Mais de 60 membros de organizações criminosas tiveram mandados de busca, apreensão e prisão, cumprido nas primeiras horas desta quinta-feira (17). A Polícia Judiciária Civil desencadeou a operação “Ares Vermelho”. Em Mato Grosso quatro principais membros da organização criminosa Comando Vermelho (CV-MT) comandava o esquema de roubos e furtos de veículos de dentro do presídio. A estimativa de lucro seria de R$ 1,2 milhão no curto tempo da investigação.
Segundo as informações, o CV-MT mantêm alianças com facções dos Estados de Rondônia (CV-RO), Santa Catarina (Primeiro Grupo Catarinense), Rio Grande do Norte (Sindicato do Crime do Rio Grande do Norte) e Amazonas (Família do Norte). O objetivo principal era roubos e furtos de veículos, que somaria dinheiro para fortalecimento das facções.
33 mandados de prisões foram cumpridos somente em Cuiabá, sendo que outros sete foram em outros municípios do estado. Cinco mandados de prisões foram cumpridos em Campo Grande (MS) e outros seis em Rondônia. Somente em Mato Grosso, estima-se que hoje o CV-MT tenha mais de três mil membros pertencentes a facção, trabalhando para o crime.
A Polícia Civil realizou uma investigação que durou cerca de três meses, e descobriu nesse período de tempo, 35 eventos criminosos envolvendo roubos de veículos, receptação e manobras financeiras de aberturas de contas para depósitos, transferências e saques de valores em bancos, além de ocultação e o comércio de veículos subtraídos e clonados.
Em coletiva na manhã desta quarta-feira, na sede da Polícia Civil na Capital, o secretário de estado de segurança pública (Sesp),Rogers Jarbas, informou que os presos identificados hoje como os “cabeças” do esquema, deverão ser transferidos para um presídio federal, ou até mesmo para cidades distantes do interior do estado para tentar evitar a falta de comunicação deles com outras pessoas.
“Diferentemente do que aconteceu em 2014, hoje temos um aparato melhor de segurança e controle, para que mesmo com a transferência destes detentos ao interior não haja o aliciamento de novos criminosos e aumento da rede da facção em Mato Grosso”, garantiu o secretário.
Questionado sobre a construção de novos presídios, o secretário afirmou que o governo irá realizar um investimento de R$ 42 milhões, com recursos do Ministério da Justiça, para construção e reformas de presídios, pois há um déficit de vagas no estado.
Atualmente o estado comporta 7.500 presos e conta com mais de 11 mil detentos, e existem mais de dois mil criminosos fazendo o uso de tornozeleira eletrônica. Há também a conversa para a construção do presídio federal no estado.
O secretário aproveitou para falar, que o estado, por meio da Secretaria de Justiça de Direitos Humanos (Sejudh), adquiriu um equipamento para fazer o bloqueio de aparelhos celulares nas unidades prisionais.
“Este equipamento não chegou ainda, e em breve será testado nas unidades. Ele é um aparelho móvel que além de bloquear o sinal de celular pode ter outras funções. Acreditamos que em torno de 30 a 90 dias estará finalizado os testes e ainda este ano sendo usado nas unidades prisionais que serão escolhidas em breve”.
Operação
A operação Ares Vermelho estima que o grupo criminoso tenha sido responsável por 60% dos roubos e furtos de veículos automotores ocorridos nos três meses da apuração. No período da operação foram contabilizados 682 roubos e furtos de veículos (410 roubados e 272 furtados), sendo atribuído a organização 409 veículos roubados ou furtados na região metropolitana.
Os mandados de prisão, busca e condução foram expedidos pela 7ª Vara Criminal da Capital – Vara Especializada do Crime Organizado, na investigação comandada pela Delegacia Especializada de Repressão a Roubos e Furtos de Veículos Automotores (DERRFVA), em parceria com a Diretoria de Inteligência da Polícia Civil.
Foram identificados como cabeças do esquema em Mato Grosso, os detentos Luciano Mariano da Silva “Marreta”, Edmar Ormenezi “Mazinho”, Robson Pereira de Jesus “Carcaça” e Vagner Silva Moura “Belo”, todos detidos na PCE.
O contato entre eles os criminosos na rua e membros de facções de outros estados era feita por celulares e redes sociais. O trabalho investigativo, se deu por meio de uma inovação tecnológica investigativa, acompanhou as ações e planos da organização em redes sociais.
“A investigação só foi possível após um trabalho inédito realizado no Brasil, que conseguimos monitorar e rastrear as conversas que eles mantinham, por meio do aplicativo de celular WhatsApp, e aí nesse tempo, monitoramos as conversas e ações do bando”, disse o delegado que esteve a frente das investigações Marcelo Martins Torhacs.
O ganho na revenda ou troca dos veículos de origem criminosa rende, em média, R$ 3 mil para os envolvidos. Caso não tivesse ocorrido à recuperação de 90% dos veículos subtraídos em Cuiabá e Várzea Grande, em ação das forças policiais.
Membros do grupo criminoso com maior habilidade de conversação eram incumbidos de conversar diretamente, via fone ou whatsapp, com as vítimas, escolhidas dentre os anunciantes de veículos na internet (OLX, Webmotors, usado fácil e congêneres) e, normalmente, buscam por modelos de veículos de comercialização rápida e fácil.
A “caixinha”, tipo de reserva financeira organizada, originada de depósitos de diversos criminosos de várias localidades para fomentar o crime nacional e promove a aliança entre a facção criminosa de Mato Grosso com facções de outros estados, principalmente, Rondônia, Santa Catarina, Rio Grande do Norte e Amazonas. Com essa reserva, segundo o delegado Adriano Henrique Sanches dos Santos, presos iam mantendo em contas clandestinas, para caso algum criminoso fosse pego em ato ilícito, a família do detendo do lado de fora, recebesse um auxílio financeiro, enquanto a pessoa ficasse presa. Seria uma espécie de seguro desemprego, a família dos criminosos.
Participam da operação 200 policiais civis (investigadores, delegados e escrivães) da região metropolitana, com emprego de 67 viaturas policiais e dois helicópteros do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer), além dos policiais das delegacias da Diretoria do Interior e Metropolitana que apoiam a operação nas cidades de Jaciara, Rondonópolis, Barra do Garças, Sinop e Chapada dos Guimarães.
Nome – “Ares” remete ao deus grego das guerras, da guerra selvagem com sede de sangue, daí o complemento “vermelho”, devido a cor.