A diferença de salário entre homens e mulheres com 16 anos ou mais em Roraima é a menor do Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O desequilíbrio é de R$ 38 a menos para o sexo feminino, o que representa 2,25% do rendimento total.
Neste sábado (26) é celebrado o Dia Mundial da Igualdade Feminina. Os dados da Pnad 2015, a mais recente e completa, revelam que o rendimento médio dos trabalhadores com 16 anos de idade ou mais no estado é de R$ 1.669, tendo como base as pessoas ocupadas em trabalhos formais e informais. Deste total, os homens faturam uma média de R$1.684 e as mulheres, R$ 1.646.
Apesar de receberem um salário menor, na média geral do estado, em alguns setores essa realidade feminina pode mudar. No funcionalismo público e militar de Roraima, por exemplo, a mulher chega a ganhar R$ 76 a mais que os o homens, enquanto que, na iniciativa privada, elas faturam uma média de 15% a menos em relação ao gênero masculino.
Segundo a Pnad, homens com carteira assinada no estado recebem em média R$ 1.335, e as mulheres, R$ 1.127, uma diferença de R$ 208. Sem carteira assinada, os valores aumentam e os homens passam a receber R$ 1.358, enquanto que as mulheres recebem R$ 1.268.
O superintendente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em Roraima, Leonardo Sabóia, explica que a diferença de salários entre os gêneros é mais perceptível no setor privado, mas que o funcionalismo público é o setor que melhor representa o estado em relação à igualdade de salários.
"Na iniciativa privada, o homem ganha mais que a mulher, porque o empregador tem a opção de quem ele vai empregar ou não. No funcionalismo público e militar, não há a opção de escolher quem empregar ou o salário que será pago. O peso do serviço público acaba se tornando mais propício para essa igualdade de oportunidades", diz.
Dados do IBGE apontam ainda que 23% das mulheres roraimenses atuam nas áreas da educação, saúde e serviço social. Logo em seguida, com 18%, aparece o setor de comércio e reparação. A maior parte delas tem entre 30 e 39 anos.
O levantamento também mostra que o grau de escolaridade influencia diretamente no rendimento do trabalhador, ou seja, quanto maior o nível de instrução, maior é o salário.
Sabóia afirma que o rendimento entre pessoas com o nível fundamental e o superior incompleto são baixos, mas pode apresentar uma variação de mais de 250% "simplesmente por ter a conclusão do curso de ensino superior".
A professora Lorena Dourado, de 44 anos, atua tanto no serviço público como no privado e falou ao G1 sobre a diferença entre os setores. Ela disse que, hoje, os salários estão bem equiparados, mas há alguns anos os colegas de trabalho homens ganhavam o dobro que as mulheres para dar aula.
Lorena afirmou ainda que, apesar das mulheres serem a maioria no serviço público e receberem a mesma quantia que um homem, no setor privado isso não ocorre porque os grandes cargos acabam sendo ocupados pela figura masculina.
"Fazemos ainda a nossa função de mãe, esposa, dona de casa e ainda temos que sofrer de ter que receber menos que os homens? Será que eles recebem mais porque são menos ou porque são melhores? A questão deles serem melhores, com certeza não, porque se eles fossem melhores nós não teríamos tomado conta do mercado."
Construção cultural
Para a integrante do Núcleo De Mulheres De Roraima (Numur), Sophia Moura, a diferença salarial entre os gêneros é uma consequência da cultura de confinamento da mulher.
"Nos primórdios, as diferenças biológicas não resultavam em hierarquia entre gêneros, e ambos trabalhavam e cumpriam tarefas complementares para a sobrevivência de todos", declara.
Embora as mulheres tenham ampla oportunidade de condições de emprego, o atraso histórico-cultural que se impôs ao longo de séculos justifica os dados que apontam que elas ainda são maioria no mercado de trabalho informal, conta.
"Isso ocorre porque faltam infraestruturas adequadas que propiciem a inserção da mulher no mercado formal, a exemplo da construção de creches, nas quais possam deixar seus bebês enquanto vão ao trabalho", conclui Sophia.