucro foi 16% menor que no trimestre anterior, quando a petroleira teve ganhos de R$ 316 milhões. No primeiro trimestre, o lucro foi de R$ 4,45 bilhões. Com o resultado do período, a estatal já soma quatro trimestres consecutivos de ganhos.
Gastos extraordinários reduziram lucro
O lucro do terceiro trimestre veio bem abaixo das estimativas do mercado, prejudicado em especial por gastos extraordinários (não previstos) que somaram R$ 3,3 bilhões no período. Pelo consenso do mercado, a Petrobras deveria ter tido um lucro de R$ 3,2 bilhões.
Pesaram nesta conta os pagamentos para aderir a programas de regularização fiscal, de R$ 1,030 bilhão. Somente o Refis, que renegocia as dívidas do governo federal, representou uma despesa de R$ 900 milhões no período, segundo o diretor financeiro da estatal, Ivan Monteiro.
A empresa também aumentou seus gastos e provisões para despesas judiciais no segundo trimestre, um impacto de R$ 1,061 bilhão. A Petrobras é alvo de ações na Justiça brasileira e estrangeira de acionistas minoritários que tentam conseguir indenizações pelo envolvimento da empresa com esquemas de corrupção revelados na operação Lava Jato.
Outros gastos vieram do impairment (revisão para baixo do valor de ativos) no valor de R$ 222 milhões, bem inferior aos R$ 15,7 bilhões que derrubaram o lucro no mesmo período de 2016.
Outros resultados
No acumulado do ano, a estatal registra lucro líquido de R$ 5,031 bilhões, ante um prejuízo de R$ 17,3 bilhões. O presidente da estatal, Pedro Parente, avaliou como “muito positivo” o resultado acumulado dos três trimestres deste ano.
A receita de vendas foi de R$ 71,822 bilhões no terceiro trimestre, 7% superior ao segundo trimestre (R$ 66,996 bilhões). O resultado foi puxado pelo aumento de 8% da receita no mercado interno.
O lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda) ajustado somou R$ 19,223 bilhões no terceiro trimestre, ante R$ 22,262 bilhões no mesmo período do ano passado.
Fatores que pressionaram o resultado, segundo a Petrobras:
Aumento das exportações de petróleo e derivados, a preços mais altos;
Menores margens e volume de vendas de derivados no Brasil;
Redução de gastos com pessoal e com baixas de poços secos e/ou subcomerciais;
Ganho com a venda da Nova Transportadora Sudeste (NTS) no segundo trimestre; a estatal vendeu a unidade de gasodutos para um consórcio liderado pela Brookfield, por cerca de US$ 5,2 bilhões.
Redução do impairment de ativos (baixa contábil pela redução do valor);
Maiores gastos com programas de regularização de débitos federais e despesas judiciais
Endividamento menor
A dívida líquida da companhia caiu 11% em relação ao mesmo período de 2016, passando de R$ 314,1 bilhões ao fim do primeiro semestre de 2017, para R$ 279,2 bilhões. O prazo médio da dívida cresceu de 7,46 anos em 31 de dezembro do ano passado para 8,36 anos, e o custo da dívida caiu 6,2% ao ano para 5,9% ao ano na mesma comparação.
“A gente já começa a colher os benefícios dos pré-pagamentos, então está havendo uma redução do endividamento”, destacou o diretor financeiro da companhia, Ivan Monteiro.
Segundo Monteiro, essa redução deve-se à postergação de atividades de construção de FPSOs, do Gasoduto Rota 3 e ajustes no cronograma de Tartaruga Verde; a redução de tarifas de embarcações de apoio e maior eficiência nas atividades de revitalização de plataformas.
Resultado operacional
Dos resultados operacionais da companhia, a diretora de Exploração e Produção da Petrobras, Solange Guedes, destacou a produção no campo de Marlim, na Bacia de Campos. Lá, foi encontrado “óleo de muito boa qualidade”.
“Estamos muito felizes de compartilhar mais uma vez com vocês os bons resultados da produção no pré-sal. Ele não é só mais um resultado positivo no pré-sal, com o mais expressivo na Bacia de Campos”, destacou Solange.
Dividendos
Questionado sobre o possível retorno do pagamento de dividendos (parcela do lucro da companhia distribuída aos acionistas), Ivan Monteiro afirmou que "dependendo do resultado da final, se for positivo, sim, a companhia voltará a pagar dividendos”.
Sobre os dividendos, Parente disse que "nós gostaríamos muito de pagar o mais rápido possível. Queríamos ainda este ano, mas ainda não sabemos se será possível".
Em 2015, a estatal anunciou que deixaria de pagar dividendos aos acionistas, em meio a fortes perdas financeiras associadas aos escândalos da operação Lava Jato. Na ocasião, a petroleira informou que a medida servia para preservar o caixa da estatal.
Reestruturação e venda de ativos
Para melhorar suas finanças, a estatal cortou investimentos e iniciou um programa de venda de ativos. Desde 2015, a Petrobras, a Petrobras já levantou R$ 42,5 bilhões (US$ 13,6 bilhões na conta em dólares) em negócios fechados.
Embora ainda não tenha fechado nenhuma nova venda em 2017, a Petrobras ainda prevê arrecadar mais US$ 21 bilhões até 2018 (o equivalente a mais de R$ 65 bilhões) no seu plano de desinvestimentos.
Entre as operações mais aguardadas, está a oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da BR Distribuidora, prevista para ocorrer ainda neste ano.
Ações da Petrobras
No fechamento dos mercados, as ações preferenciais (com prioridade na distribuição de dividendos) da Petrobras caíram 0,48% e as ordinárias recuaram 0,29% nesta segunda-feira (13), em sessão sem rumo para os preços do petróleo no mercado internacional.
No ano, as ações preferências da Petrobras acumulam alta de mais de 11%. A petroleira segue como a 3ª maior em valor de mercado na Bovespa,atrás de Ambev e Itaú Unibanco, com os papéis avaliados em cerca de R$ 224 bilhões.
A máxima histórica das ações foi registrada no dia 21 de maio de 2008, quando a estatal atingiu na Bovespa valor de mercado de R$ 510,3 bilhões, segundo a Economatica.
Nova política de preços
A Petrobras adotou neste ano uma nova política de preços para a venda de combustíveis e gás de cozinha. Desde julho, a estatal passou a fazer ajustes mais frequentes na gasolina e no diesel, com o objetivo de reconquistar participação no mercado doméstico.
Parente admitiu que a companhia perdeu participação no mercado interno. “O país vive uma nova realidade, que é positiva para o país, mas que sem dúvida impacta no nosso resultado que é o aumento das importações. O nosso market share neste período diminuiu”, disse o presidente.
O diretor de Refino e Gás Natural, Jorge Celestino, disse que a companhia fechou o trimestre com 73% do mercado de diesel e 83% da gasolina.