Pessoa de confiança do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), Silvio César Araújo relatou em sua delação que como chefe de gabinete chegou a utilizar cheques pessoais para cumprir a “missão” de pagar propina a parlamentares da Assembleia Legislativa.
À Procuradoria-Geral da República, que firmou o termo de delação com o ex-chefe de gabinete, ele afirmou que em várias situações teve de deixar seus cheques em garantia para conseguir os recursos necessários ao esquema. Por ser responsável por angariar e distribuir o dinheiro arrecadado, Silvio tinha muito contato com os operadores financeiros do grupo criminoso.
Na delação firmada no dia 9 de agosto pelo ministro Luix Fux, do Supremo Tribunal Federal, Silvio relata que sofria pressão de deputados por conta dos atrasos nos repasses referente ao MT Integrado, sob responsabilidade do ex-secretário-adjunto da Secretaria de Estado de Transporte e Pavimentação Urbana (Sinfra), Valdísio Juliano Viriato.
A tensão teria feito com que o braço direito de Silval buscasse outros meios para conseguir o dinheiro, até que o então secretário viabilizasse o dinheiro.
Dois cheques no valor de R$ 150 mil, cada, foram dados como garantia por Silvio em um empréstimo de R$ 300mil que fez com o empresário Wanderley Torres, dono da empreiteira Trimec. Por não ter pago o empréstimo Wanderley depositou os cheques de Silvio que foram devolvidos por não ter fundo.
“Nesse contexto, o colaborador também pegou trezentos mil reais emprestados com Vanderlei (Trimec) para pagar os deputados sem, no entanto, explicar a Vanderlei para que seria o dinheiro. Como não pagou, Vanderlei depositou os cheques pessoais de Silvio que haviam sido deixados em garantia (cento e cinquenta mil reais cada), os quais foram devolvidos sem fundos pelo banco. (depositados em nome da empresa Catedral Empreendimentos, de propriedade de Vanderlei). Esclareça-se que tais cheques nunca mais voltaram ao colaborador, ou seja, ele sequer sabe se os valores foram ou não pagos a Vanderlei”, diz trecho do documento.
Em relação a quebra de sigilo bancário feita em suas contas, o ex-chefe de gabinete afirma que que os depósitos e transferências feitas em sua conta não se relacionam a fatos criminosos e, inclusive, se dispôs a fazer uma análise criteriosa do relatório do parecer feito pelos órgãos investigatórios, para lembrar detalhes de cada operação.
Cheque de R$ 1 milhão
Sobre o cheque sem fundo no valor de cerca de R$ 1 milhão que foi devolvido é oriundo de um empréstimo feito com a Junior, da Lenda Turismo. Desses valores R$ 450 mil, seria de empréstimo que utilizou para comprar Títulos da Dívida Agrária (TDA), no entanto nunca foram passados para seu nome.
Já o restante do valor, em torno de R$ 400 mil, foram negociados com um advogado identificado como Davi, que trabalhava com as cobranças da factoring de Janio, que viabilizou tais valores para pagamento dos deputados estaduais.
Arrecadador de propina
Na decisão que determinou a soltura de Silval Barbosa proferida pela juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, Silvio Cézar, que também estava preso, já tinha afirmado que atuou como arrecadador de propina no esquema em que visava saldar dívidas de campanha adquiridas na campanha eleitoral do peemedebista no ano de 2010.
Silvio declarou que durante as eleições de Governo, chegou a receber pessoalmente algumas doações extraoficiais em dinheiro de empresas para a campanha, caracterizando caixa 2. “Sempre a pedido do seu chefe Silval”, conta na decisão.
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