O cabo da Polícia Militar Gerson Luiz Ferreira Correa Júnior ganhou experiência em escutas telefônicas no período em que atuou no GAECO (Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado). Por esse motivo foi escolhido “a dedo” pelo ex-comandante da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, Zaqueu Barbosa, para atuar na organização criminosa que praticou escutas clandestinas em Mato Grosso.
A informação consta na ação penal resultante da denúncia feita pelo Ministério Público Estadual (MPE) e inserida contra cinco policiais militares envolvidos no escândalo conhecido como “grampolândia pantaneira”.
No Gaeco, relata o desembargador Orlando Perri, o cabo Gerson adquiriu know-how e expertise na área de escutas telefônicas ao ponto de desenvolver um sistema próprio para o fictício Núcleo de Inteligência da Polícia Militar.
Gerson era subordinado ao coronel Evandro Alexandre Ferraz Lesco, então diretor de Inteligência do Gaeco, e que foi o responsável por apresentar o cabo ao coronel Zaqueu. Na época, Zaqueu se dizia empenhado em implantar um importante projeto para “limpar a PM” por meio da escuta de conversas telefônicas de policiais militares envolvidos em atos ilícitos, mas que na verdade era apenas para “vasculhar a intimidade de algumas pessoas”.
Apesar da patente inferior, o desembargador Orlando Perri concluiu que o cabo Gerson Correa, ao invés de papel secundário ou de coadjuvante na organização foi extremamente relevante para o sucesso da empreitada criminosa.
“Guardadas as devidas proporções, seu papel foi de igual – ou quiçá, até maior – importância que a função exercida no grupo pelo coronel Zaqueu Barbosa. Digo isso porque, quando resolveu implantar o malsinado Núcleo de Inteligência, Zaqueu determinou ao coronel Lesco que apresentasse a ele o cabo Gerson em razão de sua expertise na área de inteligência e sobretudo de escuta telefônica”, relata o relator.
O cabo Gerson recebeu das mãos do coronel Zaqueu duas placas Wytron e, com apoio técnico do cabo Euclides Luiz Torezan, instalou o equipamento e passou todo o mês de setembro de 2014 ouvindo diversas conversas em uma sala comercial alugada, por ele próprio, no Edifício Master Center.
Gerson apresentava o resultado de seus trabalhos, por meio de relatórios, a Zaqueu. “Tamanha era a participação do cabo Gerson que, em meados de outubro de 2014, ele se dirigiu ao coronel Zaqueu solicitando reforço para a equipe, porque não estava conseguindo ouvir todos os áudios”.
A partir daí, o desembargador Orlando Perri concluiu que se a ideia da criação do grupo criminoso partiu do coronel Zaqueu, o sucesso somente foi possível devido ao emprenho demonstrado pelo cabo Gerson, responsável por operacionalizar, orientar, instrir os demais policiais que receberam o encargo de ouvi os áudios. “Enfim, administrar o Sistema Sentinela”, que foi desenvolvido pela empresa SIMPLES IP.